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Lista | American Gods – 3ª Temporada: Os Episódios Ranqueados

por Ritter Fan
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Avaliação da temporada:
(não é uma média)

American Gods é uma série amaldiçoada. Depois de um primeiro ano excepcional, desafiador e esteticamente lindo, problemas graves de bastidores levaram a uma queda sensível na segunda temporada, com mais problemas de bastidores em seguida. Charles H. Eglee, o terceiro showrunner da série, tentou colocar a terceira temporada nos eixos, imprimindo sua pegada própria, o que exigiu que ele retrocedesse talvez demais na história para não só relembrar os eventos anteriores, mudando-os para um novo status quo.

O resultado foi uma temporada que até teve um bom episódio inaugural, mas que caiu vertiginosamente logo em seguida, recuperando-se apenas em sua segunda metade para encerrar com um episódio decepcionante por não conseguir sequer dar conta de subtramas que haviam sido estabelecidas, ficando muito mais preocupado em abrir portas para uma possível quarta temporada. Pouca coisa verdadeiramente andou e o que andou foi empurrado mais para o final com episódios anteriores que caminharam de lado, como um caranguejo.

Como fazemos em séries que acompanhamos semanalmente, fiquem com nosso ranking de episódios. Concordam, discordam, muito pelo contrário? Mandem seus comentários e vamos discutir!

10º Lugar:
The Unseen

3X04

Em seu quarto episódio, aquela metáfora batida que usei em minha crítica anterior, do carro atolado na lama girando a roda incessantemente e, no processo, sujando tudo ao redor, é perfeitamente aplicável mais uma vez, com o agravante que, de tanto girar a roda, formou-se um buraco capaz de tragar tudo lá para dentro. Entre Odin ainda tentando “libertar” Deméter para abocanhar o dinheiro dela, com direito a uma sequência com Marilyn Manson em um bar que parece completamente perdida, como se o montador não soubesse onde encaixá-la e Laura no Purgatório sem qualquer função narrativa que não seja adicionar intermináveis minutos à duração do episódio, algo que continua mesmo quando ela ressuscita, a impressão que deu é não há mais uma história sendo contada e tudo o que restou são fragmentos filmados reunidos de qualquer maneira para dar impressão de uma narrativa.

9º Lugar:
Ashes and Demons

3X03

Entendo perfeitamente que a sucessiva troca de showrunners em American Gods exija que cada temporada seja uma reinvenção, mas há limite para tudo. Do jeito que a temporada está caminhando, parece muito mais quando um político brasileiro assume cadeira nova, em direta oposição ao que veio antes: tudo feito por seu antecessor precisa ser desfeito, apagado e recomeçado do zero. Considerando que já estamos na 3ª temporada da série e mais ou menos em seu primeiro terço, era de se esperar que tivéssemos visto avanço verdadeiro na história e não que a mesma estrutura de “preparação para a guerra” fosse repetida com as únicas novidades ficando com os novos visuais de Shadow e Odin e os cenários.

8º Lugar:
Tears of the Wrath-Bearing Tree

3X10

E o pior é que esse clímax, se é que podemos chamá-lo assim, vem depois de uma lenta, cansativa e consideravelmente inútil sequência interminável de representantes dos deuses em território neutro – mais um hotel! – para velar Odin. Mr. World oferecendo paz já cansou assim como o Pai de Todos prometendo guerra e Crispin Glover, antes sinistro, agora parece uma caricatura mal desenhada de seu personagem, um verdadeiro pastiche. Laura Moon, adúltera uma hora, zumbi na outra, amante de Leprechaun em mais outra ainda, frequentadora de Purgatório em seguida e assassina de deuses, finalmente, parece uma barata tonta sem muito o que fazer que não seja arrastar-se por dutos, esconder-se embaixo de mesas, ser traída por Mr. World e poupada por seu ex-marido, com direito a sonho libidinoso com Bilquis – e quem não teria um sonho libidinoso com ela, não é mesmo? – que a leva a outro cliffhanger misterioso com a deusa orixá.

7º Lugar:
Serious Moonlight

3X02

O problema, porém, é que o roteiro de Moises Verneau atira para todos os lados e, pior, assenta Mike em Lakeside por literalmente algumas horas somente para fazê-lo sair de lá para ir ao velório de Zorya Vechernyaya (Cloris Leachman) a convite de Zorya Polunochnaya (Erika Kaar). Gravitando ao redor desse evento, vemos Salim novamente com o Sr. Ibis (o que torna a ausência de Mr. Nancy muito gritante, diria), Odin com Tyr, o Deus da Guerra (Denis O’Hare), agora um dentista sádico e, depois, Mike novamente encarando Czernobog, Odin fazendo as pazes com Cznernobog, Mike no telhado com Zorya Polunochnaya e depois no beco com a sugar baby de Odin. Em outras palavras, é muita coisa acontecendo em sucessão que retira a construção de Lakeside do foco e transforma o episódio quase que em uma colcha de retalhos de tudo aquilo que precisamos lembrar sobre a série, a mesma função de A Winter’s Tale.

