Home FilmesCríticas Crítica | Berlin Alexanderplatz (2020)

Crítica | Berlin Alexanderplatz (2020)

por Roberto Honorato
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Baseado no clássico romance homônimo de Alfred Döblin, Berlin Alexanderplatz narra a trajetória de Francis (Welket Bungué), um imigrante resgatado no litoral do sul da Europa, que depois de passar por diversas provações, jura aos céus que será um homem melhor. Agora, um refugiado sem documentos e trabalhando ilegalmente em Berlin, Francis percebe que não será tão fácil manter sua promessa e acaba aceitando um convite para trabalhar ao lado de Reinhold, um alemão excêntrico que contrata pessoas para diversos serviços perigosos no submundo criminoso. Em uma situação difícil e sem opções, Francis precisa resistir a tentação de abandonar seu juramento.

Não é a primeira vez que essa história é adaptada para uma mídia audiovisual, já que até o diretor Rainer Werner Fassbinder tentou traduzi-la em uma minissérie de quatorze episódios na década de 1980. Dessa vez, o clássico recebe uma nova leitura pelas mãos de Burhan Qurbani, que decide manter a estrutura da narrativa original, mudando a ambientação para uma abordagem mais contemporânea. Podemos ver isso logo no apelo estético do longa, com uma fotografia que chama a atenção por todo o brilho do neon cobrindo as noites de Berlin e também escolhe alguns movimentos de câmera mais estilizados, como tomadas aéreas e planos longos, que são belíssimos.

A adaptação possui diversos pontos positivos, mas peca bastante em outros aspectos que podem ser impressionantes de um ponto de vista técnico, mas seriam melhor executados através de uma polida em certos elementos do roteiro, como o próprio protagonista. Ainda que a atuação de Bungué seja capaz de emocionar e entregar a complexidade de um refugiado passando por tantos conflitos internos, a forma como o filme se aproveita de outros personagens, como Reinhold (Albrecht Schuch), passa a dividir bastante a atenção do espectador por parecer que a narrativa está dando mais voltas do que o necessário, e também por conta da ótima atuação de Schuch, não só facial e na entrega das falas, mas corporal, com a forma como se contorce e rouba as cenas com uma presença tão forte, que por vezes beira a caricatura, mas nunca deixa de ser intimidadora e envolvente.

Ao longo das mais de três horas de rodagem, o filme faz um excelente trabalho em manter um ritmo consistente e evitar uma execução morosa, e muito disso se dá por um trabalho de direção de arte que soube se aproveitar de sobreposições e transições inventivas, além de rimas visuais que fortalecem a jornada cíclica do protagonista. Outras decisões criativas apropriadas envolvem a narração bíblica e poética de Jella Haase, no papel de Mieze, que traz o prelúdio de uma tragédia iminente em seu tom de voz melancólico que conversa com alguns segmentos mais oníricos da fotografia.

Fotografia essa que pode lembrar um pouco a abordagem de diretores como Nicolas Winding Refn ou Gaspar Noé, mas a diferença é que aqui o apelo estético parece carregar mais sentido do que servir como um chamariz narrativo, o que às vezes parece ser o caso em algumas obras dos dois, comprometendo um senso de coerência entre os elementos visuais e os temas apresentados. As três horas de duração de Berlin Alexanderplatz intimidam, e a trama pode ficar um pouco repetitiva, até previsível, mas há um visual sedutor e um ritmo que nunca cansa, apresentando uma cidade cheia de vida capturada por uma câmera que também evidencia seu lado sombrio, assim como a tragédia anunciada de Francis.

Berlin Alexanderplatz (Alemanha, 16 de Julho de 2020)
Direção: Burhan Qurbani
Roteiro: Albrecht Schuch, Jella Haase, Welket Bungué, Nils Verkooijen, Joachim Król, Annabelle Mandeng, Lena Schmidtke, Mira Elisa Goeres, Thomas Lawinky, Derek Meinsenburg
Duração: 183 min.

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