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Crítica | O Profissional (1994)

por Iann Jeliel
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O Profissional

Vi O Profissional pela primeira vez aos 13 anos, idade próxima ao que na época tinha Natalie Portman, em seu primeiro – e que papel! – na carreira, idade próxima ao que geralmente começamos a ter os primeiros sinais do despertar da sexualidade. Portman virou minha primeira primeira musa no cinema no cinema naquele momento, eu como criança, me “apaixonei” pela personagem, logo, pela atriz e dado a minha idade, não havia nada demais nisso. No entanto, o mesmo também aconteceu para alguns adultos que viram o filme na época, dado relatos da própria Portman na vida real, recebendo cartas por aqueles que não sabem discernir uma personagem ficcional do seu meio da ficção e proposta igualmente ficcional de um estudo de personagem infantil sobre uma ótica de maturidade avançada, acarretando numa sexualizando precoce ao próprio corpo da atriz mirim. Há quem diga, que o filme dê “brecha” para isso e seria muito inocente dizer que há maldade somente nos olhos de quem enxerga, no entanto, é importante ressaltar antes de tudo que existe de excelente no longa de Luc Besson, que esse ponto não é verdade, embora, seja algo totalmente evitável.

Falo isso, porque os grandes centros diferenciais do carisma de O Profissional é a interação entre Leon (Jean Reno) e Mathilda (Natalie Portman) e como ela vai constituindo uma relação amorosa fraternal muito bonita entre os dois. Relação essa, tratada não tão em separado do drama de puberdade avançada de Mathilda, mas de forma ambígua e conjunta, colocando a dúvida se ela o enxerga mais como figura paterna ou como amante. Dúvida que persiste até o final, numa dualidade complexada que não exatamente o filme insisti em explorar afundo para além de breves espelhamentos, pois não faz parte relevante do núcleo principal da vingança. Um dos motivos que a fazem ser descartável, em âmbito específico ao romance. Fica claro, que o personagem recluso de Leon a rejeita romanticamente por princípios morais. O adulto, apesar de ser um personagem conturbado psicologicamente e em certa medida, carente de uma relação interpessoal,  tem discernimento da situação e a lente de Besson captura o incomodo do personagem aos flertes explícitos de Mathilda (especialmente aqueles da cena da brincadeira de imitar personagens do cinema) com sutileza o suficiente para isso não impedir que a enxergue como figura de filha e cuide dela da sua maneira excêntrica.

A dualidade de Leon, não é muito diferente a de Mathilda, a diferença é que ele é um adulto que não amadureceu e fica em conflito sobre linha do corroborar ou não com crescente da maturidade precoce da criança, mas dentro do núcleo principal, isso é mais bem explorado. Há um desconforto em ensiná-la a “limpar”, ao mesmo tempo que essa é a única forma que ele consegue se comunicar afetivamente com ela. Desse modo, ele a ensina, mas nunca o suficiente, apenas o básico, a “teoria” que a própria Mathilda menciona, no melhor direcionamento possível, para não matar a menos que seja uma necessidade de sobrevivência. Ele ao gostar dela genuinamente quer preservar seu lado ingênuo (como ele preserva nas suas sessões de cinema particulares), ainda que saiba da responsabilidade de torná-la autossuficiente sabendo o cenário de perseguição hostil que sofre ao fantástico vilão Stansfield (Gary Oldman) no filme – “EVERYONE!!!”. No entanto, justamente por ter essa mentalidade adulta, a personagem usa os ensinamentos do Leon – mesmo sem ter tido treinamento prático algum –, para criar coragem de encarar sozinha o homem que matou seu irmão, gerando a climática final em que se confirma o amor paterno protetor por ele adquirido, gerando seu sacrifício para que ela escape em vez daquela realidade imposta.

Se o lado dele pareceu ser bem resolvido, faltou alguma cena ou contexto maior que fizesse o mesmo para Mathilda. Sim, implicitamente a cenas iniciais estabelecendo a relação abusiva com os seus familiares deixam claro a origem do amadurecimento precoce como tentativa de fuga daquela realidade, mas faltou um choque posterior, pensando em fechamento de arco dramático individual. Dá até para considerar a cena dela com o personagem de Danny Aiello esse complemento, mas ela não conversa com a dúvida do amor romântico colocada atrás, novamente reiterando o seu caráter desnecessário, porque no fim de tudo, acaba não fazendo diferença a jornada da personagem de Portman em quebrar esse prolongamento da juventude perdida. Em outras palavras, O Profissional tem nesse arco de amadurecimento uma das suas bases mais fortes e poderia mantê-la como um ícone Femme Fatale juvenil, sem recorrer a esse desvio de atenção ao romântico. Ainda que ele se leve relativamente bem no humor, como na sequência em que Mathilda desabafa seu sentimento amoroso descrevendo como uma dor no estomago e Leon responde “Isto é fome”.

Com ou sem esse desvio, O Profissional segue sendo um baita filme ação, mesmo com pouquíssimas sequências dedicadas a ela em si. A construção e execução das presentes, são memoráveis. Icônicas por envolver personagens tão cativantes, criativas ao utilizar tão bem as ramificações do cenário ao seu favor e extremamente viscerais pela espetacularização da violência precisa na condução de um Besson no auge de sua carreira. É um classico do gênero, definitivamente. Contudo, poderia ser hoje melhor lembrado, caso não tivesse plantado uma problematização de raízes polêmicas para um debate que lhe é vinculado e poderia, facilmente, não ser .

O Profissional (Léon | França, 1994)
Direção: 
Luc Besson
Roteiro: 
Luc Besson
Elenco:
Jean Reno, Gary Oldman, Natalie Portman, Danny Aiello, Peter Appel, Willi One Blood, Don Creech, Keith A. Glascoe, Randolph Scott, Michael Badalucco, Ellen Greene, Elizabeth Regen, Carl J. Matusovich
Duração: 
110 minutos

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