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Crítica | Amor e Monstros

por Ritter Fan
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Tenho a mais absoluta certeza que o pitch desse filme para a Paramount foi algo como “trata-se de um Zumbilândia light com monstrengos no lugar de zumbis e com uma pegada mais romântica”. Isso e “temos Dylan O’Brien, de Maze Runner, à bordo” deve ter sido o suficiente para a produtora embarcar nessa obra que é exatamente isso que descrevi acima e que não esconde em momento algum sua despretensão e sua mais pura vontade de entreter no estilo oitentista e noventista ao mesmo tempo que entrega belos efeitos práticos e digitais, além de um protagonista carismático, que convence como o covarde inútil perdidamente apaixonado que sai em uma jornada de 89 milhas para chegar até o amor de sua vida que, claro, faz dobradinha com a boa e velha jornada de autoconhecimento e amadurecimento.

Sete anos depois que o apocalipse chegou em razão da mutação de alguns bichos escrotos que começaram a sair dos esgotos em tamanhos descomunais (só seres com potencial de virarem monstros feiosos é que foram alterados em uma conveniência narrativa hilária), a população humana sobrevivente vive em esconderijos subterrâneos, formando pequenas comunidades autossustentáveis que vive em constante pavor da superfície. Joel (O’Brien) é o membro solitário de um desses grupos, tendo como função basicamente consertar o rádio e cozinhar minestrone, já que ele congela toda vez que se depara com um bicharoco. Cansado de se sentir sozinho mesmo estando em grupo – todos os demais ao seu redor são casais -, ele parte para achar sua namorada pré-fim do mundo, Aimee (Jessica Henwick, a Coleen Wing de Punho de Ferro, basicamente a única coisa boa da série), com quem ele vem se comunicando pelo rádio.

O que segue é mais ou menos padrão para histórias assim. Joel se junta ao simpático cachorro Boy e, depois, a uma improvável dupla de veteranos da estrada, Clyde (Michael Rooker) e a menininha durona Minnow (Ariana Greenblatt) e enfrenta sua dose de monstros variados que o design de produção e a equipe de efeitos, muitos deles práticos, um mérito a mais para o filme, esmera-se em entregar com uma certa constância. O que há de diferente – e isso não é spoiler algum – é que a jornada em si não é aquela dificuldade toda que os habitantes do subterrâneo imaginavam, o que de certa forma subverte o que se espera desse tipo de filme, ao mesmo tempo que contribui para a bem-vinda abordagem mais juvenil da obra, o que ajuda a amplificar o carisma tanto de O’Brien quanto de Henwick.

O roteiro de Brian Duffield (Insurgente, A Babá) e Matthew Robinson (Dora e a Cidade Perdida) sabe utilizar muito bem todos os clichês do gênero sem parecer uma mera repetição do que já conhecemos. Há uma boa cadência de acontecimentos e um trabalho cuidadoso para manter o espectador constantemente encantado pelo protagonista que muito claramente “cresce” a olhos vistos na jornada de poucos dias entre esconderijos subterrâneos. Além disso, a presença da dupla formada por Rooker e Greenblatt cumpre bem a função de tornar mais crível a sobrevivência de Joel, com um final para ela que é…, digamos…, curioso pela sua mais absoluta simplicidade, um efeito que os roteiristas não conseguem repetir com o cachorro Boy. O’Brien, que também serve de narrador exatamente como em Zumbilândia, nunca desaponta com seu jeito estabanado, mas amoroso de ser e, mesmo que o jovem ainda esteja longe de demonstrar habilidades dramáticas fora do comum, ele certamente esbanja simpatia e carisma para sustentar a história apenas sobre seus ombros quando o roteiro exige.

O diretor sul-africano Michael Matthews, em apenas seu segundo longa, com o primeiro – o faroeste Five Fingers of Marseilles – sendo desconhecido no circuito internacional, mas muito bem quisto em seu país natal, mostra grande comando da narrativa, mantendo a leveza da história sem se furtar em estabelecer tanto alguns momentos tensos quanto outros que chegam a ser até comoventes, como a bela conversa de Joel com a robô Mav1s (Melanie Zanetti). Mesmo descaradamente abrindo as portas para uma continuação, o que, claro, poderia ter sido evitado, mas, se duvidar, foi exigência da produtora, Amor e Monstros tem uma aura positiva, daquelas de deixar o espectador com um sorriso estampado no rosto quando os créditos começarem a rolar. Isso, hoje em dia, por si só, se vem como consequência de uma obra que oferece mais do que o básico rasteiro como é o caso aqui, é um bônus que tem grande valor. Afinal, o apocalipse só é o fim se realmente desistirmos da humanidade.

Amor e Monstros (Love and Monsters, EUA/Canadá – 16 de outubro de 2020)
Direção: Michael Matthews
Roteiro: Brian Duffield, Matthew Robinson (baseado em história de Brian Duffield)
Elenco: Dylan O’Brien, Michael Rooker, Ariana Greenblatt, Jessica Henwick, Dan Ewing, Donnie Baxter, Ellen Hollman, Melanie Zanetti, Amali Golden, Tandi Wright, Tasneem Roc, Larry Cedar, Damien Garvey, Dan Ewing, Miriama Smith, Te Kohe Tuhaka, Donnie Baxter, Senie Priti, Pacharo Mzembe, Thomas Campbell, Arthur Costa, Joel Pierce, Andrew Buchanan
Duração: 109 min.

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