Home QuadrinhosEm Andamento Crítica | Mônica #8: Lendas da Jumenta Voadora (2007)

Crítica | Mônica #8: Lendas da Jumenta Voadora (2007)

por Luiz Santiago
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Meu primeiro contato com o nome “Jumenta Voadora” aconteceu através de um pequeno vídeo que passou por mim numa rede social. O vídeo falava sobre uma trama da Turma da Mônica Jovem e o plot dessa aventura mais o nome “Jumenta Voadora” simplesmente me fisgaram. Eu fiquei curioso e queria saber do que se tratava. Foi depois de algumas pesquisas que caí nessa historinha fantástica que agora comento, publicada na edição número 8 da revista Mônica, que saiu pela Editora Panini em agosto de 2007.

A saga tem todo o sabor possível de filme de terror, amparado por “contos nativos de assombração”, com o roteiro nos guiando a partir da “noite das garotas”, um encontro regular entre as meninas da rua que passam um tempo juntas comendo lanchinhos, bebendo suquinhos e jogando conversa fora. Aqui, Mônica, Denise e Magali formam o grupo da noite. Dessa vez, porém, elas são interrompidas em sua tagarelagem pela chegada do mimado Dudu, que apesar de ‘miar‘ os planos das meninas, é quem ajuda a conduzir a história para aquilo que verdadeiramente lhe dá identidade, uma vez que, a partir desse ponto, o trio resolve enganar/assustar Dudu, contando-lhe casos de terror contendo Jumenta Voadora como principal personagem. Tudo, a partir desse momento, é plena diversão.

Até mesmo as interrupções meio chateantes de Dudu perdem força quando o leitor foca naquilo que verdadeiramente dita o ritmo da história, já que cada uma das amigas conta uma versão diferente sobre quem é, como surgiu e como age a Jumenta Voadora, que além de tudo é uma ferrenha protetora dos potinhos de plástico. O autor ou os autores do enredo (eu imagino que seja Emerson B. Abreu, porque a personagem é dele, mas os roteiristas na época ainda não eram creditados individualmente em cada trama, então não dá pra ter certeza) buscou inserir um elemento diferente de horror em cada origem narrada, exceto por uma delas, a que começa com a Jumenta “no princípio, criando os céus e a Terra“. De zumbis a fantasmas, o que temos aqui é uma baita sequência de cômicas narrativas, sempre puxando para alguma coisa característica do cotidiano brasileiro e da nossa oralidade de terror. Uma baita “estreia” da personagem, diegeticamente falando. 

Depois dessa trama principal com a Jumenta, temos uma narrativa sem nome protagonizada pelo Cebolinha, onde ele faz diversos desenhos da Mônica, ao longo dos anos, e só no final da história percebemos que é tudo ele no presente tentando enganar a amiga, dizendo para ela “apoiar a veia artística” dele… quando na verdade era só um método para não apanhar pelos desenhos depreciativos de sempre. Cebolinha, como de praxe, sendo o garoto com planos infalivelmente mais falíveis que existem. Na sequência, encontramos o Anjinho em Também Preciso de Ajuda!. Essa é uma aventura sem falas, bem curtinha e bem bonitinha, indicando de maneira muito bem pesada o poder da solidariedade, já que o Anjinho ajuda todo mundo e, no final do dia, está exausto. É aí que ele recebe em troca a ajuda de todo mundo para quem “deu uma mãozinha” nos quadros anteriores. Uma trama para deixar o coração quentinho.

Adivinha? vem logo a seguir, e é uma história da Turma do Penadinho focando no Lobi, que precisa de um banho e de uma tosa. É uma trama bem ágil (Lobi está correndo o tempo todo da Dona Morte) e bem engraçada, porque todo mundo no cemitério acaba se envolvendo na captura do pobre lobisomem, garantindo uma ótima sequência de eventos, com direito até a um cameo da Tina!

As outras duas histórias de destaque da revista, sendo a história da Tina, a melhor de todo o volume.

Seguindo, temos uma história da Marina, intitulada Cem Ideias. O roteiro não perde a oportunidade de brincar com “cem” e “sem“, é claro, e mais uma vez chegamos a uma boa liçãozinha de vida através de uma boa reflexão sobre o processo criativo de um artista e o quanto às vezes nos enganamos quando falamos de falta de inspiração. Mas a melhor história do volume (melhor até que a da Jumenta Voadora), é a da Tina. O conto se chama Correções Virtuais, e é uma daquelas tramas que falam muito dizendo pouco, explorando essa febre pelos padrões de beleza da atualidade e a neura que muitas pessoas têm de parecer o mais bonita, elegante e perfeitas possível para os outros; tudo através de um intenso uso do photoshop. Aquela crítica social que pega de verdade na gente.

Na história do Penadinho chamada Ventania temos a presença do primo do Lobi seguindo os seus instintos de Lobo-Malvado, soprando tudo pela frente. São apenas algumas páginas charmosas (afinal, o personagem é o famoso vilão dos Três Porquinhos!), mas sem muita coisa chamativa que valha ser observada mais de perto. Em Cansado de Correr, historia do Bidu, temos uma sequência absolutamente fofa de catioros no exato status que o título nos indica, com um quê de reviravolta na percepção dos bichos e também nossa, ao final da aventura, causando riso justamente pelo tipo de percepção que apresenta.

E por fim, uma trama da Dorinha com a Mônica chamada Imagina…, onde a Mônica faz várias perguntas para a amiga cega, sobre como ela imagina algumas coisas, pessoas e situações do Limoeiro. É um texto simples, mas bem fraterno e educativo, inclusive pela forma como aborda a deficiência visual, as perguntas feitas de uma criança que enxerga para outra que não enxerga. É um bom encerramento de revista, coroado com a tira vertical onde Mônica e Cebolinha trocam umas palavrinhas sobre um sonho que tiveram na noite anterior: ela que não se lembra, e ele que não pode falar o sonho, pois estava correndo atrás da baixinha com o Sansão na mão. Aquela velha ideia de que nos sonhos, a gente pode tudo!

Mônica #8: Lendas da Jumenta Voadora (Brasil, agosto de 2007)
Roteiros: Mauricio de Sousa, Emerson B. Abreu, Flávio T. de Jesus, Robson B. Lacerda, André Simas, Felipe C. Ribeiro, Gerson L. B. Teixeira, Marcelo Barreto de Lacerda, Patrícia Machado, Paulo R. Back, Roberto Munhoz
Arte: Altino O. Lobo, Enrique Valdez, José Aparecido Cavalcante, Lino Paes, Olga M. Ogasawara, Roberto M. Pereira, Sidnei L. Salustre, Carlos A. Pereira, Emy T. Y. Acosta, Mauro de Souza
Arte-final: Jaime Podavin, Patrícia L. Zaccarias, Reginaldo S. Almeida, Romeu T. Furusawa, Sérgio T. Graciano, Tatiana M. Santos, Viviane Yamabuchi, Wagner Bonilla, Clarisse Hirabayashi, Cristiane Colheado, Cristina H. Ando, Kazuo Yamassake, Lilian A. Almeida, Marco A. Oliveira, Marcos Fernando Silva, Rudinei C. Acosta
Letras: Carlos Kina, Eliza, T. K. B. Lacerda
Editora: Panini
84 páginas

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