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Crítica | Paris Manhattan

por Leonardo Campos
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Algumas pessoas colecionam fotos, filmes, posters e outros artefatos provenientes da cultura cinematográfica quando se dizem admiradoras de determinados estilos, diretores, atrizes, etc. Outros investem no potencial e nas chances que surgem e realizam uma produção metalinguística sobre seu objeto de devoção. Neste caso, Woody Allen, diretor novaiorquino que é a alma do roteiro escrito e dirigido pela francesa Sophie Lellouche, declaradamente apaixonada e munida dos elementos para entregar ao público um filme de 77 minutos sobre uma protagonista que utiliza o universo cinematográfico do realizador para conduzir os conflitos de sua vida. Simpático e cheio de boas intenções, Paris Manhattan tem a receita ideal, apresenta bons momentos, mas ainda assim, deixa a desejar em seu ritmo, algo que pode soar absurdo ao apontarmos letargia num filme com menos de uma hora e meia.

Esse marasmo vem da falta de carisma da protagonista, esforçada, mas desinteressante. E os manuais de roteiro mais clássicos, em consonância com as opiniões contemporâneas sobre a teoria do drama são claras sobre a construção de personagens. Se o seu protagonista não for envolvente, esqueça. O filme não vai adiante. É o caso de Paris Manhattan. A comédia romântica traz personagens verborrágicos como o novaiorquino homenageado, mas não empolga enquanto entretenimento. O que fica é o estiloso exercício da linguagem cinematográfica, terreno onde não podemos apontar problemas, em especial, pelos esforços na direção de fotografia de Laurent Machuel e o pelo design de produção de Philip L’Evêque, ambos deslumbrantes, em consonância para transformar a jornada de Alice (Alice Taglioni) em um conjunto de imagens bem-dispostas, seja na iluminação ou nas peculiaridades da cenografia.

Uma pena que no desfecho, o filme com todas essas qualidades não se faça memorável como imaginamos ao adentrar em seu curto, mas insipido universo narrativo. No enredo é simples. Alice se apresenta como uma mulher jovem, bonita e, acima de tudo, muito inteligente. Apaixonada por sua vida profissional como farmacêutica, o cinema é parte integrante de seus momentos de diletantismo e reflexão. No empreendimento da família que gerencia, fornece não apenas os remédios de seus clientes, mas opções cinéfilas de tratamento, com indicação de filmes para as pessoas a depender da situação na qual estejam mergulhadas. Uma mulher assim, sábia e elegante, de acordo com a cartilha machista, deveria ser casada, noiva ou estar devidamente dentro de algum relacionamento, não é mesmo?

Pois é o que a sua família faz constantemente. Tenta arranjar pretendentes para a moça que não está interessada nos tipos listados por seu pai, mãe e irmã, esta última, responsável por traçar um de seus pretendentes iniciais, levando-o para si e deixando Alice no fim da fila dos namoros depois de um evento em que ambas estão para se divertir. Ciente de seu desacerto com o amor, a jovem que trafega pela cidade com os figurinos de Fabienne Katany esbanja um visual urbano, despojado e jovial. E será numa situação inesperada que surge Victor (Patrick Bruel), o arquétipo do que seria o homem ideal. Será que agora o status de relacionamento para Alice vai modificar ou permanecer estagnado? Essa é uma das perguntas que a história se propõe a responder. E se você se perguntar onde Woody Allen entra nessa história toda, já começo a explanação: vai muito além da exibição de um cartaz de cinema na parede do quarto da moça ou em suas indicações no atendimento diário na farmácia.

É interessante o jogo que a cineasta faz com alguns questionamentos de Alice sobre as suas inseguranças e trechos de filmes de Allen editados com os seus diálogos, como se o diretor conversasse com a moça a cada questionamento sobre a sua vida e assim, no terreno da imaginação, mas de uma maneira muito fantástica, fosse mais um personagem dentro do filme. Ela também gosta de Cole Poter e traz o diretor para outros diálogos ao longo do filme, o que ajuda a emular ainda mais o “cinema” do baixinho para a história. O leitor pode se perguntar: isso em si já não é suficiente? Gostaria que fosse um retumbante sim, mas a resposta é um comedido não. A criatividade é louvável, mas falta “algo” ao filme. Quando lançado em 2012, Paris Manhattan acompanhou a fase europeia do cinema de Woody Allen, cineasta que na ocasião, encontrava-se na divulgação do excepcional Meia Noite em Paris, um dos filmes mais bem-sucedidos do realizador na última década, tendo em vista avaliações comerciais e da crítica.

Há uma cena cativante em seu desfecho que envolve uma participação pra lá de especial. Importante que você não desista e fique até o final para acompanhar, combinado?

Paris Manhattan (Paris-Manhattan) — França, 2012
Direção: Sophie Lellouche
Roteiro: Sophie Lellouche
Elenco: Alice Taglioni, Ariane Kah, Arsène Mosca, Caroline Gay, Christian Ameri, David Marsais, François Lescurat,  Khereddine Ennasri, Louis-Do de Lencquesaing, Marc Loy, Margaux Châtelier, Marie-Christine Adam, Marine Delterme, Michel Aumont, Woody Allen
Duração: 77 min.

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