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Crítica | Banshee – 3ª Temporada

por Ritter Fan
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  • Há spoilers. Leiam, aqui, a crítica da temporada anterior.

A 3ª temporada de Banshee tinha tudo para ser de longe a melhor, mas ela se auto sabota tanto que quase não consegue sair do nível das anteriores, ficando talvez tão pouco acima do material que veio antes que a diferença é, no frigir dos ovos, insignificante. É como acompanhar uma obra que mostra orgulhosamente todos os ingredientes para tornar-se algo mais do que apenas o que deu a impressão que seria, apenas para ver tudo ser misturado em quantidades erradas, gerando uma refeição que é boa, mas muito aquém do sabor que poderia ter tido se os showrunners tivessem conseguido simplesmente focar no que tinham à disposição, sem inventar moda.

Mas deixe-me começar pelo que a temporada faz muito bem, beirando a perfeição: toda a linha narrativa envolvendo Kai Proctor. O ex-Amish transformado em poderoso traficante de drogas local, envolvido em praticamente todos os grandes negócios da cidade e vivido sempre muito bem por Ulrich Thomsen é de longe o maior atrativo da temporada. Se a série já havia trabalhado, ainda que de forma acanhada, a complexidade do personagem nos anos anteriores, aqui ele ganha o destaque que merece. Com a doença terminal de sua mãe Leah (Jennifer Griffin, muito bem), Kai divide-se entre o bandido violento e impiedoso que domina o submundo de Banshee com mão de ferro e o homem que ele poderia ter sido se tivesse feito escolhas diferentes.

Sua relação física com Rebecca é posta em xeque e ele percebe o quão ela é errada, da mesma forma que ele começa a identificar que sua própria vida de gângster é condenável. É muito interessante como ele procura salvação espiritual em seu altar que ele quase que esconde – por vergonha, culpa e o que mais ele carrega em seus ombros – em seu porão secreto, muito claramente desejando purificação e reunificação com sua comunidade Amish, sendo aceito novamente como um deles. Seu afastamento de Rebecca e relacionamento com Emily Lotus (Tanya Clarke), ex-esposa de Brock – a forma como ela é introduzida do nada na temporada é um dos problemas crônicos dela, mas o uso da personagem como pedra de salvação de Kai é muito bom – é o primeiro sinal mais forte além do tratamento de Leah de que Kai poderia encontrar um novo caminho em sua vida. Não exatamente um caminho de bom-mocismo, claro, mas sim uma vida mais equilibrada, em que ele realmente pudesse encontrar algum tipo de felicidade.

Mas tudo é sabotado por sua pupila e amante Rebecca, em um misto de querer mostrar-se capaz e de ciúmes que coloca Kai em pé de guerra com a máfia que normalmente compra suas drogas e que acaba resultando em seus aprisionamento e, depois, sua vingança extrema. Assim como Michael Corleone, Kai é tragado de volta para seu mundo infernal e sem chance de expiação de pecados em sequências espalhadas ao longo da temporada – incluindo as envolvendo seu excelente guarda-costas Burton – que, em seu conjunto, são muito superiores aos demais acontecimentos e personagens.

Afinal, o restante ou é genérico ao extremo como a operação de guerra que Lucas Hood põe em movimento para roubar os militares ladrões, ou é mal conduzido como tudo que envolve Chayton, o nativo psicopata gigante, ou é pura e total galhofa que, porém, não é tratada como tal e ganha contornos de “coisa séria” o que, obviamente, só depõe contra a temporada. Começando pela galhofa, ela é representada principalmente pelo terceiro episódio que é dedicado à chegada de um novo agente do FBI Robert Phillips (Denis O’Hare) que sabe o segredo de Hood seguida do bandido Brantley (Shuler Hensley), de quem Jason Hood fugia na temporada anterior.

Se mais um agente do FBI foi forçado e desnecessário, a caracterização de Brantley como um obeso mórbido que só se locomove em um caminhão customizado e que estaria à vontade em um filme de Austin Powers é, pela falta de uma expressão melhor, absolutamente ridícula. Tudo não passa de uma sucessão de desculpas ruins para criar conflitos que levam a momentos como o que Hood joga Brantley pelo alçapão do caminhão, em uma tentativa vã para mostrar algo como “olha, como a série é violenta e ousada” enquanto que, na verdade, o resultado é inadvertidamente hilário e sem nenhum peso dramático. Mesmo a revelação de quem Hood realmente é para Siobhan ao final, que pareceu ser o objetivo de todo.

Falando na policial, seu violento fim pelas mãos gigantescas de Chayton foi outro momento feito para chocar que, na verdade, é mais uma abordagem sem sentido dada a um personagem – o nativo, não Siobhan – que parecia ser algo mais do que apenas um louco furioso. Ao transformá-lo em um sujeito qualquer cuja única diferença de outras centenas que encontramos em filmes e série por aí é ser um nativo, ter uma trança e pintar-se para a guerra, a temporada joga fora mais um personagem que poderia ter potencial, especialmente quando seu fim se dá de maneira pífia – e, novamente, feita para chocar, mas que parece galhofa de tão exagerado – em Nova Orleans.

E eu nem vou falar muito de Hood em si, pois seu bandido bonzinho unidimensional já deu o que tinha que dar. A tentativa da temporada de usar flashbacks como suas memórias traumatizadas da morte de Siobhan são como uma demão de tinta em sua personalidade que, porém, logo descasca para ele reverter ao que era mais uma vez. E toda a construção, no último episódio, sobre ele ter sido um agente secreto, com direito a mais um novo personagem genérico vivido por David Harbour, não só vem completamente do nada, como é uma “forçação” de barra inacreditável, daquelas de rolar os olhos de tão desnecessária.

A 3ª temporada de Banshee teve em Kai Proctor e tudo que orbita ao seu redor os exemplos de como se fazer uma temporada e, simultaneamente, em Lucas Hood e sua história tudo o que não se deve fazer. O resultado continuou sendo acima do apenas mediano e talvez uma nesguinha melhor do que o que veio antes, mas, mesmo assim, não é o suficiente para retirar a série de sua qualificação de “apenas boa, mas que poderia ser infinitamente melhor”.

Banshee – 3ª Temporada (EUA, 09 de janeiro a 13 de março de 2015)
Criação: Jonathan Tropper, David Schickler
Direção: Loni Peristere, Magnus Martens, OC Madsen, Greg Yaitanes
Roteiro: Jonathan Tropper, Halley Gross, Justin Britt-Gibson, Adam Targum, Chris Kelley, Jennifer Ames, Steve Turner
Elenco: Antony Starr, Ivana Miličević, Ulrich Thomsen, Frankie Faison, Hoon Lee, Rus Blackwell, Matt Servitto, Trieste Kelly Dunn, Ryann Shane, Lili Simmons, Geno Segers, Afton Williamson, Langley Kirkwood, Matthew Rauch, Tom Pelphrey, Chris Coy, Odette Annable, Jennifer Griffin, Chaske Spencer, Meaghan Rath, Tanya Clarke, Dennis Flanagan, Denis O’Hare, Shuler Hensley, David Harbour
Duração: 600 min. aprox. (10 episódios)

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