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Crítica | O Último Paraíso (2021)

por Guilherme Rodrigues
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Não sou uma pessoa muito apegada a sinopses. Não raro busco assistir filmes cujo meu conhecimento sobre eles é bem baixo, baseado somente em indicação de alguém ou pelo fato de alguém envolvido na produção ter realizado trabalhos interessantes no passado. Digo isso pois, quando aceitei a tarefa de escrever sobre O Último Paraíso, fui sem ler o resumo da história, mas após ter assistido ao filme, ficou difícil não notar como o filme é descrito na plataforma da Netflix, que é da seguinte maneira: “Itália, anos 50. Um homem de espírito livre sonha com o amor, a justiça e uma vida melhor, mas uma paixão proibida pode colocar tudo a perder. Baseado em fatos reais.

Essa sinopse chama atenção por estar tão removida do que o filme de fato é, que alguém deveria considerar esse resumo propaganda enganosa, por mais que a norma desse tipo de coisa seja a de distorcer um pouco a história mesmo, esta chega ser cínica diante da narrativa apresentada. O longa tem como protagonista Ciccio Paradiso (Riccardo Scamarcio) um trabalhador do sul da Itália, que se envolve com a filha do dono das terras onde trabalha, Bianca (Gaia Bermani Amaral). O envolvimento dos dois, é claro, leva a conflitos com o pai da moça.

Além do romance, O Último Paraíso tenta também trazer um conflito de classe similar ao que foi apresentado em outro filme italiano muito famoso, o A Terra Treme, onde pescadores de uma vila italiana tentam ter mais controle sobre seu trabalho. Mas aqui o foco é no “tenta”, e talvez até isso seja caridoso em excesso com a produção, já que isso se resume a somente uma cena, em que Ciccio se oferece para comprar as azeitonas por um preço maior do que oferecido pelo patrão. Talvez a expectativa do diretor Rocco Ricciarduli, era de que essa única cena em que o protagonista contesta o poder dos patrões bastasse para imbuí-lo de alguma aura de “herói da classe trabalhadora”, não dá certo, e não há número de frases soltas sobre “querer uma vida melhor” que substitua uma construção narrativa de fato nesse sentido.

Se essa veia classista não dá certo, talvez o romance possa salvar, já que é nisso que o filme claramente se apoia mais, abrindo com o casal apaixonado andando por um belo cenário italiano, e com a tragédia de Ciccio sendo mais baseada nisso do que seus confrontos trabalhistas. Mas, novamente, não funciona. Um romance depende muito de comprarmos a ideia de duas pessoas juntas enquanto casal, é claro, e quando o caso ainda é proibido, é necessário torcer para que eles fiquem juntos, mas nada nos dois personagens suscita muito interesse em vê-los juntos. Bianca é um nada de personagem, toda sua existência se resumindo a sua relação com o protagonista, enquanto é difícil ignorar o tratamento que Ciccio dá a sua esposa oficial e filho. Não dá para comprar esse romance arrebatador quando uma das partes com a qual devemos simpatizar age de modo tão mesquinho sem que o filme contextualize isso, só esperando que o espectador aceite esse tipo de atitude sem pestanejar.

Sem meias palavras, O Último Paraíso é ruim. Seus personagens são desinteressantes, o romance fraco e suas tentativas de explorar outras temáticas não vão muito além de tentativas, é tudo muito raso, nem menos as belas paisagens da Itália são aproveitadas. Uma perda de tempo em vários sentidos.

O Último Paraíso  (L’ultimo paradiso) – Itália, 2021
Direção: Rocco Ricciardulli
Roteiro: Rocco Ricciardulli, Riccardo Scamarcio
Elenco: Riccardo Scamarcio, Gaia Bermani Amaral, Valentina Cervi, Antonio Gerardi, Giovanni Cirfiera, Giuseppe Nardone
Duração: 107 min

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