– Contém spoilers do episódio. Leiam, aqui, as nossas outras críticas da série.
Apesar de ter trazido bem-vindas revelações para essa sétima temporada de American Horror Story, o capítulo anterior, 11/9, quebrou um pouco da estrutura narrativa estabelecida até então, tirando o foco de Ally e o colocando em Kai Anderson e seus seguidores. Holes, então, vem como continuação direta, mantendo a mesma premissa, porém dosando melhor o tempo em tela dos personagens, usufruindo um pouco menos de flashbacks, que fragmentam o episódio. Com ainda mais twists, a série foge do típico terror “para dar sustos” e segue por uma via mais realista (em termos) e psicológica.
Beverly Hope, interpretada pela ótima Adina Porter, continua ganhando seu devido destaque, fortalecendo-se como a “número um” dos seguidores de Kai, podendo até ultrapassar isso, visto que, aos poucos, ela parece controlar as ações do líder do grupo e o choro do personagem ao fim pode significar que ela passará a enxergá-lo como alguém mais fraco do que ela esperava – mera suposição, claro. Desde cedo é ela quem dita as ações desse culto durante o capítulo, incentivando a morte de seu chefe e a eliminação do elo mais fraco da gangue, aspecto que, evidentemente, gera ainda maior instabilidade, já que Ivy claramente não sabia no que estava se metendo.
O roteiro de Crystal Liu segue por uma via consideravelmente mais linear que a do capítulo anterior, controlando nossas expectativas e inserindo alguns bem-vindos twists que alteram, por completo, nossa percepção do quadro geral da temporada. A temática de isolamento de Ally ganha ainda mais força, ao passo que tanto sua (ex) esposa e psiquiatra estão relacionados a Kai e a revelação desse fato pode acabar por destruir o frágil solo no qual a personagem se sustenta – resta apenas saber se ela irá se entregar à posição de vítima ou, de alguma forma, combater esse culto, cuja influência parece se alastrar a cada semana.
Por outro lado, com tanto sendo mostrado ao espectador antes mesmo da metade da temporada, inevitavelmente passamos a nos perguntar o que será feito na segunda metade. O medo em si já não existe mais, foi substituído pelo desconforto, tanto atmosférico quanto visual, algo sentido claramente na história dos pais de Kai ou a própria morte do chefe de Beverly – sequência que até utiliza a linguagem clássica de filmes de terror, com personagens aparecendo subitamente em tela, mas sem provocar a mesma tensão, já que o ponto de vista é justamente o dos assassinos e não da vítima.
Dessa forma, parece que o que Ryan Murphy e Brad Falchuk buscam construir aqui não é o velho clima de horror e sim o retrato de uma sociedade deturbada, problemática e insana, com líderes perigosos e psicologicamente instáveis – aspecto que, claro, dialoga com o nosso próprio cenário político (não apenas do Brasil ou Estados Unidos). A visão política de cada um se transforma em culto a personalidades ou ideologias, não muito diferente do que vemos crescendo, em ritmo assustador, em nossa realidade – garantindo, pois, o subtítulo da temporada.
Com certas ressalvas, relacionadas ao futuro desse ano de American Horror Story, somos deixados com o episódio mais sólido dessa temporada, que sabe alternar entre os focos de maneira fluida, jamais se distanciando da linha narrativa principal. Com pouquíssimas subtramas, todas diretamente conectadas com o culto de Kai, há de ser louvada a concisa trama de Cult, ainda que ela possa, claro, nos decepcionar mais adiante, caso não tenha mais por onde ir e fique apenas repetindo os mesmos elementos semana após semana.
American Horror Story – 7X05: Holes — EUA, 3 de outubro de 2017
Showrunner: Ryan Murphy, Brad Falchuk
Direção: Maggie Kiley
Roteiro: Crystal Liu
Elenco: Sarah Paulson, Evan Peters, Cheyenne Jackson, Billie Lourd, Alison Pill, John Carroll Lynch, Billy Eichner, Leslie Grossman, Cooper Dodson, Jorge-Luis Pallo, Zack Ward, Adina Porter
Duração: 51 min.