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Crítica | Hanna – 1ª Temporada

por Ritter Fan
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Hanna, série baseada em filme homônimo de 2011 dirigido por Joe Wright, consegue reunir duas linhas narrativas que, se vistas separadamente, não passariam de medianas em um todo que é melhor do que o mero somatório de suas partes. De um lado temos uma série de ação, com razoavelmente boas doses de pancadaria e, de outro, uma melosa história de perda da inocência e amadurecimento que, mesmo não convergindo muito bem, acabam justificando, por muito pouco, a transformação de pouco menos de duas horas de material em quase sete horas da mesma coisa.

David Farr, co-roteirista do filme, encabeça a produção e escreve boa parte do roteiro da série que conta a história de Hanna (a intensa Esme Creed-Miles), uma garota de 16 anos criada por seu pai, Erik Heller (Joel Kinnaman), em técnicas de sobrevivência, artes marciais, línguas, conhecimentos gerais e armamentos em geral no coração de uma floresta gélida no Leste Europeu. Ao sair de lá por “sem querer, querendo” revelar sua localização à agente da CIA Marissa Wiegler (Mireille Enos) que a persegue e a seu pai desde que ele sumiram do mapa, ela tem que lidar com as verdades sobre quem exatamente é e, mais ainda, quem é seu pai e como exatamente é o selvagem mundo que a cerca. Se, de um lado, ela tem que fugir e defender-se de todas as ameaças usando o que aprendeu com o pai, de outro ela faz amizade com a jovem Sophie (Rhianne Barreto) e “matricula-se” em um curso relâmpago de adolescência.

A premissa, assim como a do filme, é muito boa e toda narrativa que ficou nas entrelinhas na obra original ganha, claro, todo o desenvolvimento possível aqui. No lugar da economia narrativa, entram as missões paralelas, as reviravoltas, as mortes não morridas, os amigos do pai e, claro, cada detalhe do programa de manipulação genética a que Hanna foi sujeita antes de nascer e que a torna tão letal. Quem viu o filme verá, aqui, uma versão super-estendida dele, com Creed-Miles substituindo muito bem Saoirse Ronan no papel-título e com a reunião de Kinamann e Enos, da excepcional The Killing, agora em lados opostos.

No entanto, como mencionei logo no começo, as duas grandes linhas narrativas não conversam muito bem, sendo extremamente segmentadas e utilizadas quando conveniente. Ou há a história de amadurecimento ou há o thriller de ação, cada qual com a mesma capacidade de reunir-se um com a outro que o azeite tem de fundir-se harmonicamente com o vinagre.

Aos trancos e barrancos porém, literalmente de maneira episódica, a série de oito episódios vai andando, sendo desapontador o pouquíssimo tempo que é empregado para lidar com o treinamento de Hanna na floresta, já que da fuga inicial somos catapultados imediatamente para o ponto de ruptura, resultando em um enorme desperdício de potencial que os roteiros tentam compensar com sequências de ação que não são lá muito inspiradas e que, pior ainda, são diluídas. Toda a violência visceral da Hanna do filme é mantida em xeque na série, como se David Farr, de repente, sentisse vergonha de colocar uma adolescente degolando bandidos, ou, mais provavelmente, tenha recebido instruções explícitas da produtora para “pegar leve”.

E o mesmo vale para a relação da jovem com Sophie. A construção inicial do relacionamento das duas promete exatamente como as cenas iniciais de pai e filha “na natureza selvagem” prometem e, exatamente como nessas cenas, esses laços de amizade desapontam ao correr demais e queimar a largada, já trazendo dramas adolescentes que, de tão genéricos, parecem ter sido retirados diretamente da prateleira de clichês do subgênero sem nem mesmo misturar antes de usar. Hanna, selvagem e única por gloriosos – e quase literais – cinco minutos, torna-se uma menina qualquer, levemente estranha, talvez, em meio a jovens abobalhados e deslumbrados.

Mesmo, porém, diante desses problemas, o revezamento narrativo mantém uma certa variedade na telinha e as filmagens quase que integralmente em locações bem diversas, mantém aceso o interesse pela história. Isso, claro, sem contar com as boas atuações das duas jovens e dos dois adultos principais, mesmo que, no segundo caso, haja pouco espaço para eles realmente mostrarem o que foram capazes de mostrar em The Killing. Algumas boas coreografias de luta também ajudam bastante e a introdução de novos personagens bem lá no finalzinho cria a ponte necessária para uma eventual 2ª temporada que, espero fortemente, sejam tonalmente bem diferente desta, de preferência com uma narrativa mais una e certeira, sem atalhos.

Hanna não é um primor como série de ação e também não encanta completamente como uma história de amadurecimento. Entretanto, seu conjunto – que nem é tãããão conjunto assim – acaba funcionando bem ao manter o espectador no mínimo intrigado pela invencível garota da selva que se adapta em um piscar de olhos à chamada civilização. Não sei se é o suficiente para manter a curiosidade sobre seu futuro após os eventos que se desenrolam aqui, mas quem sabe, não é mesmo?

Hanna – 1ª Temporada (EUA – 29 de março de 2019)
Criação: David Farr
Direção: Sarah Adina Smith, Jon Jones, Amy Neil, Anders Engström
Roteiro: David Farr, Ingeborg Topsoe
Elenco: Esme Creed-Miles, Mireille Enos, Joel Kinnaman, Rhianne Barreto, Khalid Abdalla, Justin Salinger, Félicien Juttner, Giles Norris-Tari, Lyndsey Marshal, Kemaal Deen-Ellis, Kemaal Deen-Ellis, Benno Fürmann, Joanna Kulig, Yasmin Monet Prince
Duração: 8 episódios de 47 a 55 min. cada

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