Nesta quarta edição da série Tex Graphic Novel temos um intenso roteiro de Gianfranco Manfredi (figurinha carimbada de outros títulos da Bonelli, como Mágico Vento, Face Oculta e Adam Wild), com Tex ainda jovem, na casa dos 20 anos, recém tornado um fora da lei, após vingar a morte do irmão. No pequeno Editoral que escreve no início da revista, Davide Bonelli localiza a história por volta de 1858, algo que a maravilhosa arte de Giulio De Vita confirma através dos figurinos que coloca em seus personagens, dos meios de transporte que mostra e das construções, com destaque para o flashback com o rancho e o saloon e o presente, na cabana de Birdy, um amigo de Tex em apuros.
A narrativa é bastante ágil e faz questão de manter a sensação de perigo vindo de todos os lados, a começar pela pequena narração geográfica que o texto nos traz logo na abertura do volume: “Território do Montana. O clima mais violento da América. Pode-se começar o dia cavalgando com o céu sereno e, poucas horas depois, ser fustigado pelos pelos ventos gelados do norte!“. Notem que a ameaça da natureza aqui é a primeira a ser apresentada e ela irá desempenhar um papel bem importante no decorrer dessa jornada de Tex, mostrada em dois tempos distintos: o passado, onde aconselha e salva Birdy em uma transação meio obscura envolvendo cavalos roubados; e o presente, onde novamente Tex precisa socorrer o amigo, mais uma vez envolvido com obscuras transações — desta vez com Tirrell, da American Fur Company.
As cores de Matteo Vattani são um outro atrativo indispensável nesta aventura pelo tipo de contraste que proporciona e pela inteligente paleta ao longo da cavalgada de Tex, com excelente exploração dos tons térreos (versus o sépia do flashback, que toma os quadros em um bem aplicado monocromatismo somado a um soberbo uso de luz-e-sombra) opostos ao branco opressivo da região após uma forte nevasca. Alguns quadros me lembraram cenas específicas de Quadrilha Maldita (1959), que se passa no Oregon, e até o momento em que o roteiro explora bem todas as características desenvolvidas ao longo da edição, a arte, as cores e a emoção transmitidas pelo texto prendem totalmente o leitor. Para mim, porém, as coisas começam a cair já no finalzinho, a partir da página 43, quando começa a batalha final.
Há basicamente dois grandes problemas com o encerramento de Desafio no Montana. O primeiro é a radical mudança de base argumentativa de Manfredi, que passa de um cuidadoso texto de perigo-e-ação para uma típica “ação à toda prova“, o que pode até ser defendida como necessidade para este momento da história — o que é verdade, se a gente pensar bem –, mas empaca no como esta ação é entregue. O ritmo é praticamente inédito no volume e a promessa, a ótima construção até aquele final, parece que não recebe um bom pagamento, fato confirmado pelo segundo grande problema: o anticlímax abrupto da derradeira página. As resoluções e despedidas aí praticamente recebem o maior golpe de contraste comportamental dos envolvidos na história, dando-nos a sensação de que o roteiro precisaria de mais umas cinco páginas para se fechar a contanto.
Independente do final (a propósito, a última página mergulhada em uma tonalidade de luz mais clara, indicando o Sol radiante sob a paisagem gélida, é o único “torcer de nariz” que eu faço à aplicação de cores de Matteo Vattani aqui), Desafio no Montana é uma história que nos dá o maior prazer de acompanhar uma aventura do homem contra a natureza, nos muitos sentidos que esta frase pode ter.
Tex: Sfida nel Montana (Tex Romanzi a Fumetti #4) — Itália, setembro de 2016
Sergio Bonelli Editore
No Brasil: Tex Graphic Novel n°4 (Editora Mythos, dezembro de 2017)
Roteiro: Gianfranco Manfredi
Arte: Giulio De Vita
Cores: Matteo Vattani
52 páginas