Wesley Wales Anderson nasceu no dia 1º de Maio de 1969, no Texas, Estados Unidos. Graduou-se no ensino regular em sua cidade natal e, posteriormente, cursou Filosofia na University of Texas at Austin, onde se graduou em 1990. Foi na Universidade que Anderson conheceu e se tornou amigo do ator Owen Wilson, com quem trabalharia já no início de sua carreira cinematográfica. O curta-metragem Bottle Rocket, de 1994, foi realizado juntamente com Luke e Owen Wilson, tanto na produção quanto na realização prática da película (ambos atuam no filme e Owen co-escreve o roteiro). Sua maneira bastante diferente de dirigir já apareceria no primeiro longa-metragem, Pura Adrenalina (1996), um parâmetro de qualidade e composição visual que seria renovado e revolucionado nos anos seguintes. Abaixo, segue a minha lista de classificação para a obra completa (longas-metragens) do diretor. Não deixe de comentar com a sua lista também!
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9º Lugar: Pura Adrenalina
Bottle Rocket, 1996
E o último grande golpe, que toma o terço final da projeção e que conta com uma ótima ponta de James Caan no papel do mafioso local, não é muito mais do que a reiteração do que já vimos, dessa vez de maneira mais grandiosa e complexa. A montagem brusca de David Moritz (que continuaria a trabalhar com Anderson em Três é Demais e A Vida Marinha de Steve Zissou) , emulando a do curta, funciona bem para dar energia ao assalto ao frigorífico e o estilo de Anderson, com muito close-up e planos bem estruturados e simétricos acabam nos fazendo aceitar sua longa e, em última análise, desnecessária duração, além de um final surpresa – mas completamente previsível – que trai o espírito do curta.
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8º Lugar: A Vida Marinha com Steve Zissou
The Life Aquatic with Steve Zissou, 2004
Curiosamente, contrariando a ótica desse sufocamento, Anderson, aqui, permite-se movimentar mais a câmera, criando uma solução interessante para o escopo que aborda. O grande costume do diretor em transformar ambientes em casas de boneca, dividindo-os ao meio e explorando-os visualmente, retorna, mas a maneira, mais adequada à proposta do filme, é diferenciada. A inquietude do mar não permite que a câmera de Anderson seja seca, balançando-se. Mesmo assim, o texto primoroso conta com situações que nos guiam pelo longa-metragem com suavidade, sem que a história seja desinteressante em ponto algum. O pecado de Wes Anderson é sufocar o seu filme com certos maneirismos que funcionam perfeitamente se usados com mais atenção. O resultado, porém, são alguns dos personagens coadjuvantes menos extraordinários – o triângulo amoroso do longa-metragem simplesmente não funciona – da carreira do diretor, ainda longe do medíocre. As figuras ainda são riquíssimas – Willem Dafoe deveria ter recebido mais tempo de tela -, a história é gostosa de acompanhar, o universo é formidável – excelente uso de stop-motion – mas A Vida Marinha desentende como mergulhar fundo.
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7º Lugar: Viagem a Darjeeling
The Darjeeling Limited, 2007
Pecando apenas em um terceiro ato um tanto bagunçado e fora dos eixos do que fora visto até então, Viagem a Darjeeling é mais uma bela obra de Wes Anderson sobre o cotidiano da vida, repleta de bom humor, sagacidade e até mesmo um nível de amargura na busca de seus personagens em encontrar soluções para as pendências de suas vidas.
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6º Lugar: Três é Demais
Rushmore, 1998
E apesar de tudo que Max faz de errado, que o torna mais um dos odiosos protagonistas de Wes Anderson, o diretor é incapaz de dar-lhe uma redenção, pois estamos diante de um filme de aprendizagem. Desleal seria se a professora de Max, no fim de tudo, não o perdoasse, não assimilasse que ele é apenas um garoto que ainda é incapaz de lidar com o amor, que busca na imagem de uma mulher muito mais velha a segurança de nunca firmar-se em nada concreto pois corre atrás da utopia. Por tratar-se de um filme de educação sentimental, nada mais justo que no último plano os dois dançarem ao som de Faces, que canta: “I wish that, I knew all I know now, when I was younger”.
