Criado por Arnold Drake e Bob Brown, Mutano (Beast Boy/Changeling — aqui no Brasil também chamado de Rapaz-Fera) apareceu pela primeira vez na revista Doom Patrol Vol.1 #99, e sua origem foi contada na edição seguinte. A presente crítica aborda os acontecimento dessas duas publicações. À época, a revista da Patrulha do Destino saía mensalmente com duas histórias (algo entre 12 e 16 páginas cada uma, mas haviam exceções, dependendo da importância da narrativa). Às vezes, cada uma das tramas seguiam arcos individuais e é justamente isso que presenciamos nesta chegada e (a partir daqui) constante presença de Mutano ao lado da equipe de esquisitões liderados pelo Chefe, o Dr. Niles Caulder.
Na trama, conhecemos Garfield “Gar” Mark Logan, que aparece no QG da Patrulha do Destino, bagunçando tudo e deixando rastros esquisitos, como uma pegada de um tigre gigante, além de traços de águia, elefante e gorila, já ganhando na piadinha bem feita pelo Homem-Robô, o apelido de… Eaglephantigerilla. Essa primeira impressão coloca o grupo em alerta, criando uma armadilha para prender a “criatura” que está “atacando” a casa. E é aí que conhecem Mutano. Salta à primeira vista uma relação bastante complicada entre o garoto e os adultos, especialmente com Clifford Steele, que parece ser o mais zombado pelo novato; o alvo da raiva mal contida de Gar. Uma relação que começa delicada e potencialmente muito interessante.
Por mais ridículas que pareçam (e coloco isso no melhor sentido da palavra), a arte de Bob Brown na edição #99 e a de Bruno Premiani na edição #100 dão o tom muitíssimo certo para tornar Mutano um personagem estranho, ameaçador, bizarro — servindo como uma luva para ser parceiro da Patrulha — e ao mesmo tempo… diferente. Há um elemento que achei maravilhoso no primeiro roteiro, que é quando o Chefe pergunta ao menino por quê ele sofre nas mãos dos colegas da escola, já que parece normal. É preciso Clifford e Rita apontarem para o velho amigo que ele está tão acostumado com diferenças que nem notou ou se importou com a cor da pele do menino. Para uma história lançada no final de 1965, em meio às lutas por direitos civis da população negra nos Estados Unidos, esse tipo de declaração tem um peso histórico e tanto, mesmo que a cor em cena seja verde. A mensagem, no entanto, prevalece.
Embora relutantes, a Patrulha concorda em se aliar a Mutano em UMA missão, mas já neste início o leitor sabe que não vai ser bem assim. O fato de ser novo demais e o tipo de garoto que é briguento, com excelente humor, com piadas provocativas e zero de modéstia, dava na cara que ele não iria embora tão cedo. Aliás, a relação entre ele e a Patrulha não melhora na segunda edição, mesmo com a chance pontual que lhe é dada. Aqui, o roteiro expande um pouco o sofrimento do rapaz e nos faz conhecer a sua origem: seus pais, Mark e Marie Logan, viajaram para o país fictício de Lamumba, na África, onde estavam fazendo experimentos científicos na área de genética e evolução. Gar contrai Sakutia, a Febre Verde, e o pai utiliza o conhecimento de seus estudos de evolução para transformar o menino temporariamente no único animal conhecido que sobreviveu a essa doença. Quando o processo é revertido, a cor do garoto não mudou. E ele veio com mais algumas surpresas pós-experimento…
Mesmo que seja bastante batida a ideia de origem trágica para heróis, o roteiro de Arnold Drake sofre bem mais aqui das conveniências na hora da luta do que na apresentação do passado de Mutano. A propósito, é muito interessante ver esse tipo de transformação do ponto de vista de alguém bem jovem, uma lição que a DC retirou do Capitão Marvel (Shazam) e que funcionou muito bem aqui, tendo um pouco mais de “adolescente levado e arrogante” em Mutano, o que torna a relação dele com os outros mais difícil e mais instigante para se acompanhar. Uma apresentação muito boa para um personagem cativante que iria ganhar bastante destaque na editora, indo brilhar, não muito tempo depois, em uma equipe titânica…
The Beast-Boy + The Fantastic Origin of Beast-Boy (Doom Patrol Vol.1 #99 e 100) — EUA, novembro – dezembro de 1965
Roteiro: Arnold Drake
Arte: Bob Brown, Bruno Premiani
Letras: Stan Starkman
Capas: Bob Brown
Editoria: Murray Boltinoff
12 e 26 páginas