Número de temporadas: 4
Número de episódios: 88 – 22 episódios por temporada
Período de exibição: 8 de novembro de 2005 a 8 de maio de 2009
Há reboot? Não.
Fenômeno nas matinais televisivas brasileiras, Todo Mundo Odeia o Chris é uma sitcom inspirada na vida do ator e comediante Chris Rock que narra sua infância e adolescência no subúrbio marginalizado de Nova York. Seu primeiro episódio, como todo bom piloto, fará introdução à metodológica da estrutura da série, além de consolidar os principais elementos que a tornaram tão especial, pelo menos em território nacional, na comédia. As inspirações de Chris Rock no humor tem o aval de séries icônicas como Um Maluco no Pedaço e Eu, a Patroa e As Crianças, que pegavam a estrutural tradicional da comédia situacional, geralmente feita com grupos majoritariamente preenchidos por brancos, e contextualizava aquilo para a realidade negra, automaticamente gerando contrastes que alavancavam seu caráter de denúncia.
Um dos maiores méritos de Todo Mundo Odeia o Chris é não se limitar a essa réplica presa a um só cenário para fazer isso. Mesmo com limitações técnicas, a série faz questão de transitar entre diferentes locações que vão compondo o bairro como um grande personagem. Com o bairro sendo um personagem, a série dimensiona sua comédia aos setores desejados, tornar a rotina daquelas pessoas próximas o suficiente para soar natural aos olhos do público a forma como reagem ao cotidiano racialmente opressor, seja nas situações de racismo mais frontal, ou na própria sensação de naturalidade do convívio em clima de sobrevivência, a exemplo de Julius e Rochelle pagarem as contas sempre em atraso para conseguirem o que comer, ou a própria divisão da comida na casa conduzida por uma lógica econômica maluca de Julius.
O teor crítico do humor nunca se perde na ironia, pelo contrário, a ironia fortifica o caráter da denúncia e deixa tudo ainda mais engraçado por abraçar “o sujo” sem negar o clima familiar. Entendam o “sujo” como o inverso daquele humor mais “limpo” e politicamente correto das demais sitcoms que evita palavreados chulos ou situações mais absurdas. Apesar de ter crianças como protagonistas, a série já abraça o nonsense desde seu primeiro episódio, como demonstra a primeira briga de Chris com Caruso e tudo que gira em torno dela que é simplesmente icônico. A narração em off de Chris Rock no fundo serve como um ótimo aparato para as inserções desse nonsense serem coerentes, afinal, como narrador da própria história, ele se dá a liberdade poética de contar do jeito que quer, também traçando os comentários que quer.
Alguns deles são sensacionais, principalmente aqueles que trazem mini montagens dos personagens retificando o que ele falou sobre diferentes formas cada vez mais absurdas. Apesar de ser um recurso repetitivo, nunca soa forçado, porque o conteúdo muda de acordo com a forma da piada, tornando-se uma identidade da série. Nesse sentido, seu piloto já é muito bem-resolvido, tanto que assistir fora de ordem não faz tanta diferença, porque você pega outras piadas recorrentes do universo que não apareceram aqui, elas parecem já pertencer ao universo mesmo antes de aparecerem. Sinônimo de uma série que desde seu princípio sabia sua linguagem e a estabeleceu de forma rapidamente efetiva em conjunto aos seus ótimos personagens.
O que seria da série sem eles, não é mesmo? Apesar de alguns escanteados nesse piloto como Drew, Tônia e Greg, todos eles logo de cara nos conquistam por suas personalidades marcantes que trabalham arquétipos de forma muito humana. Poucos pais sisudos são tão humanos quanto o Julius de Terry Crews, assim como poucas mães berrantes são tão acolhedoras quanto a Rochelle de Tichina Arnold. E o restante do elenco, especialmente Tyler James Williams como Chris, só melhoraria seu timing cômico conforme os episódios. Verdade seja dita, assistir a Todo Mundo Odeia o Chris dublado traz um aconchego maior pelo show à parte que é o trabalho da equipe da VTI Rio, e obviamente, pela nostalgia de acompanhá-la nas manhãs antes do almoço. Contudo, independentemente do idioma ou nostalgia envolvida, a série continua divertidíssima e socialmente relevante desde seu primeiro episódio.
Todo Mundo Odeia o Chris – 1X01: Everybody Hates the Pilot | EUA, de novembro de 2005
Criação: Chris Rock, Ali LeRoi
Direção: Reginald Hudlin
Roteiro: Chris Rock, Ali LeRoi
Elenco: Tyler James Williams, Terry Crews, Tichina Arnold, Tequan Richmond, Imani Hakim, Vincent Martella, Travis T. Flory, Chris Rock
Elenco (Dublagem Brasileira): Renato Alcântara, Gutemberg Barros, Guilene Conte, Rodrigo Antas, Bianca Salgueiro, Diogo Ferreira, Philippe Maia, Luciano Monteiro
Duração: 22 minutos