Grande Ciclo: Via Láctea — Ciclo 1: A Terceira Potência — Episódio: 13/49
Principais personagens: Perry Rhodan, Reginald Bell, Crest, Thora, Sargento Calverman, Thort, Ishi Matsu, John Marshall, André Noir
Espaço: Planetas e Luas do Sistema Vega, em sua ordem de órbita: Ferrol (8º), Rofus (9º), [não nomeado] (38º), [não nomeado] (40º).
Tempo: Junho/Agosto de 1975
Há neste livro uma absurda diferença de condução narrativa em relação a O Segredo do Cofre do Tempo, volume anterior da saga Perry Rhodan. Naquela ocasião, tínhamos uma trama cheia de vitórias e com uma atmosfera que, no geral, poderíamos definir como “simpática, leve e alegre“. Já o presente volume não guardou nada daquela ambientação mais solta e divertida. A Fortaleza das Seis Luas é um livro cheio de ação, mas com um componente técnico tão presente e exagerado — cabendo aí descrições físico-matemáticas ou até mesmo lógicas do funcionamento das naves, em sequências de ataque — que por pouco não me fez desgostar verdadeiramente do livro.
Em suas contribuições anteriores para a série, K. H. Scheer conseguiu criar longas sequências de tensão (A Abóbada Energética), ação (Batalha no Setor Vega) e até mesmo de componentes técnicos como parte de um guia narrativo para o leitor, o que podemos comprovar em toda a excelente primeira parte de Missão Stardust. Aqui em A Fortaleza das Seis Luas, o autor mostra Rhodan e sua grande equipe vivendo uma situação de vida ou morte no Sistema Vega e, com isso, resolve criar um enredo complexo demais para dar fim aos inimigos tópsidas, ao mesmo tempo em que coloca os membros da Terceira Potência na lista de contatos comerciais do planeta Ferrol, o que também não é feito sem grandes complicações.
Apesar de avaliar o livro acima da média (e isso aconteceu por bem pouco, o que me surpreendeu, dado o histórico de boa qualidade de Scheer na tríade que escrevera antes), não pude deixar de me perguntar o por quê de determinadas escolhas ao longo do livro. A obra já começa com um dos elementos que, acredito, mais lhe tira a possibilidade de voar alto: uma cena de grande ação entrecortada por uma quantidade quase engraçada, de tão abundante, de elipses. A partir daí, o que mais teremos nesse volume são cenas que possuem uma grande preparação, que se encaminha bem, mas que é simplesmente cortada do nada para, no parágrafo seguinte, já estarmos em um outro espaço ou sob outro ponto de vista, vendo as consequências diretas ou paralelas à ação que então acompanhávamos. Se já é frustrante da primeira vez, imaginem só contar com isso da primeira às últimas página do livro!
E volto também a falar do intricado plano de Rhodan para se livrar dos tópsidas. Por uma parte, eu entendo todo o processo de pensamento do personagem, mas chegou um momento em que eu estava rindo de nervoso ao ler isso. Realmente não era necessária tanta complicação no processo de execução para, no fim de tudo, Crest manipular os dados que enviariam as “lagartixas” diretamente para o coração de um Sol distante, fazendo com que todos morressem. Aliás, o sangue frio de Crest aqui me impressionou e até a solidariedade de Thora vendo a cara de decepção de Rhodan me tocou. É um ótimo momento do livro. Mas o período que o antecipa não precisava ser desnecessariamente complicado e, em muitas partes, confuso.
Esse tratamento faz com que o autor coloque uma porção de novos personagens em cena e depois os jogue fora sem quê nem porquê, tirando da cartola alguém tão importante como Tako Kakuta, por exemplo. Quando o mutante teleportador apareceu, lá pelos 60% do livro, eu pensei “ué, nem sabia que ele estava nessa expedição!“. Essa reação se dá porque o autor está muito mais preocupado em tornar a vitória de Rhodan tão cheia de nós cegos, que apresenta novos personagens a esmo (até aqui, este é o pior livro da série no quesito de apresentação de novos personagens) e esconde indivíduos importantes e diante dos quais já tínhamos um bom apego, como é o caso de Tako, um dos mutantes mais simpáticos que conhecemos nessa primeira leva do ciclo A Terceira Potência.
Em compensação, os bons momentos do volume conseguem superar com bastante notoriedade os maus momentos. A construção da tensão nas negociações entre a Terceira Potência e o Thort de Ferrol estão entre os meus momentos favoritos. Rhodan mais uma vez é tratado como um personagem cheio de camadas, bem mais orgulhoso e com falhas que esperamos que qualquer humano tenha, o que é maravilhoso de ver. Eu comentei, nas minhas críticas lá pelos primeiros livros, que me preocupava o fato de tratarem Rhodan quase como um herói sem defeitos, algo que foi pouco a pouco se dissolvendo, e o personagem foi ganhando a cara de alguém bem mais interessante de se acompanhar, com sua altivez intensa ao lado de sua vontade nobre para conseguir unir a humanidade e erguê-la a dominante da Galáxia.
Cortando as complicações desnecessárias que constituíram o plano final (até agora aquele negócio das perucas não me desce nem um pouco, porque, vamos ser sinceros, não serviu para nada: o que foi conseguido com esse subterfúgio poderia ser logrado de forma bem mais ágil e inteligente utilizado mais pessoas do grupo de mutantes!), o enfrentamento dos humanos + os arcônidas contra os tópsidas foi algo bem legal de se ver, e com uma finalização surpreendentemente bem escrita. As aventuras no Sistema Vega, porém, não acabam aqui, e o cliffhanger nos faz pensar bastante nos avanços comerciais que Rhodan deve ter adiante, além do fato de querer procurar por aquele lendário “povo que vive mais que o Sol“, supostamente habitante do 10º planeta do Sistema Vega. Um mistério galáctico está chegando por aí.
Falsificando os dados de transição espacial, Crest, o arcônida, conseguiu levar a frota tópsida à destruição. Com isso Perry Rhodan pode empenhar-se novamente na busca do planeta da vida eterna. Acontece que os desconhecidos que possuem o segredo da vida eterna fazem exigências enormes a todos aqueles que partem em sua busca […] Colocaram a CHARADA GALÁCTICA no caminho de Rhodan.
Perry Rhodan – Livro 13: A Fortaleza das Seis Luas (Die Festung der sechs Monde) — Alemanha, 1º de dezembro de 1961
Autor: K. H. Scheer
Arte da capa original: Johnny Bruck
Tradução: Richard Paul Neto
Editora no Brasil: Ediouro (1976)
107 páginas