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Crítica | Tales from the Loop – 1ª Temporada

por Ritter Fan
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A forma como Tales from the Loop foi disponibilizada pela Amazon Prime Video depõe contra a própria natureza da série. A criação de Nathaniel Halpern com base nos belíssimos visuais retrô sci-fi do artista sueco Simon Stålenhag é tudo menos uma série feita para ser assistida em velocidade, um episódio atrás do outro e tenho para mim que fazê-lo tem o potencial de depreciar seu maior valor, que é promover a contemplação, a observação e, diria, o relaxamento. E não quero dizer de forma alguma que a temporada inaugural é particularmente complexa ou hermética, pois ela está muito longe de ser classificada assim, mas a combinação de visual, trilha sonora e ritmo razoavelmente lento não é a melhor receita para o famoso binge watching.

O próprio formato da série é diferente do que costumamos ver por aí. Não é nem uma antologia temática propriamente dita, nem uma série normal, com um episódio levando a outro e resultando em uma história só. Ela fica, por assim dizer, no meio entre uma coisa e outra, com episódios compartilhando não só o visualmente fascinante “universo” de Stålenhag, como também personagens e situações, mas sem que haja uma continuidade rígida na história. São literalmente contos que tem o Loop, um laboratório científico subterrâneo localizado em uma cidadezinha em lugar e tempo incertos, como centro de atenção em maior ou menor grau.

Usando essa estrutura solta ma no troppo, Halpern nos pede para nos recostarmos no sofá e degustar com calma e paciência sua série, sem – e isso é particularmente importante – buscar respostas definitivas para tudo. A procura de explicações científicas, mágicas ou extraterrestres para o desfile narrativo-visual que passa diante de nossos olhos é um exercício em futilidade que tem o potencial de desapontar muita gente. A racionalização não é o objetivo aqui, mas sim a observação tranquila, sem a afobação e a ansiedade típicas de séries lançadas “por temporada” em serviços de streaming.

Os fragmentos de tecnologia salpicados na cidade e seus arredores são por vezes apenas alentos visuais e, por outras, artifícios narrativos que estão lá para impulsionar a história. Alguns são singelos como uma câmera de eco no belo e triste Echo Sphere e outros são realmente importantes como a câmara abandonada em uma floresta que permite a troca de corpos em Transpose ou a “garrafa térmica” que congela o tempo em Stasis. A “conversa” entre episódios é grande, com personagens por vezes sendo o foco de uma história e tornando-se quase um figurante em outra, especialmente os membros da família de Russ (Jonathan Pryce), um dos criadores do Loop, mas sempre passando uma sensação clara de universo único com narrativas que se interpenetram, mas que não dependem uma da outra.

Alguns até poderão acusar a série de ser forma sobre substância, mas, sinceramente, acho que há um bom equilíbrio entre uma coisa e outra. A forma, claro, fica por conta de uma direção de arte belíssima que cria uma ambientação retrô e atemporal que emula uma cidadezinha americana nos anos 50 ou 60, com elementos tecnológicos anacrônicos que não são explicados e apenas estão ali como parte da paisagem. A substância está na forma como diversos clichês sci-fi são usados e no belo trabalho do elenco. Como já cansei de afirmar, a existência de clichês ou a previsibilidade de tramas não devem ser vistos como fatores determinantes em nenhuma obra audiovisual, mas sim a execução da história em si e, aqui, se o espectador estiver preparado para apreciar belas narrativas que nem de longe primam pela velocidade ou por cortes rápidos (se você conhece o trabalho de Halpern – Legion, Outcast – isso já não deve ser esperado mesmo) e que posam as perguntas, mas deixam as respostas no ar, então o aproveitamento será grande.

No entanto, por vezes a progressão dos episódios peca por deixar “barrigas” que fazem seu andamento ficar arrastado, saindo da seara da “lentidão agradável”. Isso acontece particularmente em capítulos que abordam a vida como ela é, sem a ajuda premente da tecnologia do Loop para estabelecer um ponto de interesse, como é o caso do já citado Eco Sphere. Episódios como esse, apesar de nos brindar com o foco na atuação de Pryce, podem realmente cansar, o que é mais um fator que determina que essa é uma série para ser degustada aos poucos, sem sofreguidão.

Tales from the Loop é uma agradável surpresa sci-fi que consegue capturar a imaginação e mergulhar em um fascinante “mundo vivido” com suas próprias regras e que é tão diferente quanto é igual ao mundo normal. Uma bela experiência audiovisual que congrega os melhores elementos formativos do gênero e um elenco que nunca desaponta, mas que requer um estado de espírito diametralmente oposto à forma moderna de se consumir séries.

Tales from the Loop – 1ª Temporada (EUA, 03 de abril de 2020)
Criação e showrunner: Nathaniel Halpern (com base em obra de Simon Stålenhag)
Direção: Mark Romanek, So Yong Kim, Dearbhla Walsh, Andrew Stanton, Tim Mielants, Charlie McDowell, Ti West, Jodie Foster
Roteiro: Nathaniel Halpern
Elenco: Rebecca Hall, Abby Ryder Fortson, Duncan Joiner, Daniel Zohlgadri, Tyler Barnhardt, Ato Essandoh, Christin Park, Nicole Law, Paul Schneider, Jonathan Pryce, Jane Alexander, Dan Bakkedahl, Lauren Weedman, Alessandra de Sa Pereira, Leann Lei, Danny Kang, Dominic Rains, Jon Kortajarena, Brian Maillard, Elektra Kilbey, Emjay Anthony, Stefanie Estes
Duração: 429 min. (oito episódios)

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