Home TVTemporadas Crítica | Pure Genius – A Série Completa

Crítica | Pure Genius – A Série Completa

As peripécias do investidor James Bell e do Dr. Walter Wallace

por Leonardo Campos
530 views

Excesso de estereótipos, ambição desmedida de um dos protagonistas e outros problemas de ordem dramática fizeram de Pure Genius uma série com cheiro de cancelamento a ser farejado desde o seu primeiro episódio. Lançada entre 2016 e finalizada em 2017, com apenas uma temporada de 13 episódios, o drama médico deixa de lado as emoções efusivas dos atendimentos emergenciais e parte para a tranquilidade de um centro hospitalar luxuoso e estruturalmente equipado para dar conta dos casos mais estranhos que possamos imaginar, com transtornos, deficiências e desdobramentos de desastres e acidentes que a maioria daria como caso perdido. Para o bilionário e investidor James Bell (Augustus Prew), no entanto, nada é impossível e suas pressões fazem a equipe acreditar na possibilidade de resolver todos os casos. Ele é do tipo que se me visse morrendo e sem a chance de ter conhecido a Confessions Tour, uma das mais incríveis turnês da Madonna, a pagaria para montar tudo de novo e me colocar num lugar sofisticado para assistir. Parece exagero, não é mesmo? Mas é o tom da série.

E talvez tenha sido os excessos do tipo que impediram a série de avançar para além da primeira temporada. Os interessados em dramas médicos se envolvem, assistem até o final, mas sentem que durante a produção, há um esquema narrativo muito forçado, com personagens interessantes inicialmente, mas envernizados pelos estereótipos que passamos a detestar em Grey’s Anatomy, a cansativa série criada por Shonda Rhimes ainda em exibição e renovação de temporada para contar ninguém mais sabe o quê e transformar algumas figuras ficcionais cativantes em caricaturas chatas que já foram brilhantes em momentos anteriores. Criada por Jason Katims e Sarah Watson, Pure Genius possui um argumento interessante, mas peca em sua execução. Na sala de roteiristas, Andrew Hinderaker foi o dramaturgo dominante, com seis episódios assinados, diferente da cadeira de direção, assumida por diversos “comandantes”.

Trajados pelos figurinos assinados por Roemehl Hawkins, ora com as fardas e adereços hospitalares, ora com roupas estilosas que demarcam as suas dimensões físicas e sociais, os personagens centrais de Pure Genius atravessam os corredores do centro de atendimento sempre acompanhados da condução musical de Will Bates, compenetrada e sem muitos acordes melodramáticos, dando ao trajeto dos personagens a densidade necessária para a passagem pelos 13 episódios que encerram com ganchos em aberto para continuidade, alguns até interessantes, mas outros descartáveis de tão estereotipados e frágeis. Neste esquema voltado ao que os médicos chamam constantemente de o futuro da medicina, temos casos de manipulação de sintéticos e células-tronco, cirurgia robótica, telemedicina, dentre outros casos, bancados por James Bell, mas sempre supervisionados ou realizados por Dr. Walter Wallace (Dermot Mulroney), também protagonista, médico que perdeu o seu emprego noutra cidade e é levado ao Vale do Silício pelo jovem bilionário empreendedor para a nova fase de sua vida.

Importante delinear que existe bondade por parte de Bell, mas por detrás de suas ações que buscam compreender casos raros para desvendar e resolver, temos também as suas inseguranças em torno da Síndrome de Gerstmann Straussler-Scheinker, doença degenerativa que o acomete. Rara e fatal, ela pode se manifestar dos 20 aos 60 anos entre os homens e ganhou esse nome por causa dos médicos que a classificaram por volta de 1936. Dentre os seus sinais, temos a ataxia progressiva, demência, tremores, dificuldades de andar, surdez progressiva, dentre outras disfunções que podem dar até 5 anos de vida após o desenvolvimento dos primeiros sintomas. Na série, James Bell já começou a apresentar levemente alguns, situação que o leva a querer desvendar logo mais material sobre o problema e evitar ter o destino de um dos personagens próximos ao desfecho, em estágio já avançado. É uma figura colocada como contraponto para a condição do protagonista, levada até o 13º e último episódio.

