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Crítica | Getting Any?

por Kevin Rick
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Apesar de ser globalmente conhecido como diretor/ator de seus filmes contemplativos e violentos, Takeshi Kitano, no Japão, é mais reconhecido por seu trabalho como comediante e apresentador de televisão, utilizando o alter-ego Beat Takeshi. Chega a ser irônico que um cineasta que largamente retrata violência, tristeza e meditação em sua filmografia, é, na verdade, um comediante com estilo de humor pastelão. Aliás, é possível ver uma espécie de humor ácido e deadpan (lacônico) em seus longas, mas em Getting Any?, o artista retornas às suas raízes com a comédia mais, digamos, boba.

Lançado logo após o soberbo Adrenalina MáximaGetting Any? é uma mudança de linguagem drástica para Takeshi, para ficar no eufemismo, deixando de lado seu estilo dramático intimista para criar uma “comédia sexual”. O filme acompanha um personagem obcecado em fazer sexo no carro com alguma mulher, após ter visto um filme – ou seria comercial? – em que um homem dá carona para uma moça e logo depois está transando com ela em um estacionamento – sim, esse é o nível da paspalhice do texto. A premissa do diretor é, basicamente, desenvolver uma espécie de sátira com as atitudes machistas da cultura japonesa em torno da objetificação feminina.

E o começo do filme é na verdade muito bom. Semelhante à Apertem os Cintos, o Piloto Sumiu e às obras do grupo Monty Python, Kitano inicia o filme como uma espécie de paródia com o tom inteligentemente imbecil, só que, aqui, direcionado à masculinidade tóxica e patética da sociedade nipônica, visto nos vários pôsteres de mulheres peladas na casa do protagonista, sua forma lerda de conversar, a obsessão sexual absurda, entre outras características sarcásticas em correlação à crítica social de Kitano. De início, o cineasta japonês constrói sua paródia em uma embalagem slapstick, cheio de pequenas skits com comédia corporal ou então de objetos – especialmente o carro -, proporcionando momentos genuinamente divertidos com o objetivo pateta do protagonista, no qual ele é a piada. O ambiente, os personagens secundários e a narrativa tiram sarro do comportamento estranho do personagem.

Os problemas de Getting Any? começam quando o diretor se distancia dessa construção para continuamente sobrepor o absurdo com algo mais absurdo. Em defesa de Kitano, seria bem provável que o humor do início do filme se esgotaria e ficaria repetitivo na duração de um longa-metragem, mas o comediante tenta resolver isso com a falta de coerência temática. À medida que a história avança, perde-se completamente o teor de sátira e slapstick do filme, adentrando uma espécie de paródia aleatória, indo de filmes de gângsteres e samurais, Caça-FantasmasUltramanaté A Mosca. Tudo bastante superficial, aliás, mais interessante visualmente na caçada de referências do que comicamente.

O viés sexual da sátira e até mesmo o protagonista e sua aventura abobada deixam de importar na colagem de paródias de Kitano, no qual o filme deixa de ser um filme propriamente dito, se assemelhando a um conjunto de esquetes sem relação ou sentido contextual. E o pior, o humor perde o polimento do início do filme, caindo em piadas bobas e pouco sutis, no qual o roteiro satírico explode contra si mesmo com o tom de mal gosto cômico que a obra ganha em seu ato final – até machista, eu diria. Curiosamente, Takeshi Kitano nunca mais dirigiu um filme de comédia neste estilo aqui, consequência, acredito, da inexistente qualidade do diretor em transpor cinematograficamente seu estilo de humor televisivo. Getting Any?, apesar de ter um início interessante, mais parece um experimento arbitrário de seu criador, sem qualquer propósito ou criatividade, prezando pela bizarrice enfadonha.

Getting Any? (みんな~やってるか!, Minnā yatteru ka!) — Japão, 1994
Direção: Takeshi Kitano
Roteiro: Takeshi Kitano
Elenco: Takeshi Kitano, Dankan, Sonomanma Higashi, Tokie Hidari, Shouji Kobayashi
Duração: 108 min.

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