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Crítica | Bird (1988)

por Fernando Campos
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Além de apaixonado por cinema, Clint Eastwood sempre foi um profundo admirador do jazz. Não à toa, o gênero musical marca presença na carreira do cineasta, servindo de trilha para diversas obras suas. Inclusive, ele já realizou apresentações e trabalhou diretamente em algumas trilhas, como ocorreu em Sully. Em 1988, com Bird, Eastwood não só abordou o jazz em um filme, como também trouxe Charlie Parker como personagem principal, apresentando a vida e carreira de um dos grandes músicos do gênero.

Bird foca em Charlie Parker (Forest Whitaker) já em seu período de sucesso e reconhecimento no cenário do jazz, mostrando o saxofonista se apresentando em clubes noturnos de Nova Iorque. Além disso, a obra mostra o casamento conturbado de Parker com a esposa Chan Parker (Diane Venora) e a luta do músico para largar o vício em drogas.

Mesmo trabalhando com um universo e personagem que admira, Eastwood opta por criar uma atmosfera melancólica e depressiva. Em diversas cenas, a fotografia investe em sombras e contraluz para ressaltar apenas a silhueta dos personagens, como se fossem serem vazios por dentro, e evocar a tristeza que sentem. A opção combina com a trilha de jazz, reforçando a sensação melancólica, e mostra como o brilhante Parker via a vida com uma ótica pessimista.

Por isso, Eastwood acerta por inserir cores e dinamismo apenas nos momentos que Parker está tocando, sentindo-se verdadeiramente pleno fazendo o que ama ou em certos momentos com a esposa. Essa escolha visual do diretor, ressalta com clareza os autos e baixos do protagonista e como, emotivamente, ele era uma pessoa excessivamente instável.

No entanto, o grande problema do filme está na edição. O editor Joel Cox falha ao tentar organizar e inserir dinamismo em um roteiro claramente inchado, escrito por Joel Oliansky. Temos aqui flashbacks excessivamente longos e colocados em momentos inapropriados, atrapalhando a narrativa do presente. Já o texto de Oliansky parece muito mais interessado em pontuar os momentos marcantes da vida artística e pessoal de Parker do que em estudar o personagem, gerando um filme interessante para quem não conhece o músico, mas pobre do ponto de vista dramático. Além disso, o roteirista comete o erro grave de transformar Parker no arquétipo do artista que não se encaixa no mundo, sendo valorizado apenas depois da morte. Obviamente, um roteirista pode se valer de arquétipos para apresentar um personagem, porém, essa ser a única escolha para explorar uma figura rica como Parker soa como preguiça.

Felizmente, Forest Whitaker consegue realizar um belo trabalho mesmo com o material limitado que recebe, transmitindo a instabilidade e genialidade de Parker. Repare, por exemplo, como o ator apresenta o protagonista com uma postura impecável no palco e totalmente encolhida no dia a dia. Ou como a voz do personagem parece muito mais tremula em casa do que nos clubes que tocava, ressaltando como Parker era uma criatura absolutamente da noite e artística, com pouco jeito para a vida doméstica, ainda que demonstre amor pela esposa. Falando nela, o roteiro também desaponta por pouco desenvolvê-la, mesmo se tratando de uma figura conhecida na vida noturna nova-iorquina da época, ignorando impacto que ela sentiu com a transição para a vida doméstica.

Apesar dos problemas, Bird não pode ser considerado um filme ruim, mas sim decepcionante e com falhas. Ainda assim, a obra conta com faixas musicais incríveis, uma atuação sólida de Whitaker e uma ótima ambientação criada por Eastwood. Para quem não conhece o genial Charlie Parker, Bird pode ser uma boa porta de entrada.

Bird – EUA, 1988
Direção:
Clint Eastwood
Roteiro:
Joel Oliansky
Elenco:
Forest Whitaker, Diane Venora, Keith David, Damon Whitaker, Michael Zelniker, Samuel E. Wright, Michael McGuire, James Handy, Morgan Nagler, Arlen Dean Snyder, Sam Robards, Penelope Windust, Glenn Wright, George Orrison, Bill Cobbs, Tony Todd, Anna Levine, Washington Rucker
Duração:
161min

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