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Crítica | Suor (2020)

por Rodrigo Pereira
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Quanto tempo você costuma passar em suas redes sociais? Como é sua relação com elas? O quão dependente você é? Na Era digital que vivemos essas são algumas perguntas que se já não estamos acostumados, já ouvimos alguma vez. Há um entendimento cada vez maior que podemos ser afetados negativamente por conta dessas redes, onde é comum mostrarmos somente as conquistas e o lado positivo da vida, criando uma persona de nós mesmos, ainda que inconscientemente.

Se nós, reles mortais, somos influenciados pelos mais diversos perfis e comportamentos diferentes oriundos dessas plataformas, como isso afeta o lado dos influenciadores digitais? Suor, de Magnus von Horn, nos convida a adentrar nesse mundo e refletirmos um pouco sobre tais questões.

Integrante da seleção oficial do Festival de Cannes 2020, a obra do diretor sueco se passa na Polônia, onde acompanhamos três dias do cotidiano de Sylwia Zajac (Magdalena Kolesnik), uma digital influencer fitness com 600 mil seguidores no Instagram. Com uma legião de fãs, patrocínios das mais variadas empresas e uma agenda de trabalho lotada, ela é a musa do momento no mundo dos exercícios físicos e tem uma vida aparentemente perfeita. As aparências, entretanto, costumam enganar.

Ainda que receba diversas manifestações de afeto e carinho de seus fãs, Sylwia sente um enorme vazio em sua vida pessoal. O realizador contrasta muito bem essas situações com sequências como a inicial da obra, em um shopping lotado de pessoas para uma aula com a influenciadora, e os momentos na casa dela, um espaçoso apartamento com somente seu cachorro para dividir os momentos íntimos. Essa realidade é algo que incomoda profundamente Sylwia, pois tudo o que mais almeja é alguém para compartilhar esses momentos, amar e ser amada por quem, de fato, é.

É algo que cria um conflito de identidade nela. Sempre que a vemos sorrir e feliz é quando está compartilhando algo em suas redes, criando essa persona perfeita que nada reflete seu interior e suas verdadeiras vontades. A direção materializa esse conflito de maneira muito interessante ao utilizar espelhos e reflexos da influenciadora neles, quase sempre os encarando, um exercício que esteticamente rememorou-me o que Agnès Varda fez em Cléo das 5 às 7.

Sylwia sente um incômodo tão grande lidando com essa questão que acaba dificultando muito o relacionamento com sua mãe, Basia (Aleksandra Konieczna). O almoço em família para comemorar o aniversário de sua progenitora tem momentos de tensão entre as duas porque Basia, depois de muito tempo solteira, está namorando. Mesmo que diga estar feliz, é evidente sua irritação ao constatar que até sua mãe encontrou alguém para dividir momentos pessoais enquanto ela continua sem ninguém. Talvez a melhor cena do filme encontra-se nessa passagem, quando Sylwia é mostrada na mesa entre sua mãe e seu novo padrasto e tem sua figura espremida entre os dois, como se estivesse sendo oprimida por aquele pensamento constante.

Além de não conseguir saciar essa grande vontade, sua fama traz situações das mais asquerosas, como o stalker fissurado em sua figura ou seu colega Klaudiusz (Julian Świeżewski) assediando-a após uma festa. Para piorar, ela parece presa a essa realidade, como se já tivesse perdido o controle e estivesse simplesmente seguindo o fluxo do rio.

A prova disso é quando comenta que seria muito fácil acabar com tudo, bastando excluir sua conta do Instagram e ninguém lembraria dela. Seja pela dependência de atenção ou financeira (esse tornou-se seu trabalho, afinal), Sylwia não consegue se desligar, tornando-se refém de uma realidade que não faz mais sentido para ela (se é que algum dia fez).

Suor expõe o potencial tóxico das redes sociais digitais com maestria, explorando o cotidiano de uma pessoa que teve sua humanidade raptada e transformada em produto. De nada importa suas vontades, individualidades e sentimentos, como fica claro na entrevista do programa de televisão ao final da obra, satisfaça-se com a função que adquiriu dentro de nossa moderna sociedade mercadológica e a repita exaustivamente. Nem mais, nem menos.

Suor (Sweat) – Polônia, Suécia, 2020
Direção: Marcus von Horn
Roteiro: Marcus von Horn
Elenco: Magdalena Kolesnik, Aleksandra Konieczna, Julian Świeżewski, Zbigniew Zamachowski, Tomasz Orpinski, Lech Lotocki, Magdalena Kuta
Duração: 105 min.

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