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5º Lugar: Ilha dos Cachorros
Isle of Dogs, 2018
Trabalhando majoritariamente com a equipe de Sr. Raposo (um “pequeno time” de 670 pessoas que proveram, para este longa, 130.000 sequências de fotografia) Anderson conseguiu mais uma vez mostrar inventividade e excelência técnica, mesmo ao trabalhar um tema que não é novo em animações (vide Os Cães Plagueados) mas que sob o seu olhar, recebe a grandeza e o encanto que não deixa de impressionar o público. Suas exibições visuais aqui contam com cenários que se alteram em travellings; variação marcante de ângulos iniciais para cada tipo de personagem — sua reimaginação de cenas de Os Homens Que Pisaram Na Cauda do Tigre durante a busca de Atari por seu cão Spots; de Yojimbo – O Guarda-Costas na sequência de luta, logo na abertura fabular da película; e de A Fortaleza Escondida sempre que Atari, Spots ou Chief são mostrados em grupo, merecem efusivos aplausos — e ocultação das cores vermelho e verde sempre que o ponto de vista é o de um cachorro. Raro encontrar um diretor que, hoje, que crie identidades estéticas e atmosferas tão íntimas e tão identificáveis como Wes Anderson cria para seus grupos de personagens.
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4º Lugar: Os Excêntricos Tenenbaums
The Royal Tenenbaums, 2001
Entrando no lúdico mundo da literatura infantil em seu formato geral (temos até um narrador!) e revestindo-o de elementos adultos, Wes Anderson faz de Os Excêntricos Tenenbaums um delicioso quadro de família através do anos, capturando a loucura e o melhor de cada um, seus traumas, neuroses, mentiras e falhas. Todos se descobrem, mas não existe favoritismo dramático no roteiro, defesa de um personagem ou fofuchismos familiares. A vida e as pessoas são o que são. Às vezes geniais, às vezes desprezíveis. As consequências e talvez um possível equilíbrio entre essas duas coisas geram a excentricidade particular dos seres humanos, algo que no caso de Tenenbaums se torna uma sessão de quase duas horas de alumbramento artístico, humor e diversão, ou seja, uma obra-prima inesquecível de Wes Anderson.
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3º Lugar: O Fantástico Sr. Raposo
Fantastic Mr. Fox, 2009
Usando, como de hábito, cores em tons pasteis, muita simetria, movimentos verticais e horizontais de câmera e uma excelente trilha sonora de Alexandre Desplat cirurgicamente inserida na narrativa, Wes Anderson triunfa mais uma vez. Sua animação stop-motion, bem simples, rústica mesmo, completamente diferente das extremamente sofisticadas animações do já citado Henry Selick, nos leva de volta a tempos mais simples também, além de permitir a Wes Anderson a obtenção de ótimos efeitos que passam com perfeição os temas de tentação, a luta contra a própria natureza, a adrenalina da aventura e, finalmente, a responsabilidade. Em muitos momentos parece que estamos assistindo àqueles antigos cartoons dos Looney Tunes ou Tom e Jerry e a sensação é muito agradável, nostálgica mesmo.
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2º Lugar: Moonrise Kingdom
2012
O que um bisturi na mão de Ivo Pitanguy, um piano aos dedos de Mozart, um carro de corrida sob o controle de Ayrton Senna e uma câmera à frente de Wes Anderson têm em comum? A resposta é simples: são instrumentos de precisão para fazer mágica. O tradicional trabalho de câmera do texano Wes Anderson, mesmo quando está dirigindo um desenho animado em stop motion (sugiro fortemente que vejam O Fantástico Sr. Raposo, se já não viram) é de tirar o fôlego de tão belo. Em Moonrise Kingdom, ele talvez tenha alcançado o auge da precisão, ainda que eu espere que não e ele consiga continuar se superando a cada nova fita.
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1º Lugar: O Grande Hotel Budapeste
The Grand Budapest Hotel, 2014
Dândis, ricos esnobes, visões de sexo e sexualidade, bizarrice, amor e desamor perpassam o tempo e influenciam pessoas e personagens. Cada indivíduo e cada tempo tem uma história para contar e lega ao mundo uma história. Uma história que no final das contas será enterrada junto com seus atores e escritores (a cena final do nosso filme) em um cemitério sem graça e lida em livros finos como se fossem eventos de isopor de uma época onde tudo era bonito, colorido e bizarro demais pra ser verdade. Exatamente como será a memória do que hoje somos em pelo menos um século. Exatamente como as caricaturas vivas de Wes Anderson em O Grande Hotel Budapeste.