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Crítica | Espiral da Cobiça

por Leonardo Campos
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Eis um filme que a própria protagonista sequer acreditava na possibilidade de dar certo. Recentemente, num programa televisivo, Halle Berry foi entrevistada e num desses famigerados questionamentos que adoram flagrar o constrangimento alheio, ela precisou responder algo sobre o pior filme de sua carreira. Todos esperavam Mulher-Gato, produção deliciosamente kitsch que recebeu críticas negativas do público e da crítica na época de seu lançamento. A atriz, no entanto, driblou as expectativas óbvias e disse que considera Espiral da Cobiça o seu menor trabalho. Ela pediu desculpas aos envolvidos na produção, mas alegou que já sabia que a história não “era lá essas coisas mesmo antes de começar a filmar”.

Bem característico do gênero suspense da década de 1990, a produção não chega a ser ruim como a atriz afirma, mas fica devendo muito ao potencial que tinha para se desenvolver, principalmente por conta de seu roteiro óbvio, inspirado em tantas histórias já contadas pela indústria hollywoodiana. Dirigido e escrito por Amy Holden Jones, a produção lançada em 1996 retrata Josie Potenza (Halle Berry), uma esposa que revela para um desconhecido o seu desejo de ver o marido morto. Como assim? É O Mestre dos Desejos? Não, apesar da sinopse oficial inadequada nos levar para esse caminho. Na trama, guiada por princípios de Alfred Hitchcock mal trabalhados, todas as evidências indicam que ela é a principal culpada pela morte do marido rico. Será?

Sigamos. O filme começa com a bela esposa num interrogatório, desses com espelho falso, onde alguns escutam tudo pelo lado exterior. Os detetives Ron (Frankie Faison) e Dan (Charles Hallohon) retiram as algemas da moça, tendo em vista escutá-la pausadamente. Assim, ela começa a narrar a história. Esposa de Tony Potenza (Christopher McDonald), marido que bebia muito e agia de maneira irregular dentro de casa, Josie vivia uma versão mediana do american way of life, isto é, dinheiro e conforto, mas marido infiel e maus tratos. Ela mantém um caso com Jake (Clive Owen), estratégia para canalizar o estresse cotidiano do casamento. Ele, conhecido do marido dela, possui uma dívida, oriunda de um empréstimo para manter o seu restaurante em pleno funcionamento.

Certo dia, Josie rompe com Jake e decide caminhar de maneira adequada com o seu marido. Pede uma viagem e acredita na possibilidade de mudança das coisas. Com Tony, segue para uma cabana sofisticada numa região montanhosa. Ele, sempre conectado com o trabalho, não consegue se desvencilhar e precisa voltar para resolver questões. Ela, ao ficar para descansar, vai um dia para um bar e conhece Cole (Peter Greene), um galanteador insistente que percebe a vulnerabilidade de Josie e começa a aprofundar-se no bate-papo. Num certo momento, o tópico é o casamento e ela, inebriada pela bebida e insatisfeita com o andamento da sua vida, alega que gostaria de ver o marido morto.

Mais adiante, numa noite com jantar romântico marcado, Tony é brutalmente assassinado. Assim começa a montanha-russa de reviravoltas. Vale ressaltar, caro leitor, que dialogamos ao longo do filme com a versão da protagonista para os fatos. É um discurso em primeira pessoa. Mas será que de fato, a esposa do marido assassinado fala a verdade? Ou será que estamos diante de uma inocente? As excessivas reviravoltas tornam o filme um esforço da produção em nos enganar diante de pistas falsas, encerradas depois que a produção acaba e encontramos a personagem dentro de um carro, ao estilo Kathleen Turner em Corpos Ardentes. Precisa dizer mais?

Com os figurinos de Coleen Kelsall, Halle Berry desfila pelo filme sempre bem vestida e maquiada, acompanhada da trilha sonora de John Frizzel e captada pelas imagens da direção de fotografia de Haskell Wexler. Espiral da Cobiça funciona como suspense para as pessoas que buscam apenas entretenimento, sem nenhum bom senso ou busca por verossimilhança. Esteticamente adequado para o que se produzia nos anos 1990, o filme é um suspense que segue a linha da moral dúbia dos seres humanos e do perigo da história contada unicamente por um ponto de vista. Em casos como esse, a costumeiramente incompetente polícia hollywoodiana deveria saber que é preciso apurar e contemplar outros lados da história. Deu no que deu.

Espiral da Cobiça (The Rich’s Man Wife/Estados Unidos, 1996)
Direção: Amy Holden Jones
Roteiro: Amy Holden Jones
Elenco:Allan Rich, Charles Hallahan, Clive Owen, Frankie Faison, Halle Berry, Peter Greene
Duração: 94 min

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