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Crítica | O Olho do Mal (2008)

por Leonardo Campos
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A refilmagem de The Eye – A Herança sofreu diversos problemas dramáticos em sua composição, algo que fez a crítica torcer um pouco o nariz para a produção. Nenhum deles, entretanto, é pior que o seu título brasileiro, O Olho do Mal, título vulgar para uma história que de fato não retrata um olho maligno, etc., mas outra maldição que acomete uma pessoa cheia de sonhos e novas perspectivas. Assim, baseado no roteiro de Oxide Pang, Danny Pang e Yuet-Jan Hui, O Olho do Mal traz para os ocidentais, sob a direção da dupla francesa formada por David Moreau e Xavier Palud, a história de uma jovem que perdeu a visão desde muito pequena, a ganhar novos rumos em sua vida depois de um transplante de córneas, inicialmente uma benção, mas posteriormente interpretado como “maldição”, haja vista o bônus que acompanha sua possibilidade de acessar um novo sentido: a visão.

Quem assumiu a tradução cultural do roteiro foi Sebastian Gutierrez, responsável pelo feixe de assombrações e desenvolvimento dramático dos personagens ao longo dos 98 minutos desta refilmagem lançada em 2008, fase que podemos contextualizar como a curva para o desfecho do boom das realizações inspiradas em filmes de terror orientais. Não que o tema tivesse encerrado ali, mas já era um período de saturação para o público, pois basicamente todos os grandes sucessos tinham sido refilmados ou ganhado lançamento do “original” por aqui. Em sua trama, uma talentosa violinista, Sydney Wells (Jessica Alba) é a vítima da descrição colocada anteriormente: perdeu a visão aos cinco anos de idade e depois de tanto tempo cega, se submete a uma cirurgia para transplante de córneas.

A sua capacidade de enxergar retorna aos poucos. O processo gradativo apresentado pelo filme foca em seu passo a passo, afinal, ela precisa aprender tudo: cores, objetos, etc. Junto a isso, Sydney precisa lidar com outras questões que não estavam programadas no processo de acompanhamento da cirurgia e de seus desdobramentos. São vultos e imagens sombrias voltadas ao momento da morte de algumas pessoas ao seu redor. Descobriremos, logo mais, se tratar dos guardiões responsáveis por levar os recém-mortos dessa vida para o além. Eles são conhecidos por “Homem-Sombra”, trajados de preto e com forma bem bizarra. Sensível à presença destas entidades, ela fica atormentada ao vê-las guiando pessoas constantemente, o que a faz sair numa investigação para saber como lidar com o problema. Helen Wells (Parker Posey), parte do seio familiar, colabora, mas não é o suficiente para compreendê-la.

Quem colabora com a sua busca neste momento de angústia é o Dr. Paul Faulkner (Alessandro Nivola), terapeuta especializado na adaptação de cegos que retornam a enxergar, como é o caso da jovem Sydney. Eles pesquisam, acabam batendo no México e descobrem que a córnea doada para o transplante é de uma jovem mulher que foi perseguida em sua cidade por ser taxada de bruxa, afinal, previa mortes e outras tragédias, principalmente um acidente numa fábrica, responsável por ceifar a vida de vários empregados. Agora, as visões atormentadoras frequentes nos indicam uma nova tragédia, provavelmente na fila de carros na alfândega, bem na transição entre o território estadunidense e o mexicano. Engraçado como mesmo “sem querer”, aparentemente os dramaturgos arranjam sempre uma vinculação maligna fora de seu território, isto é, o mal é o “outro”, o meu vizinho, “nós somos perfeitos”.

Assim, o leitor pode se perguntar: está contando a surpresa do filme para o público? Não, não estou. O próprio filme, em seus créditos de abertura, faz questão de apresentar tudo aos seus espectadores. A eliminação da surpresa faz com que prendamos mais atenção ainda aos seus “defeitos”, pois na versão oriental, as informações eram entregues em camadas. Em O Olho do Mal é tudo entregue de bandeja para o público, de maneira simplificada demais. Há um debate que pode ser empreendido com base no filme, isto é, a questão da memória celular, pois pelo que percebemos, Sydney é contagiada pela córnea vidente da doadora. Desde as culturas primitivas que se discute tais questões, não adepta de todos, mas é um debate interessante e que torna a narrativa um espaço capaz de ser ainda mais dramático.

O Olho do Mal, no entanto, não consegue. A direção de fotografia de Jeffrey Jur envolve, num investimento constante de rack focus para nos apresentar mudanças de perspectivas, a música de Marco Beltrami não faz nada de diferente do que ele já fez em outras produções de terror, o que não significa falta de qualidade, mas repetição de algo que realizado tantas vezes. Um pouco de ousadia num universo inspirado na cultural oriental seria algo interessante. Os efeitos visuais da equipe de Marc Varisco funcionam muito bem, principalmente na excelente cena final com a explosão, sendo ainda mais impactante se fosse oriunda de um roteiro melhor desenvolvido. Ademais, os espaços concebidos pelo design de produção de James H. Spencer atraem pela forma como acolhem os seus personagens, setor que também seria melhor aproveitado caso fosse trabalhado com um texto feito de diálogos e ações mais magnéticas.

Ademais, os olhos são elementos de forte carga simbólica há eras, pois significam a percepção das coisas, algo que pode ser entendido como um elo entre o nosso mundo interior e nossa observação do exterior. Muitas culturas entendem a sua capacidade de ser emissor de energias positivas e negativas, além de representar bem o “estado” de uma pessoa ou entidade. Observe que em O Grito, os olhos de Kayako são bem representativos, tal como Sadako, ou Samara, de O Chamado, na versão estadunidense. É depois que ela sai do poço, da televisão, se rasteja e tira o cabelo dos olhos para mirar na sua vítima que o mal se estabelece. Em O Olho do Mal, os órgãos responsáveis pela visão é que trazem o horror para a protagonista que pelo menos, diferente do que foi realizado nos filmes citados, consegue escapar da maldição e encontrar um final tranquilo e poético, de volta aos sentidos que lhe acompanharam durante a sua vida.

O Olho do Mal (The Eye) — Estados Unidos/Canadá, 2008
Direção: David Moreau, Xavier Palud
Roteiro: Sebastian Gutierrez, Yuet-Jan Hui
Elenco: Jessica Alba, Alessandro Nivola, Parker Posey, Rade Serbedzija, Fernanda Romero, Rachel Ticotin, Obba Babatundé, Danny Mora, Chloë Grace Moretz, Tamlyn Tomita, Esodie Geiger
Duração: 85 min.

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