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Crítica | Os Cantos de Maldoror (1982)

por Luiz Santiago
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Los Cantos de Maldoror - plano critico Antonio Hernández Palacios

Para um leitor que chegar a esta curta história do desenhista e escritor espanhol Antonio Hernández Palacios sem saber, de fato, qual é a sua origem, haverá uma bem difícil a apreciação da trama. Se isso já é “difícil” para quem sabe da fonte que inspirou o artista, tudo fica ainda mais “complicado” para os que não ouviram falar de Isidore Lucien Ducasse, mais conhecido pelo pseudônimo de Conde de Lautréamont. E não, isso não ocorre pelo fato de a história ser profunda demais e, por isso, difícil de ser entendida. Não é este o caso. Tanto a excelente arte de Palacios quanto o seu breve texto adaptativo dão muitos ingredientes para que um leitor virgem chegue à conclusão do que se trata, em linhas gerais, o tal pacto que o narrador fala para o público. Mas ainda falta algo.

Falemos, então, da origem. Ducasse nasceu na cidade de Montevidéu, Uruguai, em 4 de abril de 1846 e morreu em Paris, em 24 de novembro de 1870, aos 24 anos de idade. Publicado em 1869, na Bélgica e na França, os seus Cantos de Maldoror possuem 6 partes com longas estrofes escritas em prosa poética. Em termos históricos, trata-se de um importantíssimo documento para a literatura fantástica e que serviu de adubo literário para a poesia surrealista francesa, tendo recebido grande admiração por parte de futuros escritores como Louis Aragon, André Breton e Philippe Soupault.

No centro do texto, encontramos o nosso herói maldito: Maldoror. Fortemente emprenhado em se opor à bondade Divina, o protagonista (ou Homem Mau) dedica-se a viver disseminando todos os possíveis horrores que se possa conceber, seja físico, moral ou espiritual. Maldoror vive uma guerra contra o Criador e contra a Criatura (a humanidade), ele incluso. Há cenas de violência extrema nos cantos e, em todas as ocasiões, o ponto de partida é essa posição estúpida, vulgar, insignificante e inteiramente corrompida do homem, que para ele é sempre vil e desonesto consigo mesmo e com os outros, colocando uma máscara social para provar que sabe se adequar aos desejos alheios, dividir espaço com inimigos, conviver com diferentes e diferenças, mas isso não é algo nem perto da verdade. Para Maldoror, a cura para o descontentamento é extirpar, com o máximo de fluídos possíveis, “aquele que causa desconfortos” à sua vida.

Os Cantos de Maldoror (1982) palacios plano critico

Nesta “adaptação” de Palacios temos indícios básicos de “um dos pactos” que ele teria feito com um espírito maligno, neste caso, o Espírito da Prostituição. A obra tem uma coluna de prosa poética, embora curta, e é recheada de símbolos, nos dando tudo o que precisamos saber para que se entenda a personalidade do narrador, a quem — surpresa surpresa — não conseguimos odiar, e isso já diz muito sobre nós.

Embora todas essas coisas fiquem muito claras para o público, o roteiro aqui simplesmente não avança. Definitivamente falta algo, como salientei no primeiro parágrafo desse texto. A única coisa da qual não se pode reclamar aqui (e se dependesse unicamente dela, não caberiam de tantas estrelas na nota final) é a arte de Palacios, que possui um colossal poder expressivo e aplicação de cores, vindo em uma elegante diagramação, coisas que não conseguimos ignorar de jeito nenhum. De todo modo, é apenas um pequeno conto de 16 páginas, o que ajuda a explicar muita coisa em relação ao roteiro, mas não necessariamente eleva às alturas essa versão dos Cantos de Maldoror. A leitura, porém, é mais que indicada.

Los Cantos de Maldoror (Espanha, 1982)
Publicado originalmente na Metal Hurlant
Roteiro: Antonio Hernández Palacios
Arte: Antonio Hernández Palacios
16 páginas

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