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Crítica | Minha Mãe é uma Peça 3: O Filme

por Fernando Annunziata
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“Siga o caminho do amor.”

Um ‘clássico’ da comédia nacional, Minha Mãe é Uma Peça conquistou o público por representar, de maneira hiperbólica e engraçada, a tradicional mãe brasileira. Nesse terceiro filme, os roteiristas tentaram abranger o símbolo da protagonista para todos os diferentes tipos de mães, utilizando, para isso, a dramaticidade. No entanto, esse é o maior erro que a trama poderia cometer. Em Minha Mãe é Uma Peça 3, Dona Hermínia (Paulo Gustavo) precisa lidar com o amadurecimento dos filhos, que agora seguem a própria vida. Marcelina (Mariana Xavier) está casada e grávida do hippie Sol (Cadu Fávero); e Juliano (Rodrigo Pandolfo) está planejando o casamento com o namorado Tiago (Lucas Cordeiro).

A necessidade de representar todas as mães afeta a protagonista. O roteiro não segue uma linearidade nos sentimentos dela, de modo que o primeiro ato se concentra na Dona Hermínia desleixada e barulhenta, tal qual conhecemos, e os outros dois atos puxam para um lado sentimental, comum a todas as mães. Claro que a protagonista tem seu lado dramático, porém, como vimos nos dois primeiros filmes, ela demonstra de uma forma diferente. O amor que costuma demonstrar é um voltado para o “te bato mas te amo”, e neste filme se concentra no “te amo mas te bato”. Nitidamente isso é um artifício utilizado para que todas as mães se sintam incluídas, desde as caricaturadas, como Dona Hermínia, até as mais “comportadas”. Porém, devemos lembrar que Dona Hermínia é um único personagem (e é uma caricatura!): ela não pode abranger todos os grupos. Terminamos o filme e, enfim, perguntamos: então, qual delas é a oficial? Esse questionamento foi o que mais diminuiu a nota atribuída, visto que a protagonista deveria ser um símbolo estável de referência para a mãe tradicional e exagerada, mas foi corrompida pela necessidade de vender o filme a todos os grupos. Talvez, esse terceiro filme nem mereça carregar o nome do “Minha Mãe é Uma Peça”.

Para sustentar isso, o roteiro quis introduzir uma dramaticidade que até funciona, porém é colocado em momentos inoportunos. Sob o sentimento compartilhado pela maioria das matriarcas, o famoso “amor de mãe”, Dona Hermínia passa a encontrar recordações em tudo que vê. Notadamente, isso é um elemento para representar todas as mães, visto que a maioria têm esse lado sentimental em relação aos filhos, no entanto dissipa grande parte da comicidade do filme. Todas as sequências dramáticas (que, saliento, são bem feitas), são seguidas por cenas que deveriam ser as mais cômicas. O espectador, dessa forma, não sabe se ri ou se chora (literalmente). Seria mais interessante que os produtores tivessem o cuidado de colocar “momentos neutros” depois desses acontecimentos. Precisamos de um tempo para organizar nossos sentimentos, não?

Além disso, há um excesso de Dona Hermínia na trama. Como protagonista, é claro que ela deve aparecer mais, porém a protagonista tapa todos os outros personagens. Como única fonte de comédia do filme, ela está presente em todas as cenas e, com o seu jeito extrapolante, rouba toda a aparição dos outros. Esse é um defeito que acompanha Minha Mãe é Uma Peça desde sua origem no teatro. Porém, é ainda mais marcante neste terceiro filme, pois os filhos movimentam mais a história do que a própria mãe: tudo gira em torno deles e com eles. Mas, mesmo assim, terminamos a película sem lembrar uma palavra ou ação dos filhos. É, enfim, um bombardeamento de Dona Hermínia.

Devo destacar que Minha Mãe é Uma Peça 3 é até mediano como filme independente. Mas fica abaixo da média por conta da perda de essência da protagonista e, então, do projeto inicial. Em outras palavras, se sustenta autonomamente, mas peca quando considerado a falta de ligação com os dois primeiros longas e com a ideia inicial. Por outro lado, ainda tem muitos momentos engraçados. Paulo Gustavo é uma boa opção para a protagonista, conseguindo um efeito cômico em grande parte da narrativa. Além disso, a obra deixa uma mensagem positiva em relação ao conceito de família: siga o caminho do amor. E essa é a mensagem do longa.

Minha Mãe é Uma Peça 3 é o pior, até agora, da franquia. Dona Hermínia quis ser todas, mas no fim esquece de ser ela mesma. Contudo, Paulo Gustavo ainda consegue levantar o humor na maioria das cenas, mas peca pelo excesso de Dona Hermínia durante a trama. No entanto, é indiscutível que o longa é importantíssimo por sua representação dos diferentes tipos de família, tal como meio para a luta contra o preconceito, em especial a homofobia.

Minha Mãe é Uma Peça 3: O Filme – (Brasil, 2019)
Direção: Susana Garcia
Roteiro: Paulo Gustavo, Susana Garcia, Fil Braz, Mônica Martelli, Natalia Piserni, Gabriella Mancini, João Paulo Horta, Andrea Batitucci
Elenco: Paulo Gustavo, Mariana Xavier, Rodrigo Pandolfo, Herson Capri, Samantha Schmütz, Alexandra Richter, Patricya Travassos, Malu Valle, Stella Maria Rodrigues, Cadu Fávero, Lucas Cordeiro, Bruno Bebianno, Edmilson Barros, Giovanna de Toni, Ana Carbatti, Tracy Legal, Eduardo Reyes
Duração: 111 minutos.

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