8ª Temporada:
Série como um todo:
Homeland, como adaptação da série israelense Prisioneiros de Guerra (Hatufim ou, em inglês, Prisoners of War), tinha uma história finita para contar e dá conta desse recada maravilhosamente bem nas três primeiras temporadas, que costumo chamar de Trilogia Brody. Nela, somos apresentados a Carrie Mathison (Claire Danes), uma agente bipolar da CIA que desconfia que Nicholas Brody (Damian Lewis), soldado americano que é salvo depois de anos de cativeiro no talibã, pode ter sofrido lavagem cerebral e ser um agente duplo, infiltrando-se nas instituições do país. O desenvolvimento e o desfecho dessa narrativa foi exemplar e parecia encerrar a série.
Mas Homeland continuou e, mesmo derrapando nas duas temporadas seguintes, não desistiu e focou muito fortemente em Carrie e em sua relação com seu mentor e figura paterna Saul Berenson (Mandy Patinkin) por intermédio de histórias estanques com Carrie fora dos EUA até a quinta temporada. A sexta e a sétima contaram novamente uma história contínua, com Carrie de volta em solo americano e envolvendo-se a candidata à presidência e depois presidente do país.
E, então, veio a oitava temporada que volta ao tema da Trilogia Brody, mas mantém o foco na conexão entre Carrie e Saul, com os showrunners entregando uma narrativa que cuida do aspecto macro, mas que dedica muito tempo aos protagonistas, colocando Carrie sob suspeita de traição. Apesar de inserir dois importantes personagens novos que caem quase que de paraquedas – o conselheiro presidencial John Zabel e a espiã Anna Pomerantseva – os aspectos emocionais se sobressaem, com um final intimista e quase lírico que altera a relação entre Carrie e Saul e reposiciona a agente bipolar como uma nova agente infiltrada no seio russo como uma forma de, de um lado, a personagem continuar a fazer o que gosta e, de outro, funcionar como uma maneira de ela expiar seus pecados. Um final sem dúvida digno para uma das melhores personagens de séries da história recente.
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Como é tradição aqui no site quando fazemos a análise de temporadas por episódio, elaboramos um ranking dos episódios. Mas, como essa é a última temporada da série, aproveitamos para fazer, também, um ranking das temporadas.
Concordam? Discordam? Muito pelo contrário? Mandem seus comentários e suas listas lá nos comentários!
Ranking das Temporadas |
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8º Lugar | 4ª Temporada | 2014 |
7º Lugar | 5ª Temporada | 2015 |
6º Lugar | 1ª Temporada | 2011 |
5º Lugar | 7ª Temporada | 2018 |
4º Lugar | 6ª Temporada | 2017 |
3º Lugar | 8ª Temporada | 2020 |
2º Lugar | 2ª Temporada | 2012 |
1º Lugar | 3ª Temporada | 2013 |
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Ranking de episódios da 8ª Temporada:
12º Lugar: Deception Indicated
8X01
Devo dizer que teria gostado mais do episódio se ele tivesse ido mais devagar com a louça. Carrie no hospital ainda tinha muito a oferecer e sua retirada de lá ainda na metade do capítulo foi um pouco frustrante, especialmente considerando a velocidade com que ela imediatamente entra em ação, algo que chega até a ser desnorteador. Sim, compreendi perfeitamente a proposta de revelar o assassinato de um de seus informante pelos talibãs como chave para a dúvida interna de Carrie sobre os 180 dias que ela não se lembra estando em poder dos russos, mas isso poderia ter vindo talvez de outra forma ou até mesmo no episódio seguinte, sem precisar movimentar a trama na velocidade da luz logo em seu início.
11º Lugar: In Full Flight
8X09
Apesar de essa ação em Kohat ter sido bem conduzida em termos de tensão, com a direção de Dan Attias trafegando bem entre câmera tremida para dar a impressão de documentário e tomadas mais gerais, com cortes paralelos para a perseguição monitorada pela CIA em Cabul, o peso da conveniência narrativa é grande. Deveria ter sido muito mais difícil e perigoso para Carrie encontrar a caixa preta naquele mafuá repleto de figuras ameaçadoras e não algo reputado à pura sorte (ok, não foi exatamente apenas sorte, mas vocês entenderam). Compreendo a necessidade de correr com a narrativa, já que a série está em sua reta final, mas fica evidente que sacrificaram realismo em prol da economia de alguns minutos.
