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Crítica | Correspondente Especial

por Guilherme Rodrigues
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Dois nomes muito importantes da história do cinema estão associados à Correspondente Especial, mesmo que isso não se expresse muito no que está sendo visto em cena. O primeiro é o do grande diretor alemão Fritz Lang, que conduziu o longa por seis dias até ser demitido e ser substituído por Archie Mayo, o cineasta creditado no longa. O segundo é o de Samuel Fuller, que colaborou com o roteiro muito antes de se tornar conhecido por seus singulares filmes de guerra, como The Steel Helmet, o primeiro a falar sobre a guerra da Coréia.

Apesar de ter dois autores tão singulares em sua concepção, Correspondente Especial não é um longa muito eficaz em deixar qualquer tipo de impressão. O filme acompanha o personagem ‘Mitch’ Mitchell (Don Ameche), um correspondente americano trabalhando na Inglaterra durante a Segunda Guerra Mundial, no auge dos bombardeios alemães ao país. O jornalista espera por uma informação importante, a confirmação da chamada operação Leão Marinho, a invasão total da Inglaterra pelas forças nazistas. Muito da agitação da primeira metade do filme envolve Mitchell buscando assegurar um meio de comunicar com antecedência o jornal, e mesmo diante da difícil do país, a interpretação de Ameche garante o bom humor, sempre com uma gracinha para ser disparada e total dedicação à profissão.

Destaca-se também a eficaz construção de uma atmosfera de guerra, muito provavelmente se aproveitando do fato que o longa estava sendo filmado enquanto ela ocorria, as imagens que abrem o filme tem uma qualidade documental muito interessante, mostrando as ruas inglesas sendo preparadas para os ataques, com sacos de areia na entrada dos estabelecimentos. O som de bombas caindo e explodindo ocorrem aleatoriamente durante o filme, que além de ancorar o clima do conflito, também torna certos acontecimentos na trama mais verossímeis, já que os bombardeios interferem na história pelo menos umas duas vezes. O que poderia ser uma preguiça para criar reviravoltas na história, ganha mais peso com esse detalhe.

Mas o grande foco do filme é o romance, já que o correspondente cruza caminho com a operadora de telégrafo à serviço do Ministério de Informação Jennifer Carson (Joan Bennet). A cena em que eles se conhecem é interessante, pois não foge de certas realidades indigestas do período de guerra, como a superlotação dos abrigos antiaéreos, mas também como aquela situação se tornou parte da rotina dos ingleses: Jennifer puxa de sua bolsa um pequeno travesseiro inflável, preparada para dormir em local tão desconfortável. Uma pena que o romance em si seja tão desinteressante, ocorrendo de modo burocrático e previsível.

Mesmo com o tom humorístico predominando, Correspondente Internacional consegue trabalhar muito bem o drama, especialmente nos momentos finais, em que o par trava um conflito ideológico: Mitchell conseguiu a informação sobre a invasão, e deseja envia-la para os Estados Unidos o mais rápido possível, enquanto Jennifer pede que ele segure a noticia, com ela fazendo de tudo para impedi-lo. Mas Mitchell só para ao receber a ligação de Albert (Roddy McDowall), uma criança que Mitchell empregou para ficar de olho em pombos correios. Ao repassar a informação para o jornalista, o jovem é atingido por uma bomba, e o protagonista só pode escutar os últimos suspiros dele pelo telefone. É uma sequência apropriadamente sombria, com a cena não se furtando de mostrar o sofrimento de Mitchell.

Mas o filme não explora muito o impacto disso em Mitchell, já que logo, o filme é encerrado, em tom de alegria ainda, digna de final de episódio de Scooby Doo. Correspondente Internacional até estabelece eficazmente os impactos da guerra no cotidiano, mas quando chega a hora de algo mais emocional, decide não se aprofundar muito, e se apoia no esquecível romance, mesmo tendo elementos para ir além disso.

Correspondente Especial (Confirm or Deny – 2 de dezembro de 1941)
Direção: Archie Mayo, Fritz Lang (Não creditado)
Roteiro: Jo Swerling, história por Samuel Fuller, Henry Walles
Elenco: Don Ameche, Joan Bennet, Roddy McDowall, John Loder, Raymond Walburn, Arthur Shields.
Duração: 74 min.

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