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Crítica | Miss Marx

por Rodrigo Pereira
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Assim como tantos outros pensadores do passado, Karl Marx e sua obra continuam sendo debatidos mesmo tanto tempo após sua morte. Seja através de análises políticas favoráveis ou contrárias ao pensamento do grande sociólogo ou de adaptações nas mais variadas mídias, Marx continua vivo e causando grande rebuliço sempre que seu nome é trazido à tona. Uma prova absolutamente recente disso é Miss Marx.

Apesar de estar presente, o filme dirigido por Susanna Nicchiarelli não é exatamente sobre o filósofo alemão, mas sobre Eleanor “Tussy” Marx (Romola Garai), sua filha caçula. A obra acompanha a jovem a partir do falecimento de seu pai, em Londres, com Eleanor seguindo seus passos na política, envolvendo-se com atividades do partido, demais socialistas e sendo pioneira em vincular os temas feminismo e socialismo. Sua militância, entretanto, acaba dificultada quando conhece Edward Aveling (Patrick Kennedy), um dos integrantes de seu partido e posteriormente seu marido.

Desde o início da projeção fica bastante claro a maneira como Nicchiarelli pretende contar sua história. Ao abrir com a cena do funeral de Karl Marx (Philip Groning), com Tussy rodeada por família, amigos e pessoas ligadas à vida política, a diretora marca sua intenção de abordagem tanto das questões privadas quanto públicas de sua protagonista. Porém, o resultado não é igualmente satisfatório.

Enquanto o âmbito particular consegue cativar, principalmente desenvolvendo bem a trágica relação amorosa com Edward, seja através de sua compulsão em gastar dinheiro ou das traições no relacionamento, as lutas em que a protagonista estava envolvida recebem muito menos espaço de tela. Eleanor foi uma defensora do socialismo, dos direitos iguais entre gêneros, do fim do trabalho infantil e sufragista, mas toda sua atuação política se resume a pequenos momentos em fábricas, manifestações ou conferências do partido, expondo uma desarmonia incômoda nos núcleos narrativos.

Felizmente, não é algo capaz de estragar completamente a experiência. O egoísmo do marido, as relações fraternais, as sequências de cumplicidade com Friedrich Engels (John Gordon Sinclair) e demais camaradas e demais momentos criam uma projeção multifacetada que prende nossa atenção para os acontecimentos seguintes. Tal qual o excelente design de produção. 

Com o filme se passando na capital inglesa do final do século XIX, somos apresentados a cenários esteticamente encantadores, mas que não se limitam somente a isso. Além da direção fazer bom uso deles, com a câmera os explorando junto de seus personagens, seus elementos também são utilizados para demarcar algumas emoções. Logo após contar para Engels que pretende se casar com Edward, por exemplo, vemos Eleanor e seu futuro marido em jardim com uma parede metade de concreto e metade sendo tomada pela vegetação, como se estivessem construindo algo aos poucos. Em seguida, ela olha para cima e vê Engels os observando pela janela com uma vegetação morta em sua frente, marcando tanto sua contrariedade àquela união quanto seus últimos anos de vida.

Como um filme de época, Miss Marx encontra seus melhores momentos, criando ambientes e relações bem construídos, assim como seus figurinos de maneira geral. Já como uma obra política explora pouco de um universo tão cheio de possibilidades seja pelo tema em si ou por sua personagem principal, deixando a desejar nessa área. Ainda assim, o filme apresenta um resultado envolvente o suficiente para que não passe completamente batido.

Miss Marx – Bélgica, Itália, 2020
Direção: Susanna Nicchiarelli
Roteiro: Susanna Nicchiarelli
Elenco: Romola Garai, Patrick Kennedy, John Gordon Sinclair, Felicity Montagu, Karina Fernandez, Emma Cunniffe, Philip Groning, George Arrendell, Célestin Ryelandt, Oliver Chris
Duração: 107 min.

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