6º Lugar:
Sister Rising

3X05

No lado de Laura Moon, seu retorno, agora viva, ao estabelecimento funerário de Mr. Ibis, com o recrutamento do perdido Salim para executar seu plano de matar Odin, o que a leva até Shadow novamente, foi, para variar, o lado menos interessante de Sister Rising. O arco da personagem parece estar no automático, sem apresentar grandes novidades já há algum tempo, com sua permanência no Purgatório não tendo ajudado em nada. Não é que eu necessariamente implique com Laura, pois, tendo lido o livro, sei de sua importância, mas o ponto é que Eglee não tem conseguido tirar a personagem do marasmo narrativo, algo que especificamente o roteiro de Damian Kindler até tenta fazer com o diálogo dela com Salim, mas sem muito sucesso. Mas temos que tentar achar o que há de positivo em qualquer coisa, não é mesmo? E, aqui, o que funcionou foi a falta de enrolação. Nada de protrair sua “jornada” assassina por mais tempo, mantendo-a ainda em Cairo ou criando alguma razão para outra road trip. Nesse sentido, as sequências com Laura foram razoavelmente objetivas, já situando-a em Lakeside no cliffhanger light.

5º Lugar:
Conscience of the King

3X06

Pelo menos a história do romance de Odin, com direito à flashback para depois do fim da Revolução Americana, com ele e Tyr mais novos, em dupla, refestelando-se com os espólios de guerra, que ganha evolução no asilo onde Deméter se encontra e até mesmo um teatro de sombras, é interessante constantemente, seja pelas atuações de Ian McShane e Blythe Danner, seja pela forma como percebemos o amor dos dois até os dias de hoje que encontra uma barreira intransponível na personalidade destrutiva de Ofnir, seja pelo desfecho anticlimático com Deméter “indo embora”, o que parece ser o equivalente ao suicídio para os deuses. Romântico, trágico e onírico ao mesmo tempo, mesmo que, como disse no parágrafo introdutório, completamente deslocado na série como um todo, com o agravante de fazer com que o investimento de tempo nessa relação desde o início da temporada parecer narrativamente inútil, pelo menos até prova em contrário.

4º Lugar:
A Winter’s Tale

3X01

Com esse artifício simples, o roteiro de David Paul Francis usa a reunião de pai e filho para beneficiar não exatamente a história, mas sim os espectadores, trabalhando os diálogos para recontar o que é necessário recontar de maneira que, ao final, todo mundo esteja na mesma página. Paralelamente, a narrativa nos leva para o lado dos vilões, mais especificamente Mr. World, outrora vivido por Crispin Glover, mas que é “transformado” na Ms. World de Dominique Jackson em razão da saída do ator, em uma sequência que homenageia a inesquecível cena do taco de beisebol de Al Capone em Os Intocáveis. Da mesma forma que na conversa de Odin com Shadow, Ms. World e o Garoto Técnico ajudam a contextualizar o lado de lá da rivalidade entre os deuses antigos e os novos.

3º Lugar:
Fire and Ice

3X07

Mas nenhum momento WTF? foi mais WTF? do que as tramas separadas, mas convergentes, envolvendo Bilquis e Shadow Moon. A primeira ganha um momento esteticamente muito agradável em que ela faz uma conexão com uma senhora que parece ter sido a parteira de Shadow e Shadow, por sua vez, com seu envolvimento cada vez maior com Marguerite, com direito ao uso de seu poder de fazer nevar que eu até havia me esquecido que existia, tendo um pesadelo lisérgico com criaturas da neve ou algo semelhante. O melhor disso tudo – por mais sem sentido que possa parecer no momento – é o aumento do relevo de Bilquis para a trama geral. No lugar de ela ser apenas uma entidade que, como eu antes suspeitava, só seria realmente utilizada mais para o final, durante a guerra de Odin (se ela um dia acontecer, claro), a personagem, em Fire and Ice, parece conectar-se mais profundamente com a narrativa de Shadow, o que pode ser essencial agora, com seu sequestro (ou seja lá o que for aquilo) por Tyr.

2º Lugar:
The Lake Effect

3X09

O que quero dizer, no final das contas, é que essa parte da história que, como basicamente todas na série, vinha sofrendo da incapacidade dos diversos showrunners em impulsioná-la, de repente parece correr os 100 metros rasos como Usain Bolt. Lakeside, que deveria – ao menos em tese – ter sido um exílio para Shadow, tornou-se um lugar para onde ele voltava depois de cumprir tarefas variadas para ele próprio e/ou para seu divino pai, o que tirou o peso dos desaparecimentos, do “suicídio” do jovem Darren e de todo o momento climático que abordei mais acima que muito claramente precisavam de mais tempo de maturação, sem desvios narrativos que não levaram a lugar algum. E o mesmo vale para o relacionamento de Shadow com Marguerita que acaba sem sequer ter começado de verdade, a não ser que transar na banheira de hidromassagem conte como desenvolvimento suficiente. Em outras palavras, o arco de Lakeside é menos problemático em razão do episódio que o encerra do que por todos os anteriores que pouco fizeram por ele.

1º Lugar:
The Rapture of Burning

3X08

Deixei por último o personagem mais importante do episódio, que mencionei no parágrafo de abertura. Salim tem uma jornada de redescoberta em The Rapture of Burning, em que ele não só aceita que seu Jinn não mais voltará, como ele tem um efetivo despertar para sua sexualidade. Pode parecer para muitos uma repetição temática, pois isso, de certa forma, já havia acontecido quando os dois se relacionaram antes, mas Salim foi mantido como um personagem tímido, extremamente reprimido por sua própria incapacidade de realmente aceitar quem ele é. Com toda a construção da história pregressa do Grand Peacock Inn (olha a simbologia do pavão novamente!) e de sua dona Toni (Dana Aliya Levinson), com direito à visita de Tur Er Shen (Daniel Jun), o deus chinês da homossexualidade, que transforma o local em um santuário, Salim entra em uma bonita espiral de aceitação profunda de quem ele é e, mais do que isso, faz as pazes com seu deus, prometendo seguir seu próprio caminho dali em diante.

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