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Crítica | Lilith – Vol. 4: Cavalgando com o Diabo

por Kevin Rick
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Continuando sua busca temporal pelos portadores do Triacanto, a cronoagente Lilith acorda à deriva no Rio Mississipi, em 1863, durante a Guerra Civil Americana, também conhecida como Guerra de Secessão, que ocorreu entre a União e os Confederados a partir de um desentendimento sobre a escravização de negros nos EUA. Em meio a separatistas e abolicionistas, a protagonista precisa encontrar o portador desta linha temporal no grupo de rebeldes confederados sob comando do cruel William Quantrill. E, logo de cara, fica bem claro que este é o arco mais “histórico” da série até aqui.

Luca Enoch tem feito um trabalho fenomenal entre manusear os períodos específicos que Lilith se encontra junto da missão temporal, mas, no seu quarto volume, o autor toma ainda mais espaço narrativo para o preenchimento do contexto histórico da guerra civil entre os estados de Kentucky e Missouri. Ideologias, discursos políticos, situações sociais, e até mesmo figuras célebres da época, como William “Bloody Bill” Anderson e os irmãos Frank e Jesse James, ganham um tremendo tratamento do roteiro, retirando o conceito de apenas pano de fundo temporal, e realmente nos situando das conjunturas do período.

Isso é bastante intrigante partindo do ideal divertido da trama ao navegar Lilith em diferentes conflitos da História, contudo, senti que a missão em si, assim como o próprio arco científico e os questionamentos em torno da tarefa temporal, sofrem com esse enfoque nas circunstâncias do ambiente, mas nada que estrague a experiência da leitura. Aliás, o desenvolvimento dos dilemas morais de Lilith se beneficiam enormemente da ótima construção cruel da guerra e escravidão, enquanto o roteiro “joga” ela para os diferentes lados do conflito. E dentro da sua turbulência emocional, é importante notar como que, inicialmente, ela parece cada vez mais acostumada com a morte de inocentes, mas ao longo da história, percebemos que ela na verdade tem se resignado à incumbência mais disciplinarmente, porém, tal devoção continua retirando sua humanidade, remetendo-se ao arco de perda de identidade entre Lyca/Lilith – com direito a um sentimental flashback -, e aos pouquinhos, especialmente no desfecho da obra, vemos sua compaixão e raiva voltarem à tona, a despeito da inutilidade de suas ações, como Escuro gosta de pontuar.

Todavia, mesmo mantendo uma estrutura narrativa mais focalizada no período em questão, Luca mantém sua rotina de nos deixar curiosos com certos diálogos e vestígios que ele deixa ao longo das viagens temporais. Dois deles ampliam o sistema de combate e perigo adversário, ou, melhor dizendo, a falta de uma ameaça aos poderes de Lilith. Descobrimos que os Cardos – pelo menos até aqui – não podem matar a personagem, mas apenas contê-la por um determinado período, além de expor que Escuro pode desaparecer a qualquer momento, por não estar de modo concreto na linha temporal como Lilith, sendo uma espécie de projeção carregada pelo fluxo de energia, diminuindo a assistência rápida do guia. E estes dois fatos estabilizam com mais afinco algo que já vinha sendo construído: o maior inimigo de Lilith é o tempo. Irônico, não?

Contudo, o momento mais chocante e inusitado ocorre ao vermos, ao que pude entender, um soldado asiático vagando pelo fluxo-temporal e caindo no meio do conflito americano. Isso abre uma série de indagações que deixam o leitor apreensivo por respostas. A aparição desse personagem se dá pela mudança irresponsável de fatos históricos da Lilith? Seria uma falha do sistema criada pelos humanos do futuro? Uma interferência da entidade antagonista e dos cardos? Lilith pode se encontrar perdida nas linhas temporais? Escuro não o viu ou apenas ignorou a anomalia? É muito bacana como Luca cria uma sequência de possibilidades para a viagem temporal e tudo que a circunda com apenas duas páginas.

Muito menos sobre a busca do Triacanto, Luca entrega um volume que funciona como um arco mais fechado na linha temporal narrativa da série, elaborando com mais cuidado e atenção detalhes históricos e a dinâmica da Lilith nessa divisão ideológica dos diferentes grupos conflituosos, além de inserir pontuais cenas do teor fantástico que nos mantêm ansiosos pelos desdobramentos temporais.

Lilith – Vol. 4: Cavalgando com o Diabo (Cavalcando con il diavolo) — Itália, junho de 2010
Roteiro: Luca Enoch
Arte: Luca Enoch
Capa: Luca Enoch
Editora: Sergio Bonelli Editore
No Brasil: Red Dragon Publisher, 2020
132 páginas

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