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Crítica | Curtas Baseados nos Filmes da Pixar – Parte 4

por Iann Jeliel e Davi Lima
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Pixar 
  • Acesse aqui nossas críticas sobre os outros curtas da Pixar.

Quarta e última parte de nossa jornada para cobrir todos os curtas da Pixar baseados em seus filmes originais. Dessa vez, falaremos de duas séries com curtas com os personagens da trilogia Carros (escritos por Davi Lima), além de outra série de curtas + 1 curta fílmico baseado nos personagens de Toy Story 4 (escritos por Iann Jeliel).
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Mater’s Tall Tales

Pixar 

O projeto de tornar Tom Mate, amigo engraçado e parceiro do protagonista Relâmpago Mcqueen do filme Carros, em protagonista de aventuras imaginativas demais para serem recusadas como mentira, é o centro protocolar de cada curta dessa série animada do universo automobilístico da Pixar em expansão. Com a direção de John Lasseter e co-diretores que vão engrenando em comando solos nos últimos episódios, como Rob Gibbs, a série circula em drifts contínuos em torno de uma fórmula narrativa que quando aglutinada demonstra como padrões “roteirísticos” podem ser bastante desgastados como entretidos pelo uso da criatividade.

Durante as três temporadas, com a mesma frase inicial “If I’m lying, I’m crying”, Mate suspende o mundo de Radiator Springs ao contar histórias, contos de grandes aventuras para seu amigo Relâmpago Mcqueen, sempre descrente em suas histórias. A fórmula de uma situação cotidiana em Radiator fomentar a narrativa de Mate e Mcqueen ser incluído nela numa espécie de deus ex machina é o formato geral de cada episódio. Nesse sentido, o que os diretores invariavelmente provocam é fazer o público se atentar, quer queira quer não, as diferenciações que cada aventura de Mate se perfazem na dúvida entre a mentira e a verdade, na ambiguidade de assim como Relâmpago saber ao final do episódio saber qual prova aparecerá comicamente para provar a “lorota” de Mate. 

Se na primeira temporada há um foco cômico em como Mate se coloca por cima de Mcqueen, independente da história ser verdadeira ou não, com um tom irônico e piada fundamentada na fragilidade que Relâmpago se coloca no ouvir e no participar da história contada pelo amigo, a segunda busca uma elaboração de roteiro, como várias emulações e referências a cultura cinematográfica de Hollywood, como John Lasseter faz nos filmes da Pixar. Progressivamente a terceira temporada não apenas assume seu formato, evidenciando a fórmula, passo a passo, como alcança o drama por meio disso e a auto comenta para contar uma viagem do tempo por Radiator Springs no último episódio. Não parece planejado, mas o que se inicia com referências às séries ER e Chicago para contar sonhos de Mate, terminam “adocicadamente” em como o personagem é capaz de realmente estar em todo lugar. 

No entanto, quanto mais a narrativa parecia enxertar novas referências, como Mate na Lua, Mate com upgrade japonês, ou Mate na Espanha como toureiro, mais havia perda cômica e a evidência da fórmula de fazia na tentativa de criatividade. Esse processo não é apenas desgastante como enfraquece a criatividade, tornando qualquer história de Mate dependente de um novo visual, um algo verossimilhante para sustentação, perdendo comédia e tornando a fórmula não mais a base, mas centro objetivo para colocar algo novo sem base, como um piloto automático. Talvez o diretor Rob Gibbs tenha demorado em perceber em como roteiros montados dos curtas dependessem de um trabalho intelectual de usufruto, como usar a piada de Mcqueen perguntar “What happened” quando ele mesmo é colocado por Mate na história, afirmando que ele estava lá, surgindo a quebra de expectativa. Apesar disso, o revés aplicado foi evidenciar o formato pelo drama e pela auto consciência dele. Nada mais nada menos que o ciclo de questionamentos artísticos de esgotamento de uma ideia que vai de um forte princípio humorístico a plenitude de Mate.

Mater’s Tall Tales (EUA, 2008-2014)
Criação: John Lasseter
Diretores: John Lasseter, Rob Gibbs, Victor Navone
Roteiristas: John Lasseter, Rob Gibbs, Bobby Podesta, Scott Morse, Bobby Rubio, Justin Wright, Valerie LaPointe
Elenco: Larry the Cable Guy, Keith Ferguson, Peter Sohn, Bob Peterson, Lindsey Collins, Elissa Knight, Bob Scott, Bret ‘Brook’ Parker
Duração: 11 episódios – 36 minutos na soma dos episódios
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Tales from Radiator Springs

Pixar 

O que pode animar os contos na cidade fictícia que o diretor John Lasseter criou para a Rota 66 é a interação personificada e desenvolvida no filme Carros. Os curtas que compõem a série animada estão para o cotidiano assim como um soluço, como abelhas irritantes e girar placa estão para o desfoco da vida instantânea. Apesar desse ponto positivo cada curta se denomina demais como essa quebra de um ordinário sem exigir dramatização ou problematização no pouco espaço de tempo de produção. Assim, a limitação se vale por quanto tempo possível se pode criar concentração na pontual raiz que os filmes da Pixar sobre Radiator Springs ensinaram: tirar proveito da passageira e longa viagem.

Complica-se que o esforço para criar histórias que buscam por essa concentração do público em geral são redundantes e pouco acrescentam a própria narrativa do curta, ou aos personagens já criados. Pode-se pegar exemplo de como cada curta foca em personagens, o primeiro em Relâmpago Mcqueen, e agrega a Sally como ser diferente da cidade. Também há a passividade e sensibilidade de Ruivo, as grandes habilidades de Guido e um pouco sobre a importância da estátua de Stanley para a população. Tudo gira em torno desses personagens secundários e como interagem com situações corriqueiras. Porém, não há nada além, o além que valha a pena capturar no cotidiano de um universo da Pixar quando a fonte disso já é a verossimilhança. Pode-se observar como o quarto curta que envolve um rally envereda para piadas constantes e elaboração de imagem na visão automobilística para entreter com ação, ou até exercício de gênero de terror, mas o curta soa desconjuntado em tanto desnorteamento próprio para ter atenção. 

