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Crítica | Futebol Infinito

por Bruno dos Reis Lisboa Pires
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Este filme é dedicado aos terroristas da forma, e não aos do conteúdo.
Jairo Ferreira, a respeito de O Vampiro da Cinemateca

O cineasta Corneliu Porumboiu retorna à sua cidade natal para redescobrir um antigo colega de infância que afirma estar revolucionando as regras do futebol. No interior da Romênia, o diretor encontra Laurentiu Ginghina, pacato funcionário público, cuja maior ambição pessoal é remodelar a forma de se jogar futebol, esporte obsoleto na opinião do entrevistado, que na juventude sofreu uma forte lesão por conta do jogo. Laurentiu em seu escritório, mais para o final do filme, compara-se ao Super-Homem e ao Homem-Aranha, heróis de prestígio mas que socialmente não passam de tolos jornalistas, que sofrem no trabalho e na vida amorosa. Engraçado o paralelo traçado, pois justamente no interior de um país com uma fraca tradição futebolística, no escritório de um oficial de governo surgiria uma atualização do esporte mais famoso do mundo, priorizando sua dinamicidade.

A ideia de Laurentiu partiu da vontade de priorizar a movimentação da bola, que segundo o “teórico”, seria o astro do jogo. A partida de futebol para o espectador tem se tornado uma experiência rebuscada demais, com atuações egocêntricas e megalomaníacas com a prioridade dado aos ídolos de cada time, e o esporte assim foi ficando cada vez menos dinâmico. Para ele, a principal medida à ser tomada seria limitar o espaço de cada jogador em campo, dividindo-os em posições e limitando-os espacialmente. Com isso, a divisão do trabalho deixaria os esportistas em campo mais estáticos, porém com maior disputa individual de bola e mais passes, diminuindo o desgaste físico e reviver a agilidade da bola, transformando o futebol em um esporte mais agradável de ser assistido.

Interessante como Laurentiu dentro de uma criação comunista acabou levando o próprio esporte a um patamar mais igualitário, acabando com o “estrelismo” fundado no futebol. Com a bola saindo do goleiro, ela teria que passar por todas as quatro divisões no campo, privilegiando o movimento cinético da bola e fazendo com que quase todos os jogadores participem de uma jogada resultando em um gol. Além disso suas prioridades são a velocidade e espetacularização do jogo. Futebol não tem tido energia, tem sido tipificado como uma criação de astros que dominam o jogo. Nas palavras de Laurentiu, todo vácuo tem a tendência de ser consumido pela matéria, mas ela precisava ser distribuída de forma com que o jogo não se torne desleal aos olhos de quem vê. A energia não deve ser dissipada jamais, e essa obsessão do teórico em aperfeiçoar o jogo pondo limitações tudo tem a ver com a marginalidade formal, seja do cinema ou de qualquer forma artística, onde o terrorismo e a destruição nos levam ao aperfeiçoamento.

Vendo pelos olhos de Laurentiu, apaixonado pelas próprias ideias, o futebol de fato seria um esporte melhor seguindo essas práticas. No entanto, o filme é todo baseado na refutação de suas teorias, como se o cineasta quisesse diminuir ao máximo as expectativas de Laurentiu, lembrando o que a FIFA jamais cederia a mudança das regras, que esse pensamento já é proposto dentro dos treinos, que nada disso é novidade alguma. A conclusão é de que o papel do filme é limitar as liberdades de pensamento, excluindo Laurentiu de seu papel fundamental como teórico do esporte, renegando seu próprio sonho. Cornelius já é um diretor careta, cuja tentativa de fazer filmes é falha, e aqui ele desconta toda sua mediocridade em destroçar as ambições de um residente do interior romeno. Cinema é feito pra celebrar a marginalidade, viva Laurentiu.

Futebol Infinito (Fotbal Infinit) – Romênia, 2018
Direção: Corneliu Porumbiu
Roteiro: Corneliu Porumbiu
Elenco: Corneliu Porumbiu, Laurentiu Ginghina
Duração: 70 min.

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