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Crítica | Contato Mortal

por Ritter Fan
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Quando o ator principal de um filme, no caso Sho Kosugi, não consegue demonstrar química com seus filhos verdadeiros, Kane e Shane Kosugi, que fazem as vezes de filhos de seu próprio personagem, Ken Tani, codinome Águia Negra, um agente do governo americano em missão secreta em Malta para recuperar um sistema experimental de rastreamento a laser que afundou juntamente com um jato que caiu nas águas territoriais da ilha, é inegável concluir que estamos diante de um problema sério. E isso fica pior ainda quando o vilão, o silencioso e mortal agente da KGB Andrei (Jean-Claude Van Damme curiosamente retornando a um papel de vilão russo como em Retroceder Nunca, Render-se Jamais) que, aliás, quase não aparece, consegue ter muito mais presença do que o protagonista.

Contato Mortal permaneceu compreensivelmente esquecido, pois foi lançado no mesmo ano em que Van Damme despontou em O Grande Dragão Branco, alguns meses antes, criando uma gigantesca sombra sobre essa tentativa de filme de espionagem à la James Bond com baixo orçamento, nenhum roteiro, direção patética de um diretor indigente e um elenco hilário, mas não da maneira boa como no longa de artes marciais do musculoso belga. Com isso, esse esquecimento do filme – que não impediu o lançamento de uma “Versão do Diretor” com mais 10 minutos de duração – foi completamente merecido, já que, mesmo considerando a carreira de baixos com alguns poucos altos de Van Damme, consegue ser o pior filme dele ou pelo menos um forte concorrente a esse posto.

Até mesmo o exotismo monocromático de Malta é mal usado por Eric Karson (o diretor ou pelo menos alguém que se acha diretor). No lugar de no mínimo aproveitar o lado histórico do país ou de trabalhar a fotografia de George Koblasa de modo a destacar as paisagens do lugar, Karson filma tudo fechado, tudo apertado e focado na atuação tenebrosa de Kosugi pai, dentro de uma premissa para lá de idiota em que ele precisa conciliar a perigosa missão com as férias com seus filhos, obviamente arriscando a vida dos meninos. Mas tudo até poderia ser perdoado se a dupla de roteiristas pelo menos tivesse criado uma história interessante de espionagem típica da Guerra Fria, mas o que ela faz é simplesmente estabelecer a premissa e leeeeeeentamente desenvolve-la como uma “missão de um homem só”, sendo que esse homem parece ser a encarnação da incompetência absoluta, mesmo sendo ajudado por outro espião que é padre (uma aleatoriedade qualquer dentro da narrativa que nada acrescenta à história) e pela obrigatória mulher bonita/interesse amoroso/dama em perigo que, na verdade, não é mais do que uma babá glorificada dos meninos e mesmo assim cumprindo muito mal suas funções…

Eu poderia dizer que o filme pelo menos é engraçado em sua trasheira total, mas a verdade é que nem isso ele consegue ser. Com exceção das raras sequências com Van Damme fazendo espacate enquanto atira facas ou lutando – e as coreografias, aqui, são péssimas – o resto é tão modorrento que, quando eu achei que já estava acabando, nem meia hora havia passado dessa tortura cinematográfica. Porque o filme é isso: ele não é ruim porque nada realmente funciona, mas sim porque ele não consegue, sequer por um segundo que seja, fazer com que o espectador pelo menos levante a sobrancelha para demonstrar interesse em algo. A lentidão é fatal, com Kosugi mantendo-se uniformemente desinteressante em razão de um roteiro incapaz de entregar a ele um momento memorável que seja ao ponto de eu ter torcido com todas as minhas forças pelo Andrei de Van Damme.

Não posso dizer exatamente que Contato Mortal é uma mancha na carreira do The Muscles from Brussels, já que o “ator” basicamente tem uma enorme mancha única como filmografia, com aquelas raras exceções que só confirmam a regra, mas o longa de Eric Karson é inafastável e insuportavelmente chato, palavra que não gosto de usar em críticas, mas que, às vezes, não me resta opção. Chato, arrastado, maçante, entediante, cansativo, enfadonho, aborrecido e todos os outros sinônimos possíveis desse conceito são perfeitamente aplicáveis a esta obra que não tem nada aproveitável para além de cinco minutos de Van Damme fazendo suas acrobacias, o que obviamente não vale o preço de se ficar o equivalente mental a 15 ou 20 horas assistindo esse lamaçal em forma de filme. Eu só espero, do fundo do coração, que Kosugi pai, na vida real, demonstre um pouco mais de calor humano para os Kosugis filhos, porque vou te contar…

Contato Mortal (Black Eagle – EUA, 1988)
Direção: Eric Karson
Roteiro: A.E. Peters, Michael Gonzales (baseado em história de Shimon Arama)
Elenco: Shō Kosugi, Jean-Claude Van Damme, Doran Clark, Bruce French, Vladimir Skomarovsky, William Bassett, Kane Kosugi, Shane Kosugi, Alfred Mallia
Duração: 93 min.

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