Doctor Who começou uma tradição de Especiais de Natal em 2005, no ano de seu retorno. Antes, havíamos tido um tipo de Especial… ou melhor… uma celebração de Natal num episódio da série, The Feast of Steven, 7ª parte do gigantesco arco The Daleks’ Master Plan (1966). Este é o marco zero de uma citação/inclusão do Natal (e posteriormente do Ano-Novo) num episódio da série. Mas foi apenas em 2005, com a volta do show à TV, que os Especiais se tornaram uma marca fixa, até a chegada da 13ª Doutora…
Para esta lista, contei com a participação dos meus queridos little Daleks da casa (Giba, Rafa e Denilson), do meu particular e fofo witch’s familiar (Gui SantiGADO) e do meu mozão cyber-planner Gustavo Freisleben.
Nota: não é necessário explicar a imagem de destaque, certo?
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13º Lugar: The Doctor, The Widow and the Wardrobe
Denilson: Agora sim, o fundo do poço! Não tenho quase nada de positivo a adicionar, roteiro lento e história sem graça fazem toda a experiência parecer bem mais longa do que devia. Único especial que eu não sinto vontade alguma de rever e pulo numa maratona, se no último foi vejam outra coisa, nesse eu recomendo distância de 3 parsecs entre vocês e qualquer aparelho que esteja reproduzindo essa coisinha desagradável!
Giba: Ainda que repleto de momentos genuinamente encantadores e amarrando muito bem suas temáticas ao longo do episódio, The Doctor, the Widow and the Wardrobe acaba sofrendo um pouco de um problema que, de certa forma, é típico deste segundo ano de Steven Moffat como showrunner da série: um bom número de ideias interessantes que, costuradas de forma desigual entre si, acabam tendo que recorrer demais à exposição para se articular em termos de enredo. Ainda assim, é um Especial que, para mim, vale sempre ser revisitado, especialmente na época festiva!
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12º Lugar: The Christmas Invasion
Denilson: Primeiro dos especiais e definitivamente um dos piores. Temos Natal? Até temos, aliás, de forma bem mais presente do que em outros episódios futuros. Porém o Doutor bela adormecida e outros pontos me impedem de dizer que esse é um episódio bom, só vejam outra coisa mesmo!
Rafael: Embora tenha problemas em fazer a transição entre os tons da história, o diretor James Hawes consegue driblar o baixo orçamento da série na maior parte do tempo e conceder ao especial o clima de grandiosidade proposto pelo roteiro de Davies, embora não faça um trabalho tão acurado quanto em The Empty Child/ The Doctor Dances, sua estreia no show. Destaca-se também na parte técnica o e visual criado para os Sycorax, que ganham certo aspecto tribal. The Christmas Invasion é um episódio bastante divertido, que funciona como uma boa introdução ao 10º Doutor e a muitos dos temas que seriam trabalhados na Segunda Temporada (Torchwood ganha a sua primeira citação aqui, tendo um papel importante no rompimento do Doutor e Harriet Jones), além de ter determinado o tom de todos os Especiais de Natal seguintes da Era Davies/Tennant. Entretanto, o roteiro parece sofrer de certa crise de identidade, que acaba prejudicando o resultado final.
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11º Lugar: The End of Time Part I
Denilson: Eu já fui mais viúva do Tennant e devo admitir que se fosse feito a algum tempo esse episódio ficaria mais alto. Não há muito o que destacar, todos sabem mais ou menos o que há de bom e ruim nesse episódio. Hehehe
Luiz: Poucas cenas impedem que The End of Time – Part One caia ainda mais em qualidade. No fim das contas, estamos diante de um Especial de Natal “desnatalizado” e de uma desculpa conceitual para segurar o 10º Doutor por mais um episódio no papel. Tsc tsc tsc… Por isso que eu prefiro o meu Especialzinho de Doctor Nárnia… (sim, podem soltar seus Daleks pra cima de mim, eu não ligo hehehehehe).
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10º Lugar: The Next Doctor
Denilson: Poderia e deveria estar mais alto na lista, mas sempre tive um certo desgosto com esse episódio por algum motivo que me impede de apreciá-lo da forma mais plena. E como a lista é minha…
Giba: Curiosamente indo na direção oposta do que se passou com outros especiais de Natal da série, The Next Doctor foi um episódio cuja apreciação só aumentou para mim ao longo das revisitações. Justificando bem a duração mais alongada com uma narrativa cheia de elementos interessantes, o capítulo inaugurou muito bem o que acabaria sendo um inconstante último ano para o Doutor de David Tennant, explorando suas maiores forças na dinâmica com um elenco enxuto e de ótima qualidade. De quebra, temos aqui também a primeira aparição explícita dos nove doutores anteriores na Nova Série, um marco importante na unificação explícita da cronologia da franquia, após uma série de flertes mais tímidos. Uma ocasião bem escolhida para a homenagem, em mais um exemplo de fanservice. Big Finish, por favor, eu quero uma nova aparição do Prof. Lake para ontem!
