Home TVEpisódio Crítica | The Walking Dead – 10X10: Stalker

Crítica | The Walking Dead – 10X10: Stalker

por Iann Jeliel
781 views
Stalker

  • SPOILERS do episódio e da série. Leiam aqui as críticas das demais temporadas, games e HQs. E aqui, as críticas de Fear the Walking Dead.

O questionamento feito por mim na crítica de Squeeze felizmente não se confirmou, mas ainda é cedo para dizer que The Walking Dead vai manter uma regularidade crescente até o final da décima temporada, até porque mesmo Stalker sendo meu segundo favorito (depois do anterior) é ainda um capítulo que carrega deveras ponderações técnicas prejudicais ao andamento dos acontecimentos, por mais importantes que eles sejam. Vamos por partes, ou melhor, núcleos, que talvez seja o grande problema de Stalker em si. O seriado ficou tão mal acostumado e perdeu tanto a unidade estilística, com a estrutura de 16 episódios e diversas trocas de showrunners e afins conforme o tempo, que se esqueceu como organizar devidamente capítulos que precisam contar mais de uma narrativa. Mais ou menos da sétima temporada pra cá foi se acomodando somente em episódios de locais específicos, e quando precisava resolver muitas pendências de uma vez, utilizava diferentes soluções de montagem, às vezes umas funcionavam (como no capítulo The Lost and the Plunderers da oitava temporada, intercalando fade out e diferentes personagens específicos, e os unindo sequencialmente numa lógica curiosa de revelação dos fatos), outras nem tanto, como irei dar o exemplo a seguir.

Partindo da parcela de tela para o embate de Daryl (Norman Reedus) e Alfa (Samantha Morton), que pelo peso dos nomes tinha que ser relevante, os entrecortes da montagem são no mínimo infelizes. A começar pela facilidade com que Daryl consegue encurralá-la e da falta de uma pitada de exposição para especificar o porquê de ele ter ido se arriscar com ela ao invés de ir para a sua verdadeira missão dada no episódio anterior, que era ir ao resgate de Magna (Nadia Hilker) e Connie (Lauren Ridloff). Então, a luta já parte de um pressuposto um tanto forçado, mas tudo bem, quando ela de fato começa, empolga, principalmente pela boa dosagem de gore para ambos os lados. Busca-se a visceralidade da situação, ambos já ficam consideravelmente machucados em poucos segundos, Daryl inclusive é atingido no rosto, e tem-se a interessante perspectiva em primeira pessoa de como ele estava enxergando a geografia da batalha, em contraponto a não ter a noção exata de onde Alfa estava, nem quantos zumbis estavam ali por perto. No ápice da intensidade da batalha, Alfa pega novamente a arma que estava segurando e… CORTA. Mas espera… como assim? O que aconteceu? Talvez o editor tenha pensado que aquele corte iria proporcionar essa reação no bom sentido, de levar a ansiedade para saber o que iria acontecer, contudo a prática se demonstrou um coito interrompido de ritmo, desestruturando completamente o exercício de tensão.

Principalmente porque o retorno não mostra como Daryl saiu da mira de Alfa, já pula direto para ele no armazém com Alfa chegando por lá. Novamente, a cena em si é bastante visceral, intensa, tanto que o sentimento consegue ser recuperado em pouco tempo, com a líder dos sussurradores chamando mais de seus companheiros zumbis para tentar cuidar do protagonista arrebentado, que consegue “fodelosamente” se livrar do jeito mais survival “raiz” possível (lembra bastante aquele momento da segunda temporada quando ele acaba caindo num desfiladeiro e tem que se virar para tirar a flecha que entra dentro dele com zumbis por perto), com direito até a faca que tinha sido enfiada na sua perna ser retirada para cair na cabeça do zumbi, logicamente o deixando ainda mais debilitado. Nisso, Alfa adquire uma vantagem, e novamente aquele espírito volta de “O que será que vai acontecer?”, assim como o coito abruptamente interrompido de um corte (nesse caso um pouco menos mal porque Alfa meio que cai antes disso), para só retornar mais tarde, quando o núcleo se concluiria.

Conclusão essa um tanto quanto estranha também, tratando-se basicamente de uma falsa alucinação de Alfa conversando com Lydia (Cassady McClincy) de forma amplamente sentimental (a cena toda parece um sonho, mas de fato não era), algo que a líder só vinha mostrando em pequenos momentos e ganhou uma ampla exposição dramática, um tanto quanto artificial. Lydia então escolhe salvar Daryl e diz pra ele depois que estava rodando ali os conflitos o tempo todo só pensando em que lado iria decidir, algo extremamente conveniente para o roteiro. Primeiro na temporalidade sequencial, quando ela diz que vai encontrar e se juntar à mãe no final da primeira metade da temporada, passa pelo menos um dia completo sem ser vista por nenhum sussurrador, algo bem improvável dentro do território deles, e certamente se eles tivessem visto iriam logo avisar a Alfa. Segundo que todo o conflito existencial de ela fazer parte ou não do grupo se torna inútil, ou no mínimo, um declarado arco enrolativo, já que isso foi apenas para ela vincular uma nova empatia pela mãe e não matá-la naquela hora “H” em que iria resolver tudo (aliás, por um momento até achei que isso iria acontecer, aí lembrei que a série não tem mais tantos culhões assim), além de descaradamente ser uma solução preguiçosa para uma briga que em condições isoladas seria até a morte.

