Um oferecimento, Roger Corman! O Ataque das Sanguessugas Gigantes, clássico trash lançado em 1959, é um dos tantos filmes do segmento horror ecológico produzidos sob o olhar do mestre do bizarro, na função de produtor quando não assumia o posto de cineasta em histórias bastante excêntrica sobre humanos incautos diante da ameaça de animais assassinos, modificados geneticamente nalgumas destas mirabolantes narrativas. Com pouco mais de 60 minutos, a produção dirigida por Bernard L. Kowalski e escrita por Leo Gordon traz para o público o que a publicidade em torno do produto chamou de “horror rastejante”, perpetrado por sanguessugas gigantescas, oriundas das escuras cavernas submersas, criaturas aquáticas esfomeadas por vítimas humanas, em mutação graças aos efeitos da radiação, tema catalisador de paranoias no cinema ocidental posterior ao advento da Segunda Grande Guerra Mundial. Assim, com direção de fotografia cheia de momentos aquáticos, assinada por John M. Nickloaus e trilha sonora esquizofrênica, composta por Alexander Laszlo, a produção entendia e diverte ao mesmo tempo, um paradoxo complexo de explicar, tal como a própria existência deste filme cheio de momentos tomados pelo humor involuntário e por altas doses de falta de bom senso dos realizadores.
Antes de começar o processo de análise do filme, investi algum tempo numa rápida investigação em torno das sanguessugas, tendo em vista a compreensão midiática de seu grau de periculosidade e alimentação do imaginário popular para possíveis narrativas ficcionais. Quem acompanha todos os textos do segmento horror ecológico sabe que essa é uma estratégia constante na abordagem sobre animais e seres humanos em alguns textos. Fora a referência aos bichos no clássico moderno Conta Comigo e a sua famosa cena do banho das crianças aventureiras numa lagoa repleta destas criaturas, lembro-me vagamente de um tratamento com sanguessugas realizado como investigação para a licantropia em Possuída – O Início, desfecho da cultuada trilogia sobre lobisomens. São filmes que não apresentam tais animais como assassinos, apenas como bizarros e proporcionadores da sensação desagradável de asco. Se olharmos a presença midiática destes seres nojentos, veremos relatos horrorosos que parecem extraídos de filmes de horror absurdos, tal como O Ataque das Sanguessugas Gigantes.
Todos recentes, passeei por três coberturas sobre a relação entre humanos e os bichos em questão. O primeiro, assustador, narra a trajetória de um menino com uma sanguessuga na traqueia, provavelmente alocada como parasita depois do consumo de água não tratada. A criatura atrapalhava a respiração da criança e ainda causava uma intensa dor de garganta. O segundo caso, também chinês, fala sobre um fazendeiro que tinha uma destas pequenas criaturas em seu nariz. Essa, no entanto, não é uma notícia tão asquerosa quanto a presença de uma sanguessuga que extraiu quase um litro de sangue de um homem depois que se alojou em sua bexiga após adentrar em seu corpo por meio do pênis. Morador do Camboja, o idoso provavelmente adquiriu o anelídeo durante um banho de rio. Parece algo absurdo, mas são notícias atuais e distantes do que temos por convenção de civilização. Relatos assim se apresentam como excêntricos, tais como a abordagem do filme que tratamos aqui.
Em O Ataque das Sanguessugas Gigantes, um pescador é quem tem o primeiro contato com as criaturas, personagem descredibilizado por todos que acham a sua história um tanto burlesca demais. Quando o casal Liz Walker (Yvette Vickers) e Cal Mailton (Michael Emmet) morre mais adiante, a polícia trata de incriminar o marido da moça, Dave Walker (Bruno VeSota), acusado por motivos óbvios. Será preciso, no entanto, investigar mais profundamente para compreender que apesar de ter possíveis motivações para cometer o crime, ele talvez seja um homem inocente. É quando a narrativa parte para um novo rumo. O guarda-florestal Steve Benton (Ken Clark) sai em busca das criaturas assassinas, ajudado por sua noiva Nan (Jan Shepard) e o médico Dr. Greyson (Tyler McVey). O xerife local, Kavis (Gene Roth), também acompanha a expedição. É assim que acompanhamos atores vestidos com roupas de borracha para simular o nado das sanguessugas gigantescas, explicadas durante o desenvolvimento desta história arquetípica que apresenta ao público o passo a passo básico do horror ecológico clássico: os personagens padrões, o homem da ciência, a explicação científica para o caos e a necessidade de eliminação da ameaça que coloca a vida humana em perigo. É um filme divertido, bobo, demasiadamente simples e sem grandes momentos estéticos. Apenas diversão ligeira, talvez nem tão atrativa para o público mais dinâmico atual, mesmo com apenas 62 minutos de duração.
Roteiro: Leo Gordon
Elenco: Ken Clark, Yvette Vickers, Jan Shepard, Michael Emmet, Tyler McVey, Bruno VeSota, Gene Roth, Dan White
Duração: 62 minutos