- Há spoilers. Leiam, aqui, as críticas dos demais episódios.
Cansei. 51% foi a gota d’água para mim nesta terceira temporada de Titãs, pois revela de uma vez por todas que Greg Walker não tem ideia do que está fazendo e parece seguir a lógica do “vale tudo” sem um planejamento minimamente cuidadoso sobre como as coisas devem caminhar. Tenho certeza que não conseguirei abordar, na presente crítica, tudo o que tenho para falar de negativo sobre o episódio, já que é praticamente tudo, pelo que vou começar pelo único elemento positivo que, mesmo assim, não é completamente positivo.
Falo, claro, da reunião de todos os Titãs em uma sequência de ação, algo que não acontecia desde o primeiro episódio e que serve para nos lembrar, ainda que de forma canhestra, que às vezes a série é mesmo sobre o grupo de jovens super-heróis e não somente um derivado do Batman focado em Dick Grayson. O problema é que essa sequência, bem no finalzinho do episódio, não só é curtíssima, como chega a ser ridícula a incapacidade da produção em usar o potencial dos personagens, quase como se a equipe criativa tivesse receio de usá-los com seus uniformes e poderes. Estelar usa seu poder uma única vez, Mutano sequer se transforma no seu usual tigre verde, Estrela Negra é figurante de luxo juntamente com Superboy, deixando Krypto com o maior destaque de todos atrás de, claro, você adivinhou, Asa Noturna que tem lá seus segundos de pancadaria com seus bastonetes eletrificados.
O restante do episódio é, só para resumir, uma vergonha completa. E a vergonha das vergonhas é que o grande plano de Jonathan Crane de distribuir suas drogas por Gotham depende única e exclusivamente de ele não ser localizado, pois, uma vez localizado, tudo o que vinha sendo preparado ao longo de todos os episódios anteriores cai por terra imediatamente, com o grande vilão, desesperado, fugindo de seu QG (ex-QG do Senhor Frio) com o rabo entre as pernas e carregando o Capuz Vermelho à tiracolo. E como a série quer nos fazer acreditar que é impossível achar Crane? Simplesmente dizendo que o próprio Homem Morcego não havia sido capaz de localizá-lo da outra vez com seus recursos multimilionários, tendo que recorrer a um completamente descontextualizado mega-hiper-super computador chamado Oráculo que não pode ser mais utilizado em razão de uma liminar obtida pela NSA contra a polícia de Gotham.
Afinal de contas, para se descobrir o paradeiro de bandidos, não se deve fazer investigações, não se deve arregaçar as mangas para interrogar membros do submundo da cidade. Dá muito trabalho, oras! O certo é ter um computador a que você pode perguntar algo como “onde está o Espantalho?” e receber imediatamente uma resposta certeira e, claro, mágica. O Batman nem é detetive não é mesmo? E Dick também não aprendeu a ser um detetive, obviamente, assim como Barbara ser uma comissária de polícia de forma alguma significa que ela sabe investigar alguma coisa e, mais ainda, que ela não tem dezenas de detetives ao seu dispor para fazer esse trabalho. O importante é ter um computador que cuspa as respostas, claro, pois para que se dar ao trabalho de escrever um roteiro decente se os espectadores de Titãs, segundo a produção, são tão burros que jamais perceberão a preguiça patética que foi isso aqui?
Mas, como no caso das facas Ginsu e meias Vivarina, tem mais! Se o Espantalho hackeou o ultra-blaster computador, então a solução é eliminar a inteligência artificial completamente, e de preferência off-screen e de forma instantânea para custar mais barato. Parabéns por sua esperteza, Barbara, pois até o Dick (até ele!!!) percebeu a burrada que você fez… Em outras palavras, o Oráculo é como o Aqualad lá atrás na segunda temporada, um personagem que é introduzido para morrer, sem que haja qualquer consequência para o episódio que não seja aumentar sua minutagem (e olha que esse capítulo é curtíssimo!) e justificar a introdução de Lady Vic no anterior como fotógrafa pessoal do Espantalho, em outra escolha de roteiro que me faz revirar tanto os olhos que mal consigo escrever a crítica. Aliás, falando em Lady Vic, onde anda a vilã? Ou será que ela é outra que, como diria Tyler Durden, é vilã de uso único?
Mas os leitores mais esperançosos, que tentam ver o copo sempre meio cheio, perguntarão: mas Ritter, teve investigação à moda antiga no episódio! Sim, claro, teve mesmo e eu estava gostando, ainda que ela estivesse sendo capitaneada por duas extraterrestres, o que faz tanto sentido quanto usar o Superboy como o especialista em informática da equipe. Cheguei a ter esperanças que essa linha narrativa de Kory e Komand’r resultasse em algo interessante que pelo menos salvasse parte do episódio. No entanto, não só as duas são engrupidas de maneira mais do que óbvia por Valeska Knox (Wendy Crewson), como a reação de Kory é brilhante: incinerar a mafiosa ANTES que ela revelasse o paradeiro de Crane. Excelente, Kory, você e a Barbara já podem ir lá para o cantinho da vergonha juntas!
E os problemas continuam! Querem mais um? Muito simples: Komand’r matou seus pais em legítima defesa, pelo que ela não só merece ser perdoada automaticamente, como, claro, fazer parte oficial dos Titãs. Bacana que Kory aceite só a palavra de sua irmã e mais bacana ainda que já arrumaram um jeito de redimir uma personagem assassina, o que, claro, serve apenas como prelúdio para que o mesmo aconteça com o bom e velho Capuz Vermelho, especialmente agora que Gar (eu nem acredito que ninguém havia ainda revirado o quarto de Jason!!!) entrou em contato com Molly e que, com isso, os dois tentarão descobrir os detalhes do “controle mental” de Crane sobre seu pupilo. Podem anotar aí que o Capuz Vermelho será canonizado até o final desta temporada…
O resumo da ópera é que a reunião do supergrupo ao final de 51% não é nem de muito longe bom o suficiente para chegar próximo de compensar a sucessão de imbecilidades que foram os eventos anteriores e que afetam não só o episódio, mas praticamente tudo o que foi construído na temporada por retirar completamente o status de super vilão que está sempre diversos passos a frente dos heróis do Espantalho, reduzindo-o a mais um personagem perdido em meio a uma série perdida. Na verdade, a única coisa realmente boa que pode ser dito de 51% é que foi um capítulo tão ruim, mas tão ruim, que é estatisticamente improvável que o próximo seja pior. Mas notem que eu disse improvável, não impossível…
Titãs – 3X07: 51% (Titans – EUA, 09 de setembro de 2021)
Showrunner: Greg Walker
Direção: Nick Gomez
Roteiro: Kate McCarthy
Elenco: Brenton Thwaites, Anna Diop, Teagan Croft, Ryan Potter, Curran Walters, Joshua Orpin, Vincent Kartheiser, Damaris Lewis, Jay Lycurgo, Savannah Welch, Wendy Crewson
Duração: 40 min.