Enfim, finalizado esse núcleo e a parte da montagem, é preciso ressaltar os acertos de Stalker, surpreendentemente situados na situação de Alexandria com Gama (Thora Birch). Se tem algo a reclamar é por que não desenvolveram Gama direito antes, o roteiro tem dessas, mas quando decide focar na personagem, consegue articular perfeitamente a teia de motivações envoltas na personagem e elaborar um panorama claro e ao mesmo tempo incerto de quão fundamental é sua peça no jogo da guerra. A recepção política do seu rendimento também fornece camadas novas ao padre Gabriel (Seth Gilliam), principalmente no aspecto (somente até então mensurado) de seu poder de liderança, importância paterna e como eles se reverberaram no discurso religioso dentro da situação problemática. Essa que se torna ainda mais quando o plano inicialmente de resgate aos remanescentes da caverna é intervencionado por Beta (Ryan Hurst), que invade Alexandria em busca de Gama e lá ele faz a festa. Muitos personagens então ficam bastante vulneráveis, e nessa oportunidade (embora, basicamente nenhum morra, teme-se por isso), retoma-se a estética romeriana da ambientação de terror neblinoso, com diversas cenas inspiradíssimas.

O destaque inicial vai para quando Beta sai inesperadamente da cova, conectando-se com o início do episódio meio deslocado dele entrando numa caverna e remetendo diretamente aos clássicos sessentistas dos zumbis clássicos, depois menciono as primeiras mortes, criativamente filmadas fora da casa, com um uso cirúrgico da justaposição de sombras, tornando o personagem fantasmagórico e basicamente imparável (algo que outros episódios já fizeram bem, mas esse especificamente pra deixá-lo ainda mais para as cenas a seguir), e por fim, um plano holandês bastante chamativo dos mortos dentro da casa zumbificados passeando por Alexandria. Posto esse clima (e felizmente não o cortando dessa vez), a crescente de tensão em Stalker com o gigante sussurrador agonia bastante no obstáculo final: Judith (Cailey Fleming). Surgindo como a única solução de fuga para Gama, há um esconde-esconde mortal (que dura pouco, mas é bem enervante pelo uso do silêncio) terminado em um tiro no peito (poderia ter atirado mais vezes né, “Rickinha Jr?”) e uma briga intensa, mostrada com boa visibilidade e concluída com bastante coerência entre os dois sussurradores e Rosita (Christian Serratos) – que ganhou também seu microdesenvolvimento com a pauta materna. 

Grandes acontecimentos, grandes cenas, mas de novo questiono qual a consequência exata que elas trouxeram em Stalker? Gabriel no fim consegue libertar Gama das mãos de Beta, e tudo volta meio que à estaca inicial, com o diferencial do aprendizado dos personagens, principalmente de Gama e da própria Judith, que demonstrou mais uma vez que é sangue-frio de Grimes mesmo. Não houve na prática muito avanço em Stalker, mas houve desdobramentos interessantes e perguntas mais interessantes ainda, o que aconteceu que somente Aaron (Ross Marquand) voltou para Alexandria no fim? Quais os próximos passos de Lydia e Daryl? Fora as perguntas pendentes: O que aconteceu com Michonne (Danai Gurira)? Connie e Magna? Enfim, a trama está melhorando, está enrolando menos, isso é inegável, mas a forma de contar ainda precisa de reajustes para que a relevância dos fatos seja maior sentida, e já deixo minha dica para Angela Kang: Contrate novos montadores! Stalker

The Walking Dead – 10X10: Stalker | EUA, 01 de março de 2020
Direção: Bronwen Hughes
Roteiro: Jim Barnes
Elenco: Norman Reedus, Christian Serratos, Seth Gilliam, Ross Marquand, Ryan Hurst, Samantha Morton, Cailey Fleming, Cassady McClincy, Thora Birch, Kenric Green, Lindsley Register, David Shae, Anabelle Holloway, Antony Azor
Duração: 45min.

Você Também pode curtir

Este site usa cookies para melhorar sua experiência. Presumimos que esteja de acordo com a prática, mas você poderá eleger não permitir esse uso. Aceito Leia Mais