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Crítica | A Pequena Vendedora De Sol

por Luiz Santiago
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A Pequena Vendedora De Sol foi o sétimo e último filme dirigido por Djibril Diop Mambéty, que morreu em julho de 1998, alguns meses antes de o filme ganhar a sua primeira exibição, no Festival de Rotterdam, em 1º de fevereiro de 1999. O curta é a segunda parte de um projeto infelizmente não terminado pelo diretor, intitulado Contos de Pessoas Comuns, tendo sido iniciado em 1994 com o gracioso Le Franc. Neste Petite Vendeuse de Soleil, o diretor foca nas crianças pobres ou miseráveis que precisam trabalhar para ganhar algum dinheiro e conseguir sobreviver. Ao final do filme, ele faz a sua bela dedicatória: “à coragem das crianças de rua”.

A protagonista aqui é Sili (Lissa Balera), uma garota que tem uma avó cega e que anda pela cidade com suas muletas, pedindo esmolas. Ao observar uma grande quantidade de garotos vendendo o “jornal do governo” (Soleil), ela toma a iniciativa de também se tornar uma vendedora (“mulheres também podem fazer o trabalho dos homens, senhor!“), e então começa as suas aventuras como “vendedora de Sol” como indica o título em português. A delicadeza com que Mambéty aborda a vida dessas crianças é algo notável em dois principais sentidos. Primeiro, porque ele consegue trabalhar todas as dificuldades que crianças de favela, de rua, da periferia de Dacar sofrem, sem forçar melodrama algum para expor essa condição; e segundo, porque ele consegue tirar elementos de beleza no comportamento e no olhar para o mundo que Sili possui, sendo ela própria um verdadeiro Sol, uma voz de esperança e felicidade nesse cenário.

Viver a vida nesse tipo de ambiente é uma luta em múltiplos sentidos, e especialmente para Sili, que tem problema de locomoção e nenhum tipo de apoio familiar, uma vez que sua avó cega, que vive de esmolas, pouco pode fazer pela garota. O enfrentamento dos problemas tampouco é visto com aquele olhar cínico de “passar por cima dos problemas” como se fosse simplesmente razoável pensar em uma criança de muletas, vendendo jornal para poder não morrer de fome e sendo ameaçada por garotos na mesma condição, como sendo um “símbolo de vitória“. Sili é na verdade um dos muitos símbolos de um sistema com inúmeros braços sujos, alguns dos quais vemos aqui no filme, como a força policial prendendo sem provas e o silêncio da população quando vê algum de seus pares acusado de algo que não fez.

Sili é sobrevivente de um trágico arranjo sociopolítico. Tudo o que ela conhece é apenas essa tragédia. E nela, a garota ainda consegue sorrir. A Pequena Vendedora De Sol é um filme que faz com que a gente se apaixone pela protagonista, vibre com a bonita amizade que ela firma com Babou (Tayerou M’Baye) e que ao mesmo tempo nos coloca discutindo consequências sociais a longo prazo, por todo um continente que só conseguiu se libertar mesmo no papel. É um hino, como o cineasta bem definiu. E a coragem desses seres humanos tão novos e tão inteligentes — como no conto que Sili narra para Babou — é a matéria-prima do dia a dia para cada um deles, ontem… e ainda hoje.

A Pequena Vendedora De Sol (La Petite Vendeuse de Soleil) — Senegal, França, Suíça, Alemanha, 1999
Direção: Djibril Diop Mambéty
Roteiro: Djibril Diop Mambéty
Elenco: Moussa Baldé, Lissa Balera, Aminata Fall, Dieynaba Laam, Tayerou M’Baye, Martin N’Gom, Oumou Samb
Duração: 46 min.

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