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Crítica | Honkytonk Man – A Última Canção

por Luiz Santiago
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A Última Canção (1982) foi o segundo filme de tom fortemente nostálgico e solene dirigido por Clint Eastwood. Em sua experiência anterior nesta seara, com Bronco Billy (1980), ele havia visitado o western por um viés de representação, através do meio artístico. Aqui em Honkytonk Man, a arte novamente se faz presente, mas dessa vez não é o circo e sim a música que serve como guia da história, que se passa nos anos 1930, durante os anos da Grande Depressão.

Clint Eastwood (que aqui trabalha ao lado do filho Kyle) vive Red Stovall, um músico que tem tuberculose e está nas semanas finais de sua vida. A perspectiva da morte aqui é ressaltada pelo roteiro de Clancy Carlile como um caminho para o legado do protagonista, que a seu modo, tenta ensinar música e coisas da vida para o sobrinho, criando um laço improvável, com alguns alguns momentos de explosão emocional do mais velho, mas ainda assim, cheio de amor, cuidado e admiração.

O ponto de partida para o maior contato entre tio e sobrinho se dá a partir de uma tragédia, com uma tempestade de areia que coloca fim à plantação de algodão e força a família a se mudar da fazenda para a Califórnia. O cenário de crise está por todo o lado, tanto no discurso quanto no motivo da mudança, mas apensar disso há um laço muito bonito construído entre esses indivíduos. Como a intenção do roteiro é focar nas aventuras de Red e o jovem Whit na estrada, não há muito desenvolvimento para os outros membros da família, que é representada no molde condizente com a época em que o filme se passa, o que talvez pareça um tanto estranho para alguns espectadores. Isso, porém, é o bastante para criar um amigável cenário e nos fazer sentir o peso das diversas separações que aqui ocorrem.

Dos muitos destinos que o roteiro explora — encaminhando para diferentes lugares os estereótipos das velhas famílias do Oeste –, temos o drama do avô que vive se lembrando de grandes eventos do passado e quer morrer na sua cidade natal; temos o drama da família que, mais uma vez, busca uma “terra dos sonhos” para começar uma nova vida e, de forma paralela, o drama do artista até então itinerante, lembrando consideravelmente o tipo de homem que o cineasta vivera em Bronco Billy, mas dessa vez com muito mais rudeza e preocupação, enfrentando sem medo o seu sabido destino final, ao mesmo tempo que deixa registrado o seu talento e passa adiante aquilo que ele tem de melhor.

As atuações aqui carregam um tom de sofrimento e amor, transmitindo facilmente para o público a linha que costura os destinos dos personagens, pontuando cada revés com uma forte nota de esperança e possibilidade de aventura, primeiro na relação de aprendizado entre tio e sobrinho, e depois, com o encerramento através de uma atmosfera lírica e solene, considerando aquilo que Red deixou no mundo. As músicas escolhidas representam bem esse Universo, fortalecendo a aparência de faroeste letárgico (da chamada “2ª Travessia do Deserto”), dando a oportunidade de Clint Eastwood brilhar em mais uma área, com sua voz surpreendentemente doce e sentimental, e trazendo momentos de pura alegria, aprendizado e sensação de conexão, mostrando o fim da jornada da vida para um homem… e dando a oportunidade de outro formar-se a partir do que ficou, construindo, ele próprio, a sua jornada.

Honkytonk Man – A Última Canção (Honkytonk Man) — EUA, 1982
Direção: Clint Eastwood
Roteiro: Clancy Carlile
Elenco: Clint Eastwood, Kyle Eastwood, John McIntire, Alexa Kenin, Verna Bloom, Matt Clark, Barry Corbin, Jerry Hardin, Tim Thomerson, Macon McCalman, Joe Regalbuto, Gary Grubbs, Rebecca Clemons, Johnny Gimble, Linda Hopkins
Duração: 122 min.

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