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Crítica | A Rocha

por Ritter Fan
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A filmografia de Michael Bay sempre deixou evidente seu estilo autoral agressivo de dirigir sequências de ação usando a maior quantidade possível de cortes, de cacoetes de câmera e de despejo constante de energia cinética sem se preocupar muito com algo desimportante como a história que deseja contar. Seu Os Bad Boys nasceu assim em 1995 e, no ano seguinte, A Rocha só vem confirmar essa primeira impressão. No entanto, esses dois filmes da fase inicial do diretor inegavelmente têm seu valor em termos de entretenimento descompromissado com algo a mais, sendo esse algo a mais caracterizado nos dois casos pelo relacionamento improvável, mas simpático e carismático da dupla principal e, no caso específico de A Rocha, pela adição de um vilão com ações temperadas que impedem a visão maniqueísta dele.

E é justamente com o vilão que o longa começa, contextualizando veloz, mas cuidadosamente suas motivações para começar uma operação militar para prender reféns na ex-ilha prisão de Alcatraz (mais conhecida como “A Rocha”) e apontar mísseis armados com gás mortal para São Francisco. A escalação de Ed Harris para o papel do general Francis X. Hummel ajuda muito na conexão empática do espectador com o vilão, já que o ator passa muito facilmente aquele tipo de determinação cega que tem base nobre que muito rapidamente coloca o personagem na fronteira entre vilania e heroísmo sem direção. Por outro lado, Nicolas Cage, que também ganha sua “apresentação” nesse começo como Stanley Goodspeed, agente do FBI especializado em armas químicas, parece que atua o tempo todo sob efeitos de drogas como êxtase ou algo semelhante, como se ele ainda estivesse comemorando seu Oscar de Melhor Ator obtido em Despedida em Las Vegas, do ano anterior. Em outras palavras, nenhuma sutileza e nenhuma tentativa de não parecer um doido varrido com olhar vidrado.

Mesmo com Cage “atrapalhando” o início, a cereja no bolo da ótima primeira hora de projeção vem com a introdução de Sean Connery como John Patrick Mason, espião britânico preso secretamente pelo FBI há 33 anos e que é a única pessoa que conseguiu fugir de Alcatraz (quero ver dizerem isso para Frank Morris…), ou seja, ele possui conhecimento valioso para que seja possível montar uma operação de resgate. Cabeludo e cheio de exigências – dentre elas ser tratado como um rei em uma suíte do Hotel Fairmont (onde a cena foi realmente filmada, aliás) -, além de ainda afiado na arte da fuga, Mason causa mais danos à São Francisco do que o gás que Hummel ameaça lançar somente em sua sensacional fuga pelas ladeiras da cidade, sequência essa que, vale dizer, é uma das melhores sequências de ação dirigidas por Bay, pois carrega todos os seus exageros de praxe, mas sem que ele perca o fio da meada.

O problema do longa, portanto, vem em sua segunda metade, com a execução do plano para libertar os prisioneiros e neutralizar o gás. Nessa segunda hora, o diretor tira completamente o pé do freio e coloca sobrepeso engordurado e repetitivo na narrativa, de certa forma fazendo a produção andar em círculos concêntricos que só são diferenciáveis pelo aumento da inverossimilhança entre cada um deles até chegar a um limite (que limite?) que torna o filme inadvertidamente hilário. Não ajuda a cada vez mais histriônica atuação de Cage, mas, por sua vez, o carisma e o charme irresistíveis de Sean Connery – que, esse sim, parece estar se divertindo muito nas filmagens em uma década que pode ser considerada como seu revival como herói de ação – funcionam como um bálsamo, algo que Bay percebe e usa o máximo possível, abrindo também espaço para Harris e seu obsessivo, mas inescapavelmente simpático general.

Aliás, é justamente no reconhecimento do valor de seu elenco que A Rocha consegue ser um Michael Bay fora da curva. Aqui, ainda é possível ver o cineasta colocando os personagens acima da ação, no máximo (ou no mínimo, depende de seu ponto de vista) em pé de igualdade, sem esquecê-los em prol do famoso “bayhem“. Sua assinatura hipercinética ainda está lá intacta, mas o diretor consegue alcançar um razoável equilíbrio que mantém as portas abertas para um bom lado humano. Não quero com isso dizer que a trinca principal de personagens é particularmente profunda ou complexa – mas tenho que admitir que o general de Harris carrega uma dualidade muito interessante -, mas sim que Hummel, Mason e Goodspeed não se perdem entre explosões, tiroteios e perseguições, mantendo sua integridade, por assim dizer.

A Rocha é, portanto, um ótimo divertimento desenfreado de começo de carreira de Michael Bay que mantém em xeque as propensões do cineasta ao mais completo exagero enlouquecido e à indução de ataques epilépticos e coloca sua dupla de heróis e seu vilão empático em posições de destaque no que pessoalmente considero o melhor trabalho do diretor. Um exemplo clássico do filme de ação noventista que se mantém agradável de se revisitar de vez em quando.

A Rocha (The Rock – EUA, 1996)
Direção: Michael Bay
Roteiro: David Weisberg, Douglas Cook, Mark Rosner (baseado em história de David Weisberg, Douglas Cook)
Elenco: Sean Connery, Nicolas Cage, Ed Harris, John Spencer, David Morse, William Forsythe, Michael Biehn, Vanessa Marcil, John C. McGinley, Gregory Sporleder, Tony Todd, Bokeem Woodbine, Jim Maniaci, Greg Collins, Brendan Kelly, Steve Harris, Danny Nucci, Claire Forlani, Stuart Wilson
Duração: 136 min.

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