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Crítica | “Power Up” – AC/DC

por Kevin Rick
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Power Up

Take time to realize Power Up
That your warmth is
Crashing down on me

Mais do mesmo? Repetitivo? Cópia? Falta de originalidade? Lugar-comum? Muito já foi dito da resistência da banda AC/DC por tentar reinventar seu som ao longo das décadas de sucesso global. A verdade é que eles nunca verdadeiramente se importaram com o criticismo da ausência de inovação, usando e esbanjando da fórmula que fez sucesso nos anos 70 e 80 em discos clássicos de rock and roll como Back in Black, T.N.T., Let There be Rock, entre outros. A partir dos anos 90 até Rock or Bust, de 2014, o álbum que protagonizou o tour final pré-hiato dos músicos, a banda australiana se aproveitou do estilo musical que os tornaram ícones mundiais e criaram discos que mais resgatam a nostalgia da sua fanbase – eu incluído – do que necessariamente buscam trazer algo novo para a discografia já eternizada no gênero.

E então nós temos Power Up, a mais nova empreitada do grupo de hard rock, reunindo as figuras conhecidas de Angus Young, Brian Johnson, Phil Rudd e Cliff Williams, mais o guitarrista Stevie Young, substituindo o gigante Malcolm Young, que recebe crédito como compositor em todas as faixas do álbum, em uma forma de homenagem e conservação da sua presença musical de modo lírico e espiritual. E é exatamente essa a experiência proporcionada por Power Up, um tributo à Malcolm, e ao rock and roll idolatrado por esses idosos que se recusam a mudar. Uma declaração da imutabilidade do seu som em uma provação musical da sua maestria perpetuamente inalterável.

Mas ao mesmo tempo que eles entregam a música de alta energia, saturada de grooves que oscilam e penetram o corpo, proporcionando a bateção de cabeça familiar, existe algo diferente nesse álbum. Não é algo novo. Não é uma reinvenção. Muito menos a inserção de outro gênero musical. Não, o que faz Power Up explodir como uma das melhores obras da banda em mais de 30 anos é a revitalização de seus integrantes. A banda está mais energética, fresca e, honestamente, raivosa. É palatável a vontade e a sede por rock dos membros. Brian Johnson está mais agudo e estridente do que há vários anos, Angus mergulhou nos riffs não usados ​​que ele compôs com Malcolm e tirou ouro junto de Stevie, que entra como uma luva no ritmo, e Rudd estabelece a base enquanto Cliff faz o que sempre fez: ficar oculto e alto ao mesmo tempo. E acredito que o mais importante de tudo, que vinha faltando à banda: escrever músicas de qualidade.

Realize tem o rugido inconfundível de Brian, que segura uma faixa como ninguém, já apresentando o trabalho consistente do álbum, que retorna às origens de estabilidade explosiva das faixas musicais. Essa em particular têm acordes poderosos e esmagadores que configuram o tom da obra até o controle deslizante de fechamento do Code Red.  Nessa jornada nada sutil e ininterrupta encontramos faixas como Rejection, mais lenta e remanescente de blues rockShot in The Dark e Kick You When You’re Down, centradas em riffs, Through the Mists of Time, que apesar da tradição que tenho frisado, é uma das músicas mais diferentes do acervo do AC/DC, mais melódica do que triturante. As únicas músicas que não gosto no álbum são No Man’s Land Wild Reputation, que quebram o ritmo gostoso da experiência com melodias esquecíveis, sem hook e cansativamente repetitivas, parecendo que entraram no trabalho para rechear Power Up, soando mais como fillers do que a construção contemporânea energética que as outras faixas oferecem. Também é importante notar o uso fenomenal de backing vocals no álbum, algo também um tanto incomum da banda, que casa muito bem com a harmonia que tenta capturar o som icônico de trabalhos mais clássicos.

A grande maioria de seus álbuns soam parecidos ou praticamente iguais? A resposta é um explosivo e sonoro sim. A questão é: os discos sãos bons? As vezes sim, às vezes nem tanto – apesar de não considerar nenhuma obra da banda ruim -, mas o 17º álbum do AC/DC, Power Up, revigora a melodia da banda, utilizando todo o estilo musical que esperamos deles, mas com um sorriso no rosto ao ouvir os vovôs mais legais da Terra continuarem sua jornada de rock’n’roll, mais sedentos, joviais e raivosos do que nunca. Um testamento do amor, superação e inabalável trabalho artístico de uma das melhores bandas de todos os tempos. Será que teremos mais obras no futuro? Com esses caras, nunca podemos descartar.

Aumenta!: Through the Mists of Time
Diminui!: No Man’s Land

Power Up
Artista: AC/DC
País: Austrália
Lançamento: 13 de novembro de 2020
Gravadora: Columbia Records, Sony Music Australia
Estilo: Rock, Hard Rock

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