Uma aula charmosa de como é possível receber uma encomenda cultural (fazer um filme sobre os castelos do Vale do Loire, a região de grande herança arquitetônica da França) e burlar essa encomenda falando sobre a parte “não turística” desses monumentos: os jardineiros, os artistas, as vilas ao redor dos castelos com sua História de lutas, sacrifícios e coragem e as paisagens em si, testemunhas mudas de todas as transformações.
Consta que Varda estava bastante frustrada ao receber a encomenda para este filme. Ela dizia que era uma afronta, depois de ter realizado La Pointe-Courte (1955), ter diante de si um enrendo institucional para guiar. E foi após os conselhos de Alain Resnais que ela acabou abraçando o projeto e deixou que sua criatividade fluísse ao mostrar esses espaços, humanizando-os e tornando-os cômicos quando o momento pedisse.
A abordagem, ao cabo, não é diferente daquilo que a diretora teria como parte de sua assinatura cinematográfica. O papel humano de transformação do espaço se junta aqui à memória quase mística que esses castelos possuem, situação que permite à cineasta dar informações sobre a construção e as dinastias responsáveis pela ideia, até o momento presente, onde velhos jardineiros, animais e a ação do tempo é quem tomam conta desses símbolos de grandeza, uma ironia que o roteiro nos faz perceber ao longo de toda a fita.
Fazendo referência a um poema de Arthur Rimbaud, Oh Estações, Oh Castelos! é na verdade um filme sobre a parte humana do patrimônio histórico, não uma aula ou propaganda sobre a arquitetura da renascença francesa, como se esperava que fosse. Um bom exemplo de como até uma encomenda institucional pode virar um bom projeto nas mãos de um grande diretor.
Oh Estações, Oh Castelos (O saisons, ô châteaux) – França, 1958
Direção: Agnès Varda
Roteiro: Agnès Varda
Elenco: Danièle Delorme
Duração: 20 min.
