O terror é um gênero cinematográfico que, constantemente, precisa se reinventar. O que assustava as pessoas há dez, vinte, trinta anos atrás não necessariamente irá surtir o mesmo efeito no espectador da atualidade. Em razão disso, ao longo da história dos filmes de horror vimos obras que brincam com nossas expectativas, misturando doses de comédia com os ocasionais sustos, como é o caso de Arraste-me para o Inferno e O Segredo da Cabana. Pesadelo Mortal – Amityville 3, também conhecido como Amityville III: O Demônio faz algo parecido, mas de maneira não-intencional, criando uma paródia de si mesmo e da própria franquia, que traz mais risadas do que medo efetivamente.
A trama se passa após os eventos dos dois primeiros longa-metragens e nos apresenta a John Baxter (Tony Roberts), um repórter especializado em desmascarar charlatões que alegam conversar com espíritos ou possuírem casas mal-assombradas. Após sua mais recente revelação, envolvendo um casal que morava na famosa casa em Amityville, Baxter acaba comprando a propriedade, logo descartando a ideia dela ser possuída pelo demônio ou algo assim. O que não esperava é que, uma a uma, as pessoas à sua volta seriam afetadas pela entidade presente naquele lugar.
Desde cedo o roteiro de William Wales – sendo essa a única obra assinada pelo roteirista – brinca com a metalinguagem, dialogando com a própria maneira como esses filmes de espíritos é filmada. O grande problema não é a premissa do filme em si e sim a maneira como ela é executada. Para começar, temos a velha história de sempre, de alguém se mudando para uma “casa endemoniada”, descobrindo, aos poucos, a real natureza daquele lugar. Wales não foge nem um pouco do óbvio e a brincadeira nos minutos iniciais vai embora, dando lugar a uma sucessão de eventos ridículos, marcados pela estupidez e praticamente todos os personagens.
Bom exemplo disso é a morte do corretor de imóveis, logo no início da projeção. Atacado por uma legião de moscas, ele simplesmente permanece colado na parede, sequer tentando escapar do quarto cuja porta fechara sozinha. Em seguida temos o protagonista vendo esses mesmo corretor caído no chão, pedindo, com as mãos, em seus últimos momentos, ajuda. O que o personagem principal faz? Absolutamente nada, fica apenas parado observando o sujeito como uma múmia, sem qualquer expressão – característica que, aliás, se mantém durante todo o filme, com o ator sendo incapaz de demonstrar qualquer emoção mesmo quando a filha de seu personagem morre – esse ponto, por sinal, é bastante sintomático na obra, visto que o roteiro simplesmente ignora a morte de diversos personagens.
Enquanto o protagonista mantém-se no marasmo de sempre, outros personagens não fazem o mesmo. Seu total oposto é Melanie (Candy Clark), colega jornalista, que entrega momentos de pura histeria enquanto grita aos quatro ventos de forma desesperada, proporcionando outra dose de risadas ao espectador – estranhamente, ela decide se conter um pouco mais quando está à beira da morte. Outros pontos que explodem qualquer limite do ridículo também estão presentes no filme, como quando o protagonista está dentro de um elevador em queda e ele automaticamente cola no teto, como se fosse atraído por um imã gigante. E não irei nem entrar em detalhes sobre a caracterização de certa criatura, que mais parece o meme “rage guy” do que um demônio de fato.
Amityville 3, portanto, é um filme que nos diverte e muito, mas não como terror e sim comédia. Com roteiro tenebroso, repleto de situações ridículas e atuações terríveis, essa obra mais do que prova que essa franquia precisava ser exorcizada, mandada de volta para o Inferno junto com o meme, digo, monstro presente nessa história. Evidente que, assim como a casa, essa assombração de franquia não iria embora tão fácil, rendendo mais quinze outros longa-metragens, que, só de pensar, sentimos arrepios.
Pesadelo Mortal – Amityville 3 (Amityville 3-D) — EUA, 1983
Direção: Richard Fleischer
Roteiro: William Wales
Elenco: Tony Roberts, Tess Harper, Robert Joy, Candy Clark, John Beal, Leora Dana, John Harkins, Lori Loughlin, Meg Ryan
Duração: 90 min.