Meu Marciano Favorito é um volume de amarras, conectar subtramas e desenvolver uma narrativa um pouco mais direta do que a mostrada até aqui. Robert Kirkman, desde o início da série, sempre gostou de construir plots paralelos à história central de cada volume, lentamente elaborando novos antagonistas e futuras turbulências para Mark, e ainda que ele não se desvencilha completamente do artifício, vide a “traição” de Cecil e a cena final do quadrinho, o autor finaliza vários elementos da HQ, iniciando o enfoque no Império Viltrumita, com flashs de uma revolução através de Allen e o primeiro traidor viltrumita fora da família Grayson que conhecemos.
Contudo, apesar da intrigante pista da parceria entre Allen e Mark, o oitavo volume, como disse, é sobre as várias pequenas tramas de livros passados. A primeira é a situação com Rick, o amigo de Mark e William que está desaparecido, sequestrado pelo D.A. Sinclair, como parte de um experimento macabro de “evolução” humana através da substituição de membros para peças robóticas. É uma divertida narrativa da perspectiva de Mark e William, uma espécie de buddy cop, com Will mantendo seu ótimo humor, porém, ao mesmo tempo consegue ser um trágico arco de personagem para Rick. A forma como Kirkman trabalha tais conceitos opostos de forma orgânica continua sendo louvável. E ao final desta história, temos um ótimo momento entre Rick e o agente andróide de Cecil, que passou por uma situação parecida. É um diálogo terno e melancólico, além de um ótimo aprendizado, que demonstra esse lado mais intimista do autor, mesmo com personagens que pareçam “menores”. Aliás, isso me leva a outro ponto do oitavo volume, preenchido por arcos de personagens secundários.
Temos vários casais em foco: Amanda e Robô; Immortal e Dupli-Kate; e o trio de Mark-Amber-Eve. Cada relacionamento é tratado de maneiras diferentes pelo roteiro, que cria situações de crescimento, empatia e amizade com a Garota Monstro e o Robô, em várias cenas bonitinhas. Enquanto Immortal e Kate recebem um arco trágico, sobre perda e a maldição da imortalidade. Já o intricado namoro de Mark e Amber ganha um ponto final, na qual a narrativa desenvolve alguns temas bacanas para o protagonista, como entender sua realidade, o fardo do heroísmo e maturidade emocional. Além de que poderemos ver a muito mais interessante relação entre ele e Eve com mais enfoque. Kirkman ainda acha espaço para Rex em meio a ação frenética, também expondo uma certa maturidade do explosivo herói.
Meu Marciano Favorito é comprimido por seis capítulos, e até ali no quarto, todas essa construções que citei são bastante redondinhas, mas estava faltando aquele impacto especial da série. Os dois capítulos finais retificam isso, trazendo uma violentamente divertida paralelo de ações heroicas dos Guardiões do Globo. Temos um grupo lutando contra os Sequids, uma raça que escraviza seres normais, e tem a Terra como seu alvo, enquanto o trio de Rex, Kate e Ray lutam contra a Liga Lagarto, que sequestrou uma base nuclear americana. Apesar da missão espacial ser a principal, o combate pelos mísseis nucleares acaba sendo muito mais característico da série. Brutal, cruel, descomedido e, como sempre, extremamente divertido de ler.
Apesar do título do volume, o marciano, que assumiu o alter-ego de Shapesmith, recebe pouco espaço na HQ. Não que isso importe, pois Kirkman resolve vários emaranhamentos jogados em volumes anteriores, enquanto deixa consequências trágicas e dá mais espaço narrativo para o quadro geral da guerra entre o Invencível e os Viltrumitas. Além disso, o autor apresenta um teor minimalista e de cuidado para seu Universo, algo que já era bem trabalhado na família Grayson, mas ganha ares para a grande classe de notáveis personagens secundários.
Invencível – Vol. 8: Meu Marciano Favorito (Invincible – Vol. 8: My Favorite Martian) – EUA, 2006/2007
Contendo: Invencível #36 a 41
Roteiro: Robert Kirkman
Arte: Ryan Ottley
Colorista: Bill Crabtree
Letras: Rus Wooton
Editora original: Image Comics
Data original de publicação: Novembro de 2006 a maio de 2007
Páginas: 150