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Crítica | Soldado Universal

por Ritter Fan
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Soldado Universal, longa de razoável para baixo orçamento fortemente inspirado pela obra-prima RoboCop: O Policial do Futuro, de cinco antes, foi o primeiro destaque da carreira do alemão Roland Emmerich como diretor, que viria a comandar Stargate: A Chave para o Futuro da Humanidade dois anos depois e finalmente mergulhar de cabeça na seara dos blockbusters com Independence Day, em 1996. O filme marcou, também, a primeira parceria do diretor com Dean Devlin, que co-escreveu o roteiro e, em termos da carreira de Jean-Claude Van Damme, foi o primeiro filme dele que não gira em torno de uma sucessão de lutas.

A ideia central do roteiro é imediatamente intrigante, com um programa governamental antiterrorista que usa humanos geneticamente alterados, sem memória, com fator de cura e cegamente obedientes a ordens, criados a partir de soldados mortos, com o preâmbulo em 1969, no Vietnã, já estabelecendo os dois lados do conflito, com o recruta Luc Deveraux (Van Damme) tentando impedir o enlouquecido Sargento Andrew Scott (Dolph Lundgren) de continuar matando gente inocente, resultando na morte dos dois. Corta para o presente e o roteiro, sem perder tempo, já reapresenta a dupla de personagens como soldados universais lidando com terroristas em uma represa, com Scott agindo com sinais de psicopatia e Devereaux relembrando os momentos finais de sua vida.

O que segue daí é o padrão de obras como essa, com Deveraux fugindo com a bela repórter Veronica Roberts (Ally Walker) depois que Scott mata seu colega cinegrafista e, enquanto tentam se desenvencilhar de seus perseguidores, passam a tentar entender o que está acontecendo. A inteligência do roteiro é começar grande, com o razoavelmente luxuoso preâmbulo no Vietnã e a interessante ação na represa, somente para, em seguida, com todo o orçamento devidamente gasto, o longa passar a ser apenas uma dupla fugindo de assassinos de elite, sem que necessariamente seja importante que saibamos que se tratam de corpos reanimados e programados para matar. Em outras palavras, Devlin e companhia fazem o famoso bait and switch, ou seja, fisgam o espectador prometendo mundos e fundos, para somente entregar os fundos, por assim dizer.

Mas isso faz parte de filmes com esse tipo de orçamento que são claramente cópias de premissas de obras de grande sucesso (ainda que, por sua vez, eu veja Soldado Universal como a possível principal inspiração de Ed Brubaker para criar seu Soldado Invernal, 13 anos depois) e o comando do espetáculo por Emmerich é preciso e repleto de bons momentos de puro tiroteio e pancadaria que por vezes lembra de longe o estilo de James Cameron no primeiro O Exerminador do Futuro, além de brindar o público com Van Damme peladão (sob a desculpa de que os corpos reanimados precisam ser resfriados) e, claro, uma única sequência alonada de luta ele e Lundgren na chuva. Aliás, os dois atores, normalmente lembrados como os “menores” e menos importantes brucutus dos anos 80, estão ótimos em seus respectivos papeis de violentos soldados de rostos impassíveis que ganham razoáveis traços de humanidade – retorcida, no caso de Lundgren – e acabam convencendo e, mais do que isso, divertindo.

O RoboCop genérico de Roland Emmerich é pura diversão descompromissada que mostra o seu valor ao saber integrar seriedade e pretensão com bobeira e trasheira sem que o longa sofra no processo, conseguindo sustentar-se como algo de razoável qualidade no estilo filme B de ser. Havia a chance, se houvesse orçamento e, mais do que isso, vontade, para trabalhar críticas sociais relevantes muito na linha do que Paul Verhoeven faz, mas fica evidente até pela versão alternativa que foi lançada posteriormente (e que não é objeto da presente crítica) que tudo que o roteiro tinha de um pouquinho mais complexo foi retirado da versão cinematográfica para que o longa pudesse agradar o maior número possível de pessoas, mas sem obrigá-las ao incômodo de pensar muito. Novamente, faz parte do jogo e Soldado Universal sem dúvida consegue ser o trigo no meio do joio.

Soldado Universal (Universal Soldier – EUA, 1992)
Direção: Roland Emmerich
Roteiro: Richard Rothstein, Christopher Leitch, Dean Devlin
Elenco: Jean-Claude Van Damme, Dolph Lundgren, Ally Walker, Ed O’Ross, Eric Norris, Leon Rippy, Michael Jai White, Tommy “Tiny” Lister, Jerry Orbach, Tico Wells, Robert Trebor, Gene Davis, Drew Snyder, Joanne Baron, Allan Graf, Rance Howard, Lilyan Chauvin
Duração: 102 min.

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