Para a maioria das ações de pesquisa realizadas em Pure Genius, a equipe de médicos precisa da aprovação do Conselho Federal de Medicina. Não é preciso ser adivinho para saber que em algum episódio, o ego e a impulsividade de alguns profissionais levarão o centro de atendimento aos olhos da justiça, pois algum procedimento será realizado sem autorização, etc. Com uma equipe que trabalha geralmente coesa, todos os casos da série são debatidos logo na abertura do episódio. Numa sala específica para esse encontro, cada um traz a sua contribuição e juntos eles se desdobram para tentar desvendar e resolver o problema do paciente da unidade dramática em questão. Completam o quadro: a neurocirurgiã Dra. Talaikha C. (Reshma Shetty), dispersão para o Dr. Wallace, homem em nova fase, mas que largou a esposa e filho em outra cidade para se reinventar e depois retomar o casamento no modelo presencial tradicional; Dra. Zoe Brockett (Odette Annable), pediatra que trabalha firme sempre e é desejada pelo “desajeitado” James Bell.

Ela não percebe, ou não se interessa pelo chefe, por isso se envolve com o médico remoto, Dr. Malik Verlaine (Aaron Jennings), responsável por fazer o monitoramento remoto dos pacientes. O Dr. Scott Strauss (Ward Horton) é um neurologista de formação exemplar, além de ser padre. Misterioso, ele desperta o interesse da renomada Angie Cheng (Brenda Song), engenheira biomédica que é a alma dos laboratórios em Pure Genius. Essa ciranda de amores e paixões no ambiente de trabalho se explica diante do estereótipo sobre médicos não conseguirem ter vida social. É como nos dramas criminais e nas séries sobre advogados. As pessoas não viajam, não conseguem um jantar sem ter que correr para ajustar uma válvula aórtica e dificilmente possuem conexões familiares. Prova disso é o sétimo episódio, natalino, com todos a se aglomerar, gradativamente, diante da televisão de uma sala de descanso para assistir ao clássico A Felicidade Não Se Compra, de Frank Capra. Se não tem para onde ir, ficar é uma possibilidade.

Para nos contar a história de paixão pela pesquisa e amor pela medicina do futuro, os realizadores tiveram Tim Bellen e Curtis Wehr como diretores de fotografia, responsáveis por criar o tom tecnológico das imagens internas do centro de atendimento, setor eficiente em seu processo imersivo, tal como o design de produção, também produzido em dupla, assinado por Steven J. Jordan e Steve Hardie. Além de gerenciar os cenários de Peggy Casey, importante para a dinâmica dramática de cada caso médico exposto, a dupla também trabalha em paralelo ao supervisor de efeitos visuais, Tyler Foell, e o supervisor de maquiagem, Thomas Floutz, o primeiro para os gráficos e demais manipulações da imagem para fazer os personagens e nós, espectadores, acompanharmos a alta capacidade tecnológica do lugar e, o segundo, nos efeitos de próteses e afins, entrega as imagens cirúrgicas para que possamos comprar a ideia de periculosidade permeada nas passagens com procedimentos delicados.

Ademais, dentre os principais casos médicos, temos: uma mãe com câncer avançado precisa salvar o seu feto antes que a doença avance, as pernas de uma criança são esmagadas após um atropelamento e a equipe utilizará parafusos de seda de aranha para evitar que o pequeno passe pela traumática experiência de amputação. Além desses procedimentos, um paciente que sofreu com um acidente de carro agora vive um processo de regressão de memória e precisa de uma ampla varredura cerebral para os devidos cuidados neurológicos, caso estudado no mesmo episódio do homem obeso que descobre tumores que induzem a sua compulsão alimentar. Uma professora do ensino fundamental de James Bell é trazida para uma cirurgia do menisco, mas acaba descobrindo um câncer renal perigoso, conflito resolvido em paralelo ao militar cego que chega com dores absurdas nas costas e precisa passar por uma ampla avaliação. Há um caso de cirurgia remota bem curioso e outros tantos casos de pessoas que voltam a andar, enxergar e até mesmo ampliar as suas chances de viver, coisa que a CBS não permitiu para a série.

Pure Genius (Idem, Estados Unidos/2003-2010)
Criação: Jason Katims, Sarah Watson
Direção: Vários
Roteiro: Vários
Elenco: Dermot Mulroney, August Prew, Odette Annable, Reshma Shetty, Brenda Song, Aaron Jennings, Ward Horton, Randy Perry
Duração: 45 min. (Cada episódio – 13 episódios no total)

Você Também pode curtir

Este site usa cookies para melhorar sua experiência. Presumimos que esteja de acordo com a prática, mas você poderá eleger não permitir esse uso. Aceito Leia Mais