Home FilmesCríticas Crítica | Pets: A Vida Secreta dos Bichos 2

Crítica | Pets: A Vida Secreta dos Bichos 2

por Gabriel Carvalho
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“Eu não quero ir ao veterinário!”

O que os nossos queridos animais de estimação aprontam quando estamos longe de casa ou não prestamos atenção? Os seus rabos continuam a balançar, permanecem esperando ao pé da porta de entrada ou então vivenciam grandes aventuras? Logo as respostas mais assustadores a essa pergunta eram as encontradas por Pets: A Vida Secreta dos Bichos. Porém, mesmo com as tantas maluquices apresentadas, tal primeiro exemplar da franquia ao menos começava com um pontapé bem mais pé no chão. Lá, o cachorrinho Max (Patton Oswalt, que nessa sequência ocupa o espaço de Louis C.K.) precisava aprender a conviver com o novo pet de sua dona, Duke (Eric Stonestreet). Assim sendo, a animação original possuía uma proposta aos arcos dos seus personagens que conversava com um argumento concreto: compreender os animais e até os seus sentimentos. Os personagens coadjuvantes, por sua vez, surgiam paralelamente a essa trama, que era a primordial. Já a continuação desse longa-metragem prefere, em contrapartida, sedimentar a sua narrativa em vários núcleos e que nunca nem conversam entre si. Tamanha essa cachorrada, a animação torna-se, consequentemente, esquizofrênica em poucos minutos. Como se o seu responsável, o cineasta Chris Renauld, chegasse em casa, e, sem controle algum, o seu longa não parasse mais de correr.

O protagonista, Max, tem que confrontar as suas próprias inseguranças, enquanto aprende a ser mais corajoso com os conselhos de Galo (Harrison Ford), cão-pastor de um rancho onde encontra-se passando férias com Duke e seus humanos. Gidget (Jenny Slate) entra em um processo para ter as noções de como se comportar como um gato, querendo recuperar o brinquedo preferido de Max, mas que perdeu por ser previsivelmente incompetente. Paralelamente a isso, o coelho branco Bola-de-Neve (Kevin Hart) encarna um super-herói mascarado, vivendo essa sua imaginação com tanta verdade que parece ter tomado algum chá no País das Maravilhas. Em contrapartida, uma nova personagem apresentada, Daisy (Tiffany Haddish), quer ajudar um tigre selvagem, vítima de maus tratos por Sergei (Nick Kroll), artista circense que é um antagonista maquiavélico – e que não poderia ser mais caricato. Assim, com essa bicharada aprontando tanto ao mesmo tempo, o longa-metragem parece não ter uma premissa particular. Em termos de arco, por exemplo, apenas Max possui um. O resto vai acontecendo. E assim continua, pois essas tramas somente se unem aos quarenta e cinco minutos do segundo tempo por pura conveniência. Pelo menos, desta maneira, a animação assume uma proposta por ser descartável e, sem pretensões, entreter passageiramente.

Os minutos inicias da obra, porém, traziam um pensamento interessante, com a introdução de uma criança na casa de Max e Duke. O longa principia: a vinda de um bebê urge transformar como se organiza um lar. O modo como isso é resolvido, entretanto, garante comparações com Toy Story. O projeto anterior, primeiramente, tinha uma premissa extremamente parecida com a do clássico do cinema. Já dessa vez, a sua sequência ganhou um lançamento a poucas semanas do quarto exemplar da saga de brinquedos. Mas, enquanto outros usariam o cerne sobre o menino para construir narrativa, pensando as incertezas dos animais no mundo, tal animação opta pelo oposto. O começo é bem apressado, e a criança é prontamente esquecida. Esse vínculo, no entanto, é covardemente retomado na cena que conclui o longa, como se concretizasse qualquer mensagem. O arco de Max até tem certa conexão com a presença do garoto, que o cachorro quer proteger de perigos. Contudo, o relacionamento torna-se impessoal, porque a narrativa sustenta os medos de Max, e a sua chance de provar-se, em um escopo vago. Quem precisa ser resgatado é o tigre, não a criança. Então, o resultado soa piegas, o que surpreende, pois isso contraria o projeto, que nas outras tramas era sincero consigo mesmo, assumindo ser vazio em como explorava esse universo.

Ao passo que a conclusão sugere uma prepotência, o restante mostra o contrário: entretenimento sem compromissos, que atrai por suas cores e energia ininterrupta. O público a quem a animação mira é o mais jovem e, em termos de crianças, a Illumination é mestre em os cativar. Mesmo que as esquetes sejam desconexas – e não apenas narrativamente, o que seria compreensível, mas gratuitas para criarem unidade -, o resultado empolga modestamente. Querendo ser uma gata para resgatar o brinquedo de Max – premissa sem razão nenhuma para ser, porque ninguém precisa, teoricamente, cuidar de um pato de borracha -, a trama de Gidget é competente, por exemplo. Os roteiristas encontram nos inúmeros arquétipos de tais animais, próprios em características, jeitos de os explorar criativamente. Enquanto a franquia de brinquedos nos simpatizaria com a espécie, esse longa preocupa-se mais em sacanear os sensos comuns. Mesmo raso, assim entretém. Dentre as sacadas cômicas, a ranzinza Chloe (Lake Bell), uma personagem composta por uma nota só, permanece a única com um ânus que se aparenta ocasionalmente. Ora, a “sagacidade” nessa piada mora em associar gatos por serem bundões – troque, se quiser, esse xingamento por sua versão mais madura. É o que resta, enquanto a obra não cansar de correr e enfim se encerrar.

Pets: A Vida Secreta dos Bichos 2 (The Secret Life of Pets 2) – EUA, 2019
Direção: Chris Renauld
Roteiro: Brian Lynch
Elenco: Patton Oswalt, Eric Stonestreet, Kevin Hart, Jenny Slate, Ellie Kemper, Lake Bell, Dana Carvey, Hannibal Buress, Bobby Moynihan, Tiffany Haddish, Nick Kroll, Pete Holmes, Harrison Ford, Sean Giambrone, Meredith Salenger
Duração: 86 min.

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