Home FilmesCríticas Crítica | A Porteira (The Doorman)

Crítica | A Porteira (The Doorman)

por Ritter Fan
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Que A Porteira é uma cópia descarada de Duro de Matar ninguém tem dúvida alguma. O problema não é esse. Nem de longe, na verdade. A questão é que exatamente por ter Duro de Matar como inspiração (só para usar um eufemismo simpático), um dos melhores filmes de ação já feitos, é que seria razoável esperar-se pelo menos alguma coisa de nível, mesmo considerando o baixo orçamento da produção e as limitações naturais que decorrem daí, mas que por vezes acabam resultado em soluções criativas. Mas não, A Porteira literalmente deixa toda a inspiração na porta e parte para uma abordagem genérica que nada apresenta de realmente interessante.

E olha que a história é baseada na ideia de duas pessoas e roteiro de outras duas, ou seja, nada menos do que quatro mentes fizeram “toró de palpites” para chegar no texto final do longa que coloca a ex-Marine Ali (Ruby Rose, por sua vez a ex-Batwoman) como porteira de um daqueles prédios de luxo de Nova York que são conhecidos pelo nome – no caso, The Carrington – que, durante uma reforma geral em que quase todos os moradores se mudaram temporariamente, é invadido por uma equipe liderada por Victor Dubois (Jean Reno, muito distante de seu clássico Léon) que deseja localizar pinturas que estariam escondidas por lá. A coincidência com a trama de Force of Nature, do mesmo ano, é a única surpresa do longa que se baseia em óbvios ululantes seguidos de clichês mal executados para tentar criar tensão.

Contando com um preâmbulo que só existe para justificar algum tipo de isenção fiscal perante o governo da Romênia e que, por incrível que pareça, é a melhor sequência do longa, o filme não demora a inserir uma questão de família na narrativa que coloca Ali trabalhando no mesmo prédio onde mora seu cunhado com dois filhos e que, claro, ainda estão por ali para servirem de convenientes reféns aos ladrões. Nada errado nesse artifício, pois, afinal de contas, é Duro de Matar a gênese de A Porteira. Bastava então que Ryûhei Kitamura dirigisse sequências de ação boas (vejam como sou bonzinho desejando apenas cenas boas e não ótimas ou excelentes) e que Ruby Rose demonstrasse que pelo menos sabe convencer ao sair no tapa e ao portar armas e pronto, a diversão descompromissada estava mais do que garantida.

Mas não é isso que acontece. Kitamura parece diretor de primeira viagem e brinca irritantemente com a câmera, ora girando-a incessantemente, ora fazendo tomadas que parecem filmagens de montanha-russa e jamais criando algum sentido de urgência. Claro que o roteiro não ajuda ao fazer de Victor Dubois o bandido mais falastrão da face da Terra, literalmente o proverbial cão que ladra, mas não morde, o que só contribui para a trama arrastar-se, cabendo ao bandido número 2, o psicopata Borz (Aksel Hennie) o pouco de divertimento que o filme oferece. Se Rose pelo menos correspondesse às expectativas, daria para fazer uma limonada com esse limão. No entanto, ela não só não convence em nada como ex-Marine e como tia de duas crianças, como suas coreografias são infelizmente lentas demais, com Kitamura contribuindo para o problema ao jamais acertar o ponto entre o quanto mostrar e o quanto acelerar a montagem para tornar a pancadaria mais dinâmica e urgente (olha eu aqui pedindo mais e não menos cortes – a que ponto chegamos…).

A Porteira é mais um filme que acha que a estrutura de espaço confinado e elenco diminuto, por si só, basta para resultar em algo bacana. E, como se sabe, o buraco é muito mais embaixo, pois, muito ao contrário, é justamente em situações restritivas como essa que o cineasta e o elenco precisam ir além do básico para justificar a existência da obra, algo que, aqui, é amplificado pelo baixo orçamento, terreno fértil para a criatividade. Duro de Matar merecia que pelo menos suas cópias fizessem jus ao legado…

A Porteira (The Doorman, EUA – 09 de outubro de 2020)
Direção: Ryûhei Kitamura
Roteiro: Lior Chefetz, Joe Swanson (baseado em história de Greg Williams e Matt McAllester)
Elenco: Ruby Rose, Jean Reno, Louis Mandylor, Rupert Evans, Aksel Hennie, David Sakurai, Philip Whitchurch, Julian Feder, Hideaki Itô, Jamie Satterthwaite, Kíla Lord Cassidy, Dan Cade
Duração: 97 min.

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