10º Lugar: False Friends
8X03
Portanto, no final das contas, False Friends (o título é mais do que perfeito, não?) consegue acertar bastante considerando que o episódio não tinha muito para onde ir. A introdução das tensões políticas internas tanto nos EUA quanto no Talibã ampliam a complexidade da temporada, o mesmo valendo para seu tema central, que é a sanidade de Carrie Matheson. O que realmente já cansou é a mais do que ridícula situação em que Max se encontra no fronte de guerra, servindo de amuleto da sorte para os soldados ao seu redor. Confesso que se esfregarem a mão nele mais uma vez, ficarei feliz se Max metralhar meia dúzia daqueles caras…
9º Lugar: Two Minutes
8X06
Portanto, ainda que a busca pela caixa preta certamente tenha sua importância, as maquinações políticas americanas, afegãs, paquistanesas e do talibã precisam estar competindo pela atenção do espectador, ali muito perto do já mencionado tema central – e bem pessoal – da temporada. Com Carrie agindo completamente fora da lei e, ainda por cima, em conluio com um espião russo, Homeland tem tudo para ter seis explosivos episódios pela frente, com ótimas chances de Jenna ser enganada mais uma meia dúzia de vezes para tornar tudo ainda melhor.
8º Lugar: Designated Driver
8X10
Designated Driver tem a função específica de, mesmo mantendo o panorama geopolítico ainda em evidência, como não poderia deixar de ser – e o atentado a bomba ao final é a prova disso – voltar à essência da série. E essa essência, claro, é Carrie. Ela é quem sempre carregou a narrativa nas costas e é ela que deve cruzar a linha de chegada carregando a tocha, mesmo que ela não chegue viva ao final. E o episódio cumpre muito bem sua função, sem perder tempo algum com detalhes e já começando com uma elipse que não só mostra Carrie acordada depois da injeção de Yevgeny, como também já pronta para viajar no caminhão de seu fiel motorista da região até a base aérea americana em Cabul.
7º Lugar: Prisoners of War
8X12
O momento mais importante de Prisoners of War – o título é uma homenagem à série de Gideo Raff que serviu de base para Homeland – é, sem dúvida alguma, o embate verbal entre Carrie e Saul que começa com Réquiem, de Mozart, abafando a conversa e marcando seu tom. A missa fúnebre do compositor austríaco não só é uma de suas peças mais conhecidas, como também é sua última, com ele falecendo antes de terminá-la, o que ficou ao encargo de diversas outras pessoas. A morte é o tema, mas a sucessão é o verdadeiro pano de fundo narrativo que justifica a música. Carrie, como uma filha deserdada, é expulsa de casa por seu “pai” Saul, depois que ela exige o impensável.
6º Lugar: Chalk Two Down
8X05
Tudo acontece muito rapidamente no episódio, que tem uma montagem extremamente eficiente, quase frenética, que mantém o espectador tão desnorteado quanto os personagens que vemos na telinha. Há até mesmo um uso mais presente de câmera na mão para amplificar essa sensação ruim de que ninguém sabe de verdade o que está fazendo e que nos coloca mais diretamente no meio da pancadaria seja como mais um soldado tendo que se defender dos talibãs ou mais um analista vendo boquiaberto os eventos se desenrolarem.
5º Lugar: The English Teacher
8X11
E é por isso que, mesmo mantendo uma pontinha de estranhamento sobre a confirmação da existência da tal agente dupla – a tradutora do Kremlin -, com direito até a flashbacks para 1986 para revelar como tudo aconteceu como se fosse um retcon (e é, vamos combinar), acabei gostando muito do que The English Teacher colocou na mesa. É perfeitamente crível que Saul Berenson tenha um agente assim (e isso se não tiver outros mundo afora) e é perfeitamente crível que nós, espectadores, nada soubéssemos sobre ela desde o início da série. Afinal, temos sempre que lembrar que Homeland não é sobre Saul, mas sim sobre Carrie e, se já cansamos de aceitar convenientes contatos de Carrie em todo lugar que nunca antes tínhamos ouvido falar, porque não de Saul? Repito: era necessário algo realmente profundo para fazer Carrie trabalhar para os russos e a temporada entrega justamente isso.