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9º Lugar: The Return Of Doctor Mysterio
Denilson: Episódio bem simples, mas tão absolutamente divertido com aquele já tradicional elemento paródia tão famoso em Doctor Who que não podia deixar de figurar num lugar alto do ranking.
Luiz: The Return of Doctor Mysterio não teve Papai Noel (mas isso a série já mostrou, literalmente, em Last Christmas, não é mesmo? Não era hora de visitar outros cenários?), mas teve a reunião de pessoas que se amam, apesar das dificuldades. Um dos episódios de Natal mais diferentes, e ainda assim, mais interessantes de toda a série, com uma soberba fotografia noturna; direção de arte certeira, sem carregar muito nenhum cenário — mesmo o quarto de Grant, quando criança –; efeitos especiais bons a maior parte do tempo; boas interpretações e a “conclusão” da história do Doutor após sua vida de casado. Um Natal heroico, apesar da dor, e necessário para o Doutor e para todos nós, especialmente em um ano absurdamente troll como este 2016.
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8º Lugar: The Runaway Bride
Denilson: Basicamente é um The Christmas Invasion 2.0, os temas são bem semelhantes, ambas se passam na terra, com uma invasão (nesse caso às avessas já que os aliens não vem do espaço, mas das profundezas do planeta) até com os robôs Noel fazendo sua participação. Só ganha um plus pela Donna ter sua primeira participação aqui.
Rafael: Tecnicamente, o episódio é bem executado. Embora eu tenha elogiado a sequência de perseguição, outros trechos envelheceram mal visualmente, como a fábrica onde o Doutor e Donna encontram a Imperatriz Racnoss pela primeira vez, onde a profundidade de campo é claramente um Chroma Key. O próprio conceito visual da Imperatriz Racnoss como uma criatura aracnídea, embora interessante, não parece muito bem executado, em um misto de maquiagem, animatrônico e CGI que não convence. Na trilha sonora, Murray Gold compõe um tema contagiante para Donna, que casa com o clima do episódio, e retornaria com a personagem na 4ª Temporada. Pessoalmente The Runaway Bride é o meu Especial de Natal favorito da Era Davies. É uma aventura despretensiosa e honesta no que se propõe, e ainda introduz uma das personagens mais carismáticas da Nova Série.
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7º Lugar: Last Christmas
Denilson: Capaldi mais uma vez trabalhando com o que dá. Seu primeiro Especial conversa muito com o clima soturno da temporada que o precedeu, tanto que acaba sendo tão mediano e esquecível quando a fatídica 8ª temporada.
Giba: Last Christmas aposta em uma mistura eclética de estilos e tonalidades e sai vencedor em todas as frentes, tomando seu tempo para explorar suas premissas de forma envolvente e apoiando-se na combinação sem falhas de um roteiro inventivo, direção sólida e elenco excelente para entregar o que se tornou, com o tempo, meu segundo especial natalino favorito da série, apenas não batendo o sensacional A Christmas Carol.
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6º Lugar: The Snowmen
Denilson: Episódio impecável visualmente, com uma trama envolvente e com a melhor versão da Clara dentre as apresentadas na série na minha opinião. Simplesmente maravilhosa para assistir em qualquer momento do ano.
Luiz: O Doutor com um mapa do metrô de Londres datado dos anos 60 (referenciando The Web of Fear) e Simeon sugerindo que Arthur Conan Doyle se inspirou em Madame Vastra para criar Sherlock Holmes são pontos conceituais que ajudam prender a atenção do público, assim como a fenomenal interação entre Matt Smith e Jenna Coleman. Os dois juntos são realmente incríveis e Moffat já tinha aqui o cuidado de fazer com que Clara, mesmo nessa versão vitoriana, acompanhasse o Doutor em raciocínio, fosse sagaz, assumisse riscos e gostasse realmente de uma aventura onde as coisas não são facilmente explicáveis. É encantador ver tudo isso. E por estes bons motivos é que The Snowmen consegue se mostrar melhor no final, com o Natal aparecendo como uma data de esperança, mesmo frente a uma tragédia. É a partir desse intrigante momento que o Doutor consegue ânimo para olhar de novo o mundo à sua volta, sair do luto e buscar respostas para aquela que logo logo ganharia o título de “garota impossível“. Quem era Clara Oswald?
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5º Lugar: The Voyage of Damned
Denilson: Episódio longo e cansativo para alguns, mas que me é bem apreciado principalmente pelo carisma da Kylie Minogue numa atuação que mesmo relativamente inconsistente consegue convencer de forma bem agradável.
Rafael: Voyage of The Damned é um episódio cheio de adrenalina e tensão e uma homenagem divertida a clássicos do cinema catástrofe como o citado O Destino de Poseidon e também Inferno Na Torre (1974). Os valores de produção são sólidos, a direção de Mark Strong é competente e o roteiro de Davies transita bem entre a tensão e momentos mais descontraídos, além de trazer bons conflitos para o Doutor e uma peça importante em seu desenvolvimento. Ainda assim, este Especial de Natal é o tipo de episódio que se encerra nos deixando com a impressão de que embora seja bom, poderia ter sido bem melhor.
