- Há SPOILERS. Leia aqui as críticas dos outros episódios.
Antes de falar deste episódio-dejeto, queria pontuar como a primeira temporada de American Horror Stories propõe uma estrutura episódica antológica com histórias autocontidas, mas que, dos sete episódios que abrem os portões do infer… a temporada inaugural da série, três deles são sobre Murder House, incluindo a abertura e a season finale. Ryan Murphy já começou errado na estrutura dada ao conceito da obra, e, infelizmente, esse aspecto negativo é apenas a ponta do iceberg das deficiências do spin-off.
Dito isso, vamos lá tentar exprimir algum tipo de argumento sobre Game Over, ou, em termos mais coloquiais, o excremento audiovisual presunçoso e vazio de Ryan Murphy e companhia. Como eu disse no início do texto, o desfecho da primeira temporada nos leva novamente à casa mal-assombrada que ficou famosa após o sucesso do ano inicial da série original, mas, diferente da dupla de episódios desta série que acompanham uma nova família se mudando para a mansão amaldiçoada, a histórica circunda uma mãe que está tentando fazer um jogo de videogame de American Horror Story para se aproximar do filho que é fã do show (?). Cara… qual é… olha essa premissa… eu nem… É muita bobagem.
Eu acho o início da história até minimamente interessante, enquanto seguimos um casal de fanáticos pelo show irem ao cenário da Murder House. A proposta do episódio é claramente mesclar nostalgia com metalinguagem sobre a série em si, sua base de fãs, mitologia e repercussão mundial. Eu não diria que o começo de Game Over executa muito bem essas ideias, considerando a falta de propósito na ideia metalinguística. Parece muito mais uma sucessão de piscadelas para o fandom e algumas referências cômicas como a de Sarah Paulson falar mal de Roanoke, do que realmente ter algum tipo de objetivo narrativo para além do mesmo ciclo de pessoas idiotas sendo esfaqueadas sem qualquer construção atmosférica de suspense ou terror, algumas reflexões sociais superficiais e as típicas filosofias de boteco… só que com fãs ao invés de “personagens”.
O começo já é ruim, tá bom? Zero horror, sarcasmo infantil e diálogos expositivos sobre a série. É praticamente uma massagem de ego dos próprios criadores para o “legado” de AHS, sem qualquer tipo de finalidade artística. Não é horror, não é crítico, nem paródia ou sátira, não é nada. É um cruzamento vazio entre realidade e ficção com o único impulso de parecer “criativo” já que é uma trama “meta”. Chega a ser cômico o quão ridículo é o roteiro que está desesperadamente querendo soar engenhoso com as quebras de quarta parede, mas que não cria qualquer tipo de argumento ou desenvolvimento para seu contexto.
E, então, quando descobrimos que tudo se tratava de um videogame, o episódio deixa de ser apenas bobo, para não fazer qualquer tipo de sentido. Ficar procurando furos de roteiro e detalhes ilógicos em obras narrativas é um exercício de quem ainda não é maduro o suficiente para consumir arte, contudo, existe um limite para suspensão de descrença quando a total lógica interna da história é incoerente. O casal do início eram personagens de videogame? Certo, é estúpido mas eu aceito. Os personagens da série original, que são reconhecidos pelo fãs, dentro da proposta meta do episódio, eram na verdade reais? Ok, sem nexo, mas posso engolir. Os personagens “reais”, que decidem ir à casa mal-assombrada, também eram parte de um jogo? Qual é, aí os criadores foram inventando as coisas sem pensar de antemão apenas para serem “surpreendentes”. E, no finalzinho de tudo, com a bolinha, a série transcende a “realidade”, dentro de uma realidade que já havia sido transpassada! Socorrooo, nem minha explicação faz sentido!!
Mas, para além dos problemas de logística, repetição narrativa com a nostalgia enfadonha explodindo na sua cara e a completa falta de propósito narrativo, o episódio tem a proeza de ser uma jornada dramatúrgica constrangedora. Primeiro que a mãe é uma criadora de jogos sem qualquer tipo de contexto, com seu “sonho” ser criar um game que custa horrores (he, he) para agradar seu filho mimado, mas o progresso do conflito entre os dois consegue sobrepor a premissa em termos de vergonha alheia. Os diálogos de quinta série, o viés melodramático e a total falta de senso dessa mulher fazem o espectador revirar os olhos a cada minuto. Se não bastasse, o ato final ainda decide trazer um cameo insatisfatório para criar a base terapêutica aguada dessas almas torturadas e o romance de mal gosto das personagens do início da série – por que amor de verdade é quando a pessoa amada te pede pra morrer com ela, certo? E o desfecho ainda tenta embelezar o sadismo das duas novamente!!
Game Over é, ironicamente, inconclusivo. Era para ser um fechamento de Murder House ou era tudo uma piada? Não sabemos, e, honestamente, não quero saber. Este sétimo episódio me passou tanta raiva, que ao terminá-lo eu só conseguia sentir genuína vergonha pela equipe criativa, e a meia estrela acima foi dada apenas pela coragem que Ryan Murphy teve de lançar este destroço artístico após vê-lo. Não tem nada aqui. Não tem terror, suspense, comédia, conclusão, antologia. É uma tentativa vazia de “metalinguagem” cansativa, embaraçosa e convencida. Que jeito de terminar a temporada… Pelo menos me compadeci dos personagens no sentido de que tudo que eu mais queria era escapar de American Horror Stories.
American Horror Stories – 1X07: Game Over | EUA, 19 de agosto de 2021
Criação: Ryan Murphy, Brad Falchuk
Direção: Liz Friedlander
Roteiro: Ryan Murphy, Brad Falchuk
Elenco: Dylan McDermott, Sierra McCormick, Kaia Gerber, Paris Jackson, Merrin Dungey, Mercedes Mason, Noah Cyrus, Adam Hagenbuch, Jamie Brewer, John Brotherton, Nicolas Betchel, Tom Lenk, Selena Sloan, Ashley Martin Carter, Valerie Loo
Duração: 48 min.