4º Lugar: Threnody(s)
8X08
A grande verdade, porém, é que a história sobrevive a esse “intruso” graças à qualidade do trabalho da dupla de roteiristas e também de Michael Klick na direção que orquestra uma montagem paralela extremamente eficiente que contrapõe os dramas de Haqqani, sempre em planos americanos ou close-ups, e de Max, sempre visto à distância, em planos gerais. Sabemos que não há saída para nenhum dos dois, ganhamos momentos de respiro quando a prisão de Max segura a execução de Haqqani por um tempo, somente para tudo desmoronar em seguida. E, como se isso não bastasse, a reunião dos talibãs sob as mentiras engendradas por Jalal Haqqani é como sal da ferida, tornando toda a situação próxima de uma bomba prestes a explodir.
3º Lugar: F**ker Shot Me
8X07
E isso resulta em tensão, ansiedade e, claro, uma excelente maneira de se contar uma história. Afinal, com F**ker Shot Me, basicamente lida com Carrie e Yevgeny correndo atrás de Max, com direito a um tour pela 4ª temporada da série quando a agente da CIA mandou bombardear um vilarejo com o objetivo de assassinar Haissam Haqqani. Coincidência ou um ato sacana de Yevgeny, nunca saberemos, mas tenho para mim que o russo não é flor que se cheire e mesmo parecendo sincero com Carrie, não consigo acreditar em uma palavra que sai de sua boca.
2º Lugar: Catch and Release
8X02
Sempre abracei um conceito que meu pai me ensinou, de que o Homem é, fundamentalmente, um ser beligerante. Somos formados e moldados por conflitos tanto em escala global quanto em escala pessoal e a paz é algo que mais se parece com utopia, com algo que precisamos dizer que queremos sob pena de enlouquecermos, mas que, lá no fundo, sabemos ser impossível. Uma visão pessimista, sem dúvidas, mas olhando apenas para o presente e ao nosso redor, diria que é uma visão realista, especialmente no que se refere ao Oriente Médio. E Catch and Release deixa isso dolorosamente evidente quando afirma que mesmo os americanos só querem a paz como veículo para a retirada estratégica de suas tropas e não como algo verdadeiramente duradouro. Talvez Saul Berenson mantenha acesa a chama da esperança e Mandy Patinkin está incrível em passar esse sentimento quando ouve a gravação da conversa telefônica de Haqqani com seu filho que Max obteve, mas tudo ao redor dele conspira contra, desde seu próprio governo, passando pelos afegãos, pelos paquistaneses, pelos russos e, claro, pelos próprios talibãs.
1º Lugar: Chalk One Up
8X04
Portanto, imprevisibilidade não deveria ser algo almejado, mas sim temido. O que é realmente importante detectar é se todos os caminhos realmente “levam a Roma” e se a execução da “manobra” foi eficiente e tenho para mim que Chalk One Up acertou nos dois quesitos. A convergência narrativa é mais do que clara pelos pontos que mencionei acima, pelo que resta abordar a forma como tudo acontece e que é a verdadeira cereja nesse bolo que foi o roteiro de Patrick Harbinson e Chip Johannessen, uma das duplas de roteiristas mais tradicionais e prolíficas da série. E a simplicidade foi a chave de tudo, com o capítulo inteiro girando em torno do discurso do presidente Warner perante o surpreso pelotão no meio do deserto, com direito a transmissão para o mundo todo. Com apenas esse artifício, os roteiristas foram capazes de criar um momento terno de agradecimento genuíno a Carrie por todo o seu sacrifício na Rússia, colocar os jogadores inimigos e amigos do Oriente Médio em uma mesma sala e, de quebra, tornar o conflito político entre Warner e seu vice-presidente ainda mais saliente.