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4º Lugar: The Time of the Doctor
Denilson: Polêmicas! Tem gente que ama esse episódio, não é meu caso. Aqui temos Moffat no auge da sua capacidade em trabalhar com roteiros com furos tendo que fechar esses furos em um roteiro de 1 hora, ou seja… Brotam personagens que nunca foram citados, obrigação de retornar elementos já quase esquecidos e um resultado final muito, mas muito mais fraco comparado com os outros membros da trilogia “of the Doctor“. O planeta se chama Natal, mas tirando o Chester que cozinhou na TARDIS por sabe-se lá quanto tempo, as festividades acabaram esquecidas no churrasco.
Luiz: A sequência final do episódio — da qual um recorte em elipse seria retomado de maneira meio brega, mas não menos emocionante e interessante em Deep Breath — é um primor. Payne mantém a mesma abordagem poética com que dirigiu todas as cenas com crianças e desenhos e brinquedos no episódio e Moffat capricha na despedida. Por mais que eu ame o glorioso Capaldão, quem vence o campeonato de melhor discurso de despedida até o momento (2019) é o 11º Doutor, não tem jeito. Sem se tornar um melodrama e sem querer parecer frio, o discurso está perfeitamente condizente com essa fase de mudanças para o personagem, afinal, a vida dele foi estendida para além do que naturalmente sua espécie foi designada! Ele ganhou um ciclo regenerativo inteiro de presente e comparando o que acabara de passar com todo o longo futuro que tinha pela frente, tal discurso cai como uma luva. E melhor: consegue ser aplicado a cada um de nós também. Uma despedida muito bonita, com direito a um cameo de Amy, em um Especial de Natal que traz a ideia de renovação e, acima de tudo, de funcionamento do ciclo da vida.
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3º Lugar: Twice Upon a Time
Denilson: Aqui começam os verdadeiros problemas, Capaldi e David Bradley brilham na atuação, Rachel Talalay incrível na direção como sempre e Moffat tenta se esforçar no roteiro, mas a sensação de ser um puxadinho de última hora e o claro cansaço dos mais de 10 anos de roteiros do showrunner fizeram esse episódio bem pior do que poderia ter sido.
Giba: Twice Upon a Time é um epílogo inspirado e bem construído da Era Capaldi, que abraça sua identidade como Especial de Natal ao mesmo tempo em que seleciona cuidadosamente linhas narrativas focadas no momento que o personagem vive, não apenas celebrando o que veio antes mas efetivamente oferecendo um fechamento à altura dos melhores momentos de sua duração. Marcando um desses momentos especiais exclusivos do universo de Doctor Who que são as regenerações, a sempre constante mudança é tematizada de forma hábil em todas as frentes de produção – roteiro, direção, interpretação e música (destaque para a volta olímpica do próprio Murray Gold, que se despede da série após compor sua trilha sonora desde a 1ª temporada, aproveitando-se do momento reflexivo para retomar vários de seus temas clássicos – incluindo aí os três temas do Doutor, para o deleite auditivo dos fãs). Com o tradicional misto de tristeza e alegria é que nos despedimos do 12º Doutor e de toda uma era do programa, ao mesmo tempo em que permanecemos intrigados a respeito do que o futuro do personagem reserva para nós.
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2º Lugar: The Husbands of River Song
Denilson: A hora do Moffat brilhar fechando pontas soltas com uma eficácia bem maior do que outras tentativas anteriores… Bastante ação envolvida e um material digno para fechar nossa medalha de bronze.
Luiz: Os erros deste episódio encerram-se nos personagens secundários — entre aparição, tratamento e encerramento, com exceção do rei Hydroflax, o melhor deles –, mas mesmo nesses casos, os erros não são totais. Isso faz desse Especial um “capítulo final” bem conduzido, harmonioso, bonito e realmente muito bom, sem ‘milagres estranhos’ que justifiquem o [re]aparecimento de River e o preenchimento mais que louvável de uma história que conhecíamos desde a primeira vez que a vimos. Uma feliz história de Natal, quase como um conto de fadas maluco.
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1º Lugar: A Christmas Carol
Denilson: Disparado o episódio com mais cara de Natal, com enredo cativante e extremamente divertido de assistir. E só mais duas palavras: Charles Dickens!
Rafael: A Christmas Carol tem tudo o que se poderia pedir de uma aventura natalina, ao contar uma história emocionante de amor e redenção que, apesar de não ser conquistada sem dor ou lágrimas, ainda encontra um final feliz — com direito a um “milagre de Natal” para salvar o dia. É o meu especial de Natal preferido da série até o momento, tendo envelhecido muito bem. É divertido e poético, possuindo tanto momentos ternos quanto de pungência emocional. Pode ficar um pouco piegas no final? Talvez. Mas se existe um dia que nos autoriza a ser um pouco piegas, esse dia é o Natal.