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Crítica | The Walking Dead – 10X22: Here’s Negan

por Iann Jeliel
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Here's Negan

  • SPOILERS do episódio e da série. Leiam aqui as críticas das demais temporadas, games e HQs. E aqui, as críticas de Fear the Walking Dead.

A décima temporada de The Walking Dead marcou a primeira vez em que a série precisou contar história de origem de vilão, porque não havia mais criatividade para preencher a grade de 16 episódios com construções de tramas mais interessantes. Porque Shane (Jon Bernthal) e o Governador (David Morrissey) não tiveram o privilégio e a Alfa (Samantha Morton) com o Beta (Ryan Hurst) tiveram no capítulo We Are the End of the World? E por que só eles ganharam? Por que não contar flashback de cada personagem secundário então quando não tinha o que contar? Afinal, a desculpa de “maior” desenvolvimento para um arco importante, serviria da mesma forma. Certamente essa decisão de trazer a “origem” da mentalidade sussuradora não foi uma necessidade da história, mas uma consequência da falta de novas ideias, com a limitação orçamentária, dentre outros tantos problemas que caracterizam esse capengante pré-final da série. Here’s Negan

O mesmo argumento também vale para questionar a necessidade de contar se contar a origem do Negan (Jeffrey Dean Morgan), no contexto que vinha a caminhada da narrativa. Principalmente considerando que uma das poucas coisas regulares dela de quando apareceu para cá na série, foi ele próprio, com uma jornada com passos muito bem definidos, da sua vilania absoluta até vilania dúbia, que o fez perder a guerra contra Rick Grimes (Andrew Lincoln) e agora estar em processo de redenção. Levando em conta que no episódio anterior, The Walking Dead estava literalmente contando o nada, é evidente que Here’s Negan! surge mais sobre efeitos de uma pressão do público cobrando narrativas de qualidade, com personagens de qualidade, do que necessariamente aparecendo no momento oportuno em que deveria ser tocado, enquanto história. E fico indignado, ao mesmo tempo, surpreso ao ver, que a série conseguiu unir o útil ao agradável. Contextualizando perfeitamente a virada final para a redenção Negan, como desculpa para contar sua origem, que renderia a boa história que precisava contar antes da temporada acabar para reconquistar o público – sem precisar necessariamente entregar tudo dessa origem, como por exemplo, entregar o passo a passo do processo que o fez formar os Salvadores, apenas deixar ali easter egg de uma das membras, Laura (Lindsley Register) aparecendo e foi suficiente – e motivá-lo a assistir a última com esperança, depois de tantos altos e baixos visto nessa.

A grande força aqui, diferente dos outros bons fillers dessa leva de episódios extras – todos dirigidos por Laura Belsey, a nova salvadora de The Walking Dead –, não está na busca de recuperar valores perdidos, mas na certeza da existência deles no personagem narrado. A história ao entorno de Negan, só tem peso por conta do que foi construído até então na sua jornada durante a linearidade da série. Ou seja, não deixa de ser uma valorização de um processo, mas há uma ciencia, de que esse processo estava à frente dos outros por escolhas anteriores mais assertivas, levando o capítulo a uma enorme concisão dramática, onde só há o que evoluir e não recuperar. É uma concisão tão perceptível, que as experimentações de formato, tais como, o sequenciamento retroativo de flashbacks, não parecem experimentações gratuitas e soam uma estilística autêntica, com sentido e necessária para a história atingir o efeito de impacto desejado.

Claro, muito desse efeito passa pela a atuação de Jeffrey Dean Morgan, capturando todas as transformações do personagem em um formato reduzido que não diminuem a veracidade dos arcos antagônicos narrados. Afinal, estamos tratando da origem de um vilão para justificar sua necessidade de redenção. O ator junto a montagem, tornam essa justaposição crível, apesar do direcionamento econômico de uma dessas frentes. Enquanto a parte de mostrar um Negan bondoso com Lucille (Hilarie Burton) que merece redenção é respaldada com muita atenção – cenas e mais cenas demonstrando o afeto que ele tinha com a esposa e o quanto ele se arriscava para fornecer os materiais de tratamento a ela, e tudo bem, porque são cenas muito bonitas mesmo, onde há química natural no casal, graças ao fato dos atores serem realmente casados na vida real  –, a outra que mostraria ele sendo um mal marido, ou mesmo na origem da sua face megalomaníaca devidamente representada pelo ótimo monologo final, relativiza um pouco suas ações, para não dispersar o foco e intuito final do episódio em coloca-lo quase como posição de um novo herói protagonista da série.

Uma pena que o capítulo não se sinta seguro o suficiente para deixar isso mais subentendido. Os últimos minutos até didatizam em ênfase que foi a construção situacional que o levou a escolher ser aquele Negan que ele se arrepende, como se não houvesse uma parcela errônea também de sua personalidade. É reconhecido que houve, mas de forma bem categoricamente disfarçada, pela inteligente solução da música contada pelo ótimo monologo mencionado. Ligando a origem do nome do taco com o mesmo nome da mulher, afinal, seu primeiro momento de violência foi para corresponder um desejo dela, nada mais justo que apelidar seu lado violento com o seu nome. E o episódio é tão seguro do que quer, que ainda usufrui desse lado relativizado no reforçar o gancho de tensão dele com a Maggie de modo funcional. O sorrisinho cínico de Negan para ela na cena final é de novo a série parando num mesmo lugar de antes, só que agora com o retrospecto do outro lado, que incrivelmente deixa entre ainda mais incerto do que vai ocorrer entre os dois.

Definitivamente, Here’s Negan prova mais uma vez, que a série nunca exatamente perdeu a sua qualidade dramatúrgica, só não tem vontade de fazê-la assim em constância. The Walking Dead é bom, quando ele quer ser bom. E quando ele quer, ele consegue. Pena que ele não quis mais vezes ao longo da temporada, ser tão bom assim como quis agora.

The Walking Dead – 10X22: Here’s Negan | EUA, 04 de abril de 2021
Direção: Laura Belsey
Roteiro: David Leslie, Johnson-McGoldrick
Elenco: Jeffrey Dean Morgan, Hilarie Burton, Miles Mussenden, Rodney Rowland, Lindsley Register, Mandi Christine Kerr, Norman Reedus, Melissa McBride, Lauren Cohan, Kien Michael Spiller
Duração: 49 minutos

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