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Crítica | Fargo – 4X03: Raddoppiarlo

por Ritter Fan
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  • spoilers. Leiam, aqui, as críticas de todo nosso material sobre Fargo.

Fargo sempre foi uma série cheia de personagens bizarros, pelo que não é nenhuma novidade a presença deles na tão esperada e tão atrasada 4ª temporada. No entanto, Noah Hawley parece ter aberto a jaula de sua mente insana nesse novo ano da série, pois, entre a enfermeira maluca Oraetta Mayflower, o policial cheio de tiques Odis Weff, o italiano psicopata Gaetano Fadda, a dupla de ladras lésbicas Zelmare Roulette e Swanee Capps e, agora, o policial federal e diácono mórmon Dick “Deafy” Wickware (Timothy Olyphant), a coleção de seres esdrúxulos e extravagantes parece a maior de todas até agora.

E o mais impressionante é que não só eles todos são muito divertidos – meu preferido é sem dúvida alguma Gaetano e sua sede de poder -, como o roteiro de Hawley conseguiu equilibrá-los eficientemente em Raddoppiarlo, inclusive dando-se o luxo de voltar um pouco no tempo para introduzir Deafy de maneira mais completa no lugar de apenas partir do cliffhanger de The Land of Taking and Killing, com Olyphant novamente usando seu tino cômico para construir um personagem com grande potencial para a série. Com isso, o showrunner soube dividir de maneira quase equânime a atenção do espectador e as sub-tramas, algo que não tinha conseguido fazer antes ao destacar Oraetta talvez mais do que o necessário.

Mais até, Raddopiarlo finca a “bandeira de Fargo” em definitivo na série ao já permitir que enxerguemos pelo menos o contorno básico da comédia de erros a partir de uma guerra entre facções mafiosas que provavelmente começará pelas razões mais erradas e desconectadas possíveis, de um lado Gaetano fazendo o que quer no vácuo de poder de seu pai e aproveitando-se da fraqueza de Josto para promover um atentado a Lemuel Cannon (Matthew Elam) e, de outro, Zelmare e Swanee assaltando a casa de apostas de Loy Cannon depois que Swanee devora a torta envenenada de Oraetta, coincidentemente fazendo parecer ataques concertados. Típico Fargo, sem dúvida alguma, o que já me permite respirar mais aliviado depois de os dois episódios iniciais terem rateado um pouco.

No entanto, curiosamente e provavelmente diante dos diversos e floridos personagens que listei acima, Chris Rock, em tese o protagonista, não conseguiu achar seu espaço ainda. Apesar do bom monólogo diante do drogado que lhe pede dinheiro, sua participação até agora tem sido no máximo burocrática, quase totalmente apagada, com o Doctor Senator do ótimo Glynn Turman dando voltas e voltas ao redor de Loy sem qualquer esforço. E esse aspecto curioso fica ainda mais agudo quando notamos que a contrapartida italiana de Loy, o Josto Fadda de Jason Schwartzman, já encontrou seu espaço, algo que reputo muito mais à forma como o roteiro posicionou o personagem como um chefe fraco, que deseja matar o diretor do hospital que rejeitou tratamento a seu pai e que encetou, à sua revelia, um relacionamento para lá de estranho – e hilário – com a enfermeira assassina, do que ao ator. Resta esperar para ver se Rock ganhará o destaque que merece, algo que, aliás, faltou também à Ethelrida, antes praticamente a narradora da história e, aqui, nada mais do que uma extra.

Ben Whishaw também começou a aparecer mais destacadamente aqui como Rabbi Milligan, o jovem que foi trocado duas vezes para evitar guerras entre facções mafiosas, tendo assassinado seu próprio pai ao final da segunda. Vivendo sob o teto dos Faddas mais ou menos como Harry Potter embaixo da escada, fica evidente que o personagem tem seu próprio código de honra, sendo muito mais inteligente – e até ameaçador – que sua aparência frágil deixa entrever. Será interessante ver como esse personagem evolui, especialmente agora que ele se colocou contra a rebeldia de Gaetano contra o comando da família por Josto.

A direção de Dearbhla Walsh, que já havia comandado dois episódios da 3ª temporada da série, mantém a qualidade do que Hawley estabeleceu nos dois primeiros episódios, mas permitindo mais tempo para que as sequências se desenvolvam, algo particularmente notável no semi-flashback que abre a ação, além de fazer um excelente uso da fotografia marrom esfumaçada que marca os interiores dos dois lados mafiosos da história. Outro aspecto de nota é o quanto a diretora sabe construir tensão, mesmo em situações cômicas como durante a abertura das gavetas da funerária ou quando as duas ladras aparecem na entrada da cozinha, prontas para sair atirando, sem que Deafy as veja.

Raddopiarlo é Fargo todinho, com um roteiro que aponta na direção certa e mostra, mesmo que de longe, como as sub-tramas parecem conversar sem maiores percalços. Claro que ainda há um longo e potencialmente sangrento caminho pela frente, mas tenho confiança que Hawley entregará outro ano memorável de seu habitual circo de gente esquisita.

Fargo – 4X03: Raddoppiarlo (EUA, 04 de outubro de 2020)
Desenvolvimento: Noah Hawley
Direção: Dearbhla Walsh
Roteiro: Noah Hawley
Elenco: Chris Rock, Jessie Buckley, Jason Schwartzman, Ben Whishaw, Jack Huston, Salvatore Esposito, E’myri Crutchfield, Andrew Bird, Anji White, Jeremie Harris, Matthew Elam, Corey Hendrix, James Vincent Meredith, Francesco Acquaroli, Gaetano Bruno, Stephen Spencer, Karen Aldridge, Glynn Turman, Timothy Olyphant, Kelsey Asbille, Rodney L. Jones III, Hannah Love Jones, Tommaso Ragno
Duração: 63 min.

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