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Crítica | Amor de Perdição (1978)

por Bruno dos Reis Lisboa Pires
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  • Texto baseado na versão para televisão de seis capítulos. Há spoilers.

Primeiro filme de Manoel de Oliveira produzido e exibido após a Revolução do 25 de Abril, que encerrou o regime ditatorial do Estado Novo, Amor de Perdição foi recebido da pior forma possível em seu país recém democratizado. Um filme pomposo e elegante, tratando da burguesia novecentista, com aquela encenação pesada típica de Manoel de Oliveira, sua obra não foi bem vista diante do novo cenário audiovisual lusitano, que dedicava-se à expressões artísticas populares e entendíveis para qualquer espectador.

Ao contrário do que era esperado, Manoel fez um épico de quatro horas baseado no romance de Camilo Castelo Branco (escritor cujo cineasta voltaria a dedicar seu olhar algumas vezes em sua carreira), a história de um amor incapaz de ser consumado, em que o peso de sua mise-en-scène somada à longa duração fossem capaz de passar a sensação de impotência do texto original. Amor de Perdição é um filme universal, pois mesmo que localizado num lugar tão distinto quanto o da burguesia portuguesa do século XIX, não passa de uma história de amor proibido, onde um casal apaixonado é impedido de estar junto por dissidências familiares. É um conto fatal em que seu encerramento é claro nos primeiros instantes, mas a paciência que os acontecimentos se desenrolam são cruciais para sentir o peso e a dor comprometida no romance de Castelo Branco.

As quatro horas de duração não são por acaso, talvez seja a maneira mais eficiente de adaptar um romance tão arrastado, atrasando o ápice e, sempre que possível, recorrendo ao texto original. Tanto por isso que é um filme de planos estáticos, com atores sem emoção e provocando um efeito anti-naturalista, pois o valor se dá na palavra original, representada aqui pelo narrador, que recorre ao romance tal como foi escrito. Enquanto o texto se desenvolve, nada em cena acontece, são apenas as palavras dando sentido à imagem e a composição do plano como suporte daquela antologia, um olhar panorâmico sobre tudo que ocorre.

O amor previsto no título, que demora a concretizar-se ao longo das horas de filme, fortifica-se apenas durante a tragédia, dois corpos apaixonados que afundam no oceano, buscando a privacidade da morte. As correspondências dos dois, que se perdem no mar, são vistas na superfície e pescadas por uma mão: uma história particular escondida decifrada pelo acaso. A escolha de Camilo, autor do romance, e de Manoel seriam obra do acaso, escolher um acontecimento mundano por aleatoriedade. Amores de Perdição estão por aí, a sorte é termos tido bons pescadores para nos proporcionarem um dos maiores eventos que o cinema português pode nos agraciar.

Amor de Perdição (Portugal, 1978)
Direção: Manoel de Oliveira
Roteiro: Manoel de Oliveira, Camilo Castelo Branco
Elenco: Antonio Sequeira Lopes, Cristina Hauser, Elsa Wallencamp, António Costa, Henrique Viana, Ruy Furtado, Ricardo Pais, Mario Barroso, João Bénard da Costa
Duração: 260 min

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