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Crítica | Pantera Negra: Mundo de Wakanda (2017)

por Luiz Santiago
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A minissérie Mundo de Wakanda (2017) é dividida em duas partes, com duas “histórias de origem” sendo contadas. A primeira é focada em Ayo e Aneka, as futuras Anjos da Meia-Noite. O arco delas ocupa as cinco primeiras edições deste volume, começando antes da primeira edição de Uma Nação Sob Nossos Pés e terminando após o ataque ao Grande Monte, evento que dará início ao motim em Wakanda. Já a edição #6, intitulada A Morte do Tigre Branco, é focada em Kevin Cole, com quem T’Challa e o próprio manto do Pantera Negra tem uma história pregressa.

Passando pelas mãos de diversos autores e diversos artistas, Mundo de Wakanda não sofre de grande disparidade na qualidade estética, porque todos os artistas fazem no mínimo um bom trabalho, sendo o maior destaque nos desenhos do primeiro arco a produção de Afua Richardson, que infelizmente tem pouco tempo para mostrar seu trabalho, mas faz da história de Zenzi uma excelente jornada de uma garota que cresceu dentro de um ambiente onde “o país ao lado” era sempre glorioso e o país dela (Niganda), sempre a “promessa de dias melhores”. Isso sem contar a rixa histórica entre Wakanda e Niganda pelos Campos de Alkama, território fértil que o país pobre diz que lhe foi tomado por gerações passadas de wakandanos, deixando os vizinhos na miséria e enriquecendo e prosperando porque agora tinham terras aráveis.

Já na trama da última edição, a excelente arte de Joe Bennett, com finalização de Roberto Poggi, aproveita muito bem o contraste da cor branca do uniforme de Kasper e o faz destacar-se de maneira muito bonita no ambiente, mantendo o mesmo padrão quando o personagem chega a Wakanda. É uma pena que a história dessa revista seja parcialmente confusa. Mesmo para leitores que já conhecem o personagem, falta uma interação que não dependa tanto da memória. O texto faz muito mais sugestões a “acontecimentos passados” do que mostra o pensamento ou real status do personagem nesse Universo. E aqui não quero dar a impressão de que estou cobrando um aparato didático do roteiro. Nada disso. Mas se nas primeiras 10 páginas, Kasper estivesse melhor envolvido em narrações OBJETIVAS, seria mais fácil compreender seu momento atual, sua relação com T’Challa nesse ponto e sua relutância em atender ao chamado do velho amigo africano.

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Tigre Branco chega a Wakanda e T’Challa tem um convite bastante especial para ele…

Mas é o primeiro arco que carrega os maiores problemas da minissérie. A história de como as Dora Milaje se rebelaram e mais ou menos deixaram de ser as Dora Milaje que foram concebidas para ser. E talvez possamos começar do questionamento mais simples relacionado a este roteiro: por que é tão fácil para um grupo de grandes guerreiras passar por cima de anos e anos de organização político-militar de um país como Wakanda? É inacreditável que os roteiristas tenham apressado a virada de comportamento apenas para algo chocante, uma posição das mulheres contra o Pantera Negra. A coisa é tão patética que chega um momento da narrativa em que uma das Dora afirma que “não servem mais a T’Challa“, o que é uma bobagem imensa.

Mudanças podem ser muito bem-vindas nos quadrinhos, inclusive mudanças na essência/história de um grupo ou personagem. Tomemos as próprias Dora Milaje como exemplo. Quando surgiram nos quadrinhos, elas eram, além de protetoras do Pantera Negra, um séquito de mulheres fortemente treinadas e educadas para possivelmente serem escolhidas como esposas do rei. Politicamente falando, foi uma forma que Wakanda encontrou para reunir jovens guerreiras de todas as tribos do país em um só lugar, na capital, servindo ao rei e à família real. Desse modo, descontentamentos seriam aplacados, porque todos teriam suas filhas integrando o governo de alguma forma. Em um novo formato, a prática do “escolher esposas a partir das Dora Milaje” caiu por terra e o grupo ficou sendo “apenas” um dos pilares da segurança pessoal da Corte. Mas o que acontece quando um roteiro dá um passo maior que a perna e coloca essas guerreiras recusando-se a servir ao rei porque não concordam com sua política externa? O que elas têm a ver com assuntos de Estado?

No começo, somos apresentados a uma sessão de iniciação de garotas que acabam de chegar Upanga, o centro de treinamento das Dora Milaje. Desse primeiro encontro destacam-se Ayo e Aneka, que protagonizarão eventos bastante complicados neste volume e na série que cronologicamente vem depois desta. Durante a maior parte do tempo, o roteiro tenta desenvolver o amor entre as duas Dora e criar uma animosidade política que nunca se completa e quase anula a intenção geral da trama, que é mostrar, por outro ângulo, como Wakanda chegou ao motim de Uma Nação… e como as mulheres foram aos poucos se colocando em uma posição de questionamento e desafio diante do rei.

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O que aconteceu antes de Uma Nação Sob Nossos Pés

Mas se tem algo que a minissérie faz muito bem é mostrar eventos ligados à ação de Namor, que afogou parte de Wakanda durante Vingadores vs X-Men. E também trazer alguns quadros sobre a invasão de Thanos e da Ordem Negra a Wakanda, em Infinity. Se faltava algo para complicar as relações interpessoais da família real com as Dora, essas invasões e as mortes subsequentes servem de catalisadores. Aos poucos, os problemas pessoais, as diversas denúncias de abuso sexual a mulheres e corrupção em vilas de Wakanda fazem com que as guerreiras voltem seus olhos para o povo. É nesse momento que o roteiro começa a fazer sentido, porque dá um passo atrás na bobagem de “não vamos servir a T’Challa” e deixa claro que “servirão de olhos abertos“, assim como também irão ajudar o povo. Um novo paradigma surge para este poderoso Exército.

O que impede que o leitor aproveite a maior parte da jornada é a forma abrupta como as cosias acontecem, algumas declarações que não fazem sentido político dentro do juramento das Dora Milaje e uma chateante história de amor entre Ayo e Aneka, que deveria estar apenas em terceiro plano mas que, infelizmente, ganha destaque máximo depois da segunda edição. É nesta minissérie, porém, que começam alguns novos caminhos para o país do Pantera Negra. E mesmo com muitos problemas no desenvolvimento do roteiro, é muito bom acompanhar de perto os bastidores dos rebeldes e o nascimento de algumas ideias que causarão um grande reboliço no país, num futuro próximo.

Black Panther: World of Wakanda #1 – 6 (EUA, janeiro a junho de 2017)
Roteiro: Roxane Gay, Ta-Nehisi Coates, Yona Harvey, Rembert Browne
Arte: Alitha Martinez, Joe Bennett, Afua Richardson
Arte-final: Alitha Martinez, Roberto Poggi
Cores: Rachelle Rosenberg, Tamra Bonvillain
Letras: Joe Sabino
Capas: Afua Richardson, Rahzzah
Editoria: Wil Moss, Chris Robinson, Tom Brevoort
24 páginas (cada edição)

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