Nisso, o melhor curta dos quatro desenvolvidos pela Pixar se baseia em tratar do foco e desfoco, atenção e desatenção para provocar uma piada, provocar uma quebra de expectativa extremamente feliz, mesmo que só razoável. Guido ao girar uma placa e conseguir público para ver seu show cria a dimensão da atenção no que ele faz e na dúvida quanto ao seu objetivo de ganhar clientela para seu patrão. Em linhas gerais é o que a série animada coloca em dúvida sem a mesma qualidade de Guido de apresentação, pois mesmo com personagens de personalidades verossímeis para um trabalho narrativo interessante, tudo o que se fundamenta é o corriqueiro como suficiente, sem nada mais.

Realmente difícil aproveitar a experiência de ver esses curtas de Carros, mesmo que também sejam inofensivos em duração e apelo não “rejeitoso”. A suportabilidade desses curtas está alinhado ao mesmo automático que ele preserva sobre o cotidiano, podendo ao menos levar em conta um pouco mais da mensagem de Radiator Springs, mas de maneira bem menos efetiva.

Contos de Radiator Springs (Tales from Radiator Springs | EUA, 2014 -2017) Pixar 
Criação: John Lasseter
Diretores: Dylan Brown, Jeremy Lasky, Rob Gibbs, Scott Morse
Roteiristas: Rob Gibbs, John Hoffman, Jeremy Lasky, John Lasseter, Jeff Pidgeon, Christian Roman, Nick Sung, Glenn Williamson
Elenco: Tony Shalhoub, Lloyd Sherr, Michael Wallis, Larry the Cable Guy, Bonnie Hunt, Cheech Marin, Paul Dooley, Guido Quaroni, Keith Ferguson, Owen Wilson, Jerome Ranft, Josh Cooley, Jenifer Lewis
Duração: 4 episódios – 5 minutos em média cada episódio
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Garfinho Pergunta

Pixar 

Poderia ser um educativo muito bom, se a proposta fosse correspondida como tal. Os títulos dos 10 capítulos da minissérie de curtas do Garfinho Pergunta, são somente um cliffhanger para gadgets de humor, que no formato de curta, tendem a ter reações extremistas, ou a piada funciona, ou ela não funciona.

Essa dependência poderia ser facilmente evitada se Bob Peterson também pensasse na piada como um exercício de conceituação básica das perguntas feitas. Garfinho era para ser como um neném que aprendeu a pouco a falar e faz perguntas sobre o significado de qualquer coisa em formato de vlog para ser mais chamativo as crianças, contudo, na prática, como demostra a piada final de O Que é Leitura? e a ótima – ironicamente – piada do episódio O Que é Queijo?, que o garfinho sabe de tudo que estaria perguntando e só estaria fazendo meio que trollando os entrevistados para promover uma interação divertida com eles. Tanto que geralmente os episódios se direcionam para piadas de falas existencialistas do Garfinho ou sobre a importância dele está junto com o convidado amigo, essas que nem na primeira vez funcionam, nem quando tentam ser quebradas, após se repetirem ao longo de pelo menos metade dos capítulos da minissérie.

E não dá nem para dizer que a outra metade é boa, porque o humor não é vitalício a um estilo, são piadas inconsequentes e “espertinhas” demais até quando conseguem o riso, o que traz um sentimento pouco genuíno ao humor de um alívio cômico que perde um pouco da sua autenticidade.

Garfinho Pergunta (Forky Asks a Question | EUA, 2019-2020) Pixar 
Criação: Bob Peterson
Direção: Bob Peterson
Roteiro: Bob Peterson
Elenco: Tony Hale, Bob Peterson, John Ratzenberger, Kristen Schaal, Mel Brooks, Carl Reiner, John Ratzenberger, Wallace Shawn
Duração: 10 episódios – 3 minutos cada episódio
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Aventuras de Betty

Pixar 

Não traz exatamente nada de novo da jornada de Betty, ainda que sua proposta seja justamente tentar complementar em história o caminho que a levou aos desdobramentos de Toy Story 4.

Seria mais benéfico o curta assumir um lado de reforço ao invés de complemento, utilizando a ideia da analogia do abajur como forma mais didática de posicionar a origem da independência de Betty como mote de sua libertação feminina. Acaba que se reduz ao conceito de brinquedo livre para o universo do Toy Story, mas isso já estava plenamente explicado e colocado no próprio filme, que utiliza o resto do tempo, sem o auxílio de analogias, já para desenvolver a personagem nesse sentido. Acaba que o curta no retomar da origem a precise involuir a protagonista para depois evolui-la até a chegada do mesmo ponto que estava no filme, o que acaba soando repetitivo, porque de fato essa ideia já tinha sido sobreposta antes.

Acaba que o curta não acrescenta informações ao raciocínio, mas tampouco reforça eles sobre uma perspectiva mais direta na curta duração. Funciona como um passatempo e possui aquele velho humor refinado de outros curtas da Pixar, mas acaba ficando genérico pelo pouco que oferece a mais.

Aventuras de Betty (Lamp Life | EUA, 2020)
Direção: Valerie LaPointe
Roteiro: Valerie LaPointe
Elenco: Annie Potts, Ally Maki, Jim Hanks, Emily Davis, Mila Crespo
Duração: